Vencedor do Prémio Cervantes em 2019, Margarit só veio a receber o galardão em dezembro do ano passado, das mãos dos reis de Espanha, que se deslocaram a Barcelona de forma privada para fazer a entrega numa cerimónia – impossível de realizar em abril de 2020 - de caráter “íntimo e familiar”.

Antes, Joan Margarit, nascido em Lérida em 1938, havia sido também galardoado com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana e com os prémios Nacional de Poesia, Rosalía de Castro e Jaume Fuster, entre outros.

A obra poética de Joan Margarit, "de profunda transcendência e sempre inovadora linguagem lúcida, enriqueceu tanto a língua espanhola como a catalã, e representa a pluralidade da cultura peninsular numa dimensão universal de grande domínio", sustentou o júri do Prémio Cervantes, aquando do anúncio do mais importante prémio da língua espanhola.

Poeta de palavras que soam em espanhol e catalão, Joan Margarit foi arquiteto de formação, que usou os versos para transmitir o seu pensamento, vida e ética em poemas que são odes à beleza das relações humanas.

Um poeta que se caracterizou pela sua defesa pública do catalão, "a única língua ou uma das poucas línguas cultas sem Estado" que existem, como salientou, em 2019, quando depositou o seu legado na Caixa das Letras do Instituto Cervantes.

"Eu sou um poeta catalão, mas também um poeta espanhol”, disse Joan Margarit, depois de lembrar que a ditadura lhe impôs o espanhol "com pontapés". Mas "não vou devolvê-lo agora", acrescentou.

Este escritor, que levava meses para terminar os seus poemas, começou a escrever em espanhol, mas a partir de 1981 começou a publicar apenas em catalão e desde o final dos anos 1990 publicou simultaneamente em ambas as línguas.

Joan Margarit estudou arquitetura em Barcelona, entre 1956 e 1961, tendo começado a sua atividade literária no final dos anos 50, mas só se tornou conhecido como poeta em espanhol entre 1963 e 1965.

Como arquiteto, tornou-se também um dos mais relevantes no exercício da profissão nesses anos em Espanha, tendo assinado trabalhos como o Estádio Olímpico e o Anel de Montjuïc (1989), e colaborado em outros como as obras do emblemático templo católico Sagrada Família, desenhado pelo arquiteto catalão Antoni Gaudí.

Em Portugal foram publicados dois livros do autor: “Misteriosamente feliz: uma antologia”, pela Língua Morta (2015), e “Casa da Misericórdia”, pela editora Ovni (2007).

As reações à morte de Margarit vieram desde a Casa Real espanhola ao Governo, passando por múltiplas figuras das letras.

O presidente do Governo, Pedro Sánchez, lamentou a morte de Joan Margarit classificando-o como “um arquiteto das palavras”, enquanto a presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau, desejou ao “poeta querido” que “descanse em paz”.