O projeto é uma parceria entre o município e o grupo Leirena Teatro, que nos últimos cinco meses encenou os sete grupos de teatro amador do concelho para apresentarem este verão episódios do antes, durante e depois da revolução de Abril.

“Claro que vai haver um grupo que tem o dia 25 de abril”, notou o diretor do Leirena, Frédéric da Cruz Pires, mas, exemplificou, “há um grupo que está a trabalhar sobre o cabo de comunicações que foi colocado à noite por Lisboa, tudo feito à socapa, e outro espetáculo é relacionado com o 16 de março [levantamento das Caldas da Rainha]”, e assim sucessivamente, “por ordem cronológica”, até culminar numa peça dedicada à Assembleia Constituinte.

Segundo o diretor artístico do festival, “cada espetáculo vive por si”, mas também “será interessante que uma pessoa possa assistir a todos os espetáculos”.

“De repente, temos aqui uma mistura entre festival de teatro, um teatro pedagógico, um teatro de intervenção, um teatro enquanto processo de mediação”, sublinhou Frédéric da Cruz Pires.

Envolvendo uma centena de atores amadores no conjunto dos sete grupos, o festival revela-se um encontro geracional, com gente nova a conhecer episódios do 25 de Abril e da história de Portugal daquele tempo através do testemunho dos mais velhos.

“Temos grupos com pessoas que tiveram [à época] uma postura de intervenção, temos pessoas que foram soldados, militares que estiveram na Guiné e em Angola”, explicou.

Para esses agora atores amadores de Porto de Mós, ser possível falar do que se passou há meio século “é muito importante”.

“Há muita gente que tem muito para dizer e que guardou durante muitos anos uma mágoa, uma opinião, um pensamento ou até mesmo as próprias emoções e os sentimentos que têm dentro de si e que querem pôr para fora”, realçou o diretor artístico.

O Festival de Teatro de Rua de Porto de Mós revela-se, por isso, “uma troca”, notou Frédéric Pires, porque “o encenador propõe, escuta, joga com o elenco, vê o que o elenco propõe”, até se encontrar “uma reciprocidade entre as partes”.

“E esta questão de quem foi militar poder partilhar é ouro sobre azul, é um conhecimento que se partilha e isso é fundamental. É por isso que o Festival Teatro de Rua é mediação, é intervenção, é pedagogia, um trabalho para a comunidade”, concluiu.

Sempre na Praça da República de Porto de Mós, às 21h30, o festival arranca no sábado com “A sombra”, pelo Teatr’ambu, de São Jorge e, no domingo, o grupo “Um par de cinco”, de Mira de Aire, encena “O povo está com o MFA”.

No fim de semana seguinte, “Os miúdos da serra”, de Alqueidão da Serra, interpretam “O rastilho” no dia 28 de julho, o Trûpego, de Porto de Mós, vai a palco no dia 29 com “Espertina - no final de 72, e o JuncaTeatro, do Juncal, conta a história “Por detrás das armas”, no dia 30.

O Festival de Teatro de Rua de Porto de Mós termina com “Operação fim regime”, do Teatro Olaré, de Serro Ventoso, a 4 de agosto, e “Assembleia Constituinte”, pelo Mendigal, da Mendiga, a 5 de agosto.

Também em Porto de Mós e igualmente integrado nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a companhia Leirena está a desenvolver a peça “Ondas da liberdade”. O espetáculo explora a importância da rádio na revolução e tem estreia marcada para abril de 2024.