À margem da cerimónia na Fundação José Saramago, em Lisboa, Afonso Reis Cabral disse que escrever este livro “foi particularmente duro e difícil”, tendo-se dedicado a tempo inteiro a essa missão, razão pela qual abandonou o seu cargo de editor.

“Depois punha a mão na consciência e pensava: ‘Não importa que seja particularmente duro para mim, importante é que isto fique bem escrito’”, contou.

O escritor afirmou-se “muito contente por ter recebido um prémio que foi pensado por José Saramago” e por ter lido todos os romances vencedores das edições anteriores.

“É uma alegria agora o meu livro estar entre os livros dos outros”, destacou.

No discurso de agradecimento, Reis Cabral disse mesmo sentir “uma alegria de criança”, por ser distinguido com o prémio.

Afonso Reis Cabral vence o Prémio José Saramago com o romance

Sublinhando que o seu compromisso é com a literatura, o autor disse que tem já estruturado um novo romance, no qual irá trabalhar “em breve, durante cerca de um ano”, sem adiantar pormenores.

A morte de Amália Rodrigues, há 20 anos, levou Reis Cabral a escrever, como disse hoje.

Começou pela poesia, mas é a ficção o que lhe dá mais prazer, disse.

“Conhecia Amália como fadista, mas nunca a tinha ouvido realmente, e ouvir aqueles grandes poetas pela voz única e bela da Amália, despertou-me para a poesia”, disse.

O autor dedicou o prémio a uma amiga sua, Ariana Mascarenhas, que foi a primeira pessoa a quem mostrou as primeiras páginas deste romance.

Aos jornalistas explicou que, estando ela então hospitalizada, foi “de uma grande generosidade”, ter dado parte do seu já pouco tempo à leitura da sua obra.

“Pão de Açúcar” foi editado no ano passado, e aborda um caso verídico que aconteceu no Porto, o assassinato da transexual Gisberta, em 2006, depois de sucessivos atos de violência e na sequência de um ataque, perpetrado por jovens entre os 12 e os 16 anos, à guarda da instituição católica Oficina de São José.

Na opinião de Ana Paula Tavares, um dos membros do júri, o romance de Afonso Reis Cabral, “lido com o espesso e confuso mundo da memória [e narrado na primeira pessoa] retira do esquecimento acontecimentos que os jornais e os relatórios da Polícia tinham tratado de forma redutora e parcial, com silêncios e omissões que o autor se propõe aqui revelar”.

"Romance compassivo, mas nunca sentimental, ‘Pão de Açúcar’ é de uma parcimónia exemplar no que respeita à linguagem pela imagística, sobretudo face à dramaticidade comovente dos envolvimentos humanos da sua estória", salientou outro jurado, o catedrático Manuel Frias Martins, sublinhando tratar-se de "um grande romance de um jovem autor de quem a literatura portuguesa se deve desde já orgulhar".