A Proto é, por enquanto, um grupo informal, com cerca de 50 associados, que se vai constituir como associação, mas que optou por “fazer o caminho ao contrário” e começar primeiro a trabalhar antes de se registar, explicou à Lusa a porta-voz Aldara Bizarro.

No fundo, “a associação ainda está a ser criada”, acrescentou.

Enquanto associação informal, está a dar os primeiros passos e quer trabalhar com crianças e jovens e comunidades específicas, como é o caso de coletividades de dança tradicional, mulheres que vivem confinadas por alguma razão, ou refugiados, exemplificou.

“Muitas vezes recorremos à prática artística para trabalhar com determinados grupos. A arte serve também para aproximar o que fazemos do público, aproximar-nos daquela população, abrir portas a pessoas que por alguma razão estão excluídas. Vemos a questão não só do lado de quem faz, e que ficou sem trabalho, mas também de quem precisa de fruir”.

Nesse sentido, a pandemia veio dar o empurrão necessário para o projeto arrancar, já que a estratégia, em si, vinha sendo delineada desde 2019, fruto de encontros de várias associações, que sentiam que havia um recuo no investimento que é feito nos departamentos que trabalham com estes públicos diferenciados.

É o caso, por exemplo, dos serviços educativos ou das entidades que fazem a ponte entre o trabalho artístico e as escolas, as associações e as coletividades, e que “têm um financiamento mais baixo e mais inseguro para os colaboradores”.

"Sentimos que era necessário definir estratégias que articulassem as áreas da arte e da educação, e que era preciso criar uma associação que reunisse pessoas que trabalhassem nessa área - como artistas e mediadores de arte -, mas fomos deixando andar, fomos empurrando as coisas para a frente", contou a coreógrafa.

O aparecimento da pandemia, no início de 2020, veio “iluminar problemas que existiam” não só no campo da cultura, mas na criação de condições para fazer este trabalho, “neste grupo mais fragilizado”, e nas pessoas que com eles trabalham.

A primeira ação no terreno da Associação Proto acontece no sábado à tarde e será a estreia daquilo que chama “conversas Proto-matinés”, em que são convidadas pessoas de diversas áreas e diversos pontos do país para uma “conversa descontraída, em que se trocam opiniões e se procuram soluções para um futuro que é muito incerto”.

Nesta primeira “Proto-matiné”, que será virtual, participam Ana Bela Conceição, professora e coordenadora regional do Plano Nacional das Artes na região do Algarve; Emanuel Sancho, diretor do Museu do Trajo, em São Brás de Alportel; Rafaela Santos, atriz, encenadora e cofundadora da Amarelo Silvestre, grupo de teatro em Canas de Senhorim ; António Jorge Gonçalves, desenhador; Ana Lúcia Figueiredo, programadora cultural na Fundação Lapa do Lobo, também em Canas de Senhorim; Alberto Reis Goes, ilustrador e professor do 1.º ciclo no Agrupamento de Escolas de Nuno Gonçalves, em Lisboa; e Susana Menezes, diretora artística do LU.CA Teatro Luís de Camões, igualmente em Lisboa.

Aldara Bizarro, que vai moderar a conversa, juntamente com Susana Alves, mediadora cultural do espaço Lugar Específico, sublinhou a preocupação de reunir pessoas um pouco de todo o país, e não só dos grandes epicentros.

Em concreto, a Proto pretende a constituição de serviços educativos com orçamento próprio e equiparado aos outros tipos de programação em todos os equipamentos culturais públicos do país, a criação de uma linha de financiamento específico para atividades que articulem a arte e a educação, bem como a criação da categoria profissional do mediador cultural, artístico e educativo, com o respetivo enquadramento jurídico, fiscal e administrativo que permita a estes trabalhadores serem igualmente elegíveis para os apoios específicos para a cultura.

Além disso, defende a inclusão e a continuidade de atividades artísticas nas escolas ou promovidas pelas escolas em tempos de pandemia, recorrendo para isso, quando for totalmente impossível a presença física, às ferramentas digitais utilizadas no ensino formal.

A razão para a escolha da palavra Proto para designar a associação tem a ver com o serem “uma coisa pequena que antecede”, explicou a porta-voz.

“Somos os primeiros que chegam e que estão antes de as coisas acontecerem, trabalhamos em coisas que às vezes não se chegam a ver”.