"No Lazareto de Lisboa" é um “pequenino memorial” às impressões que o seu autor sentiu quando, “ao pousar o pé no torrão natal, no momento de estender os braços à imagem querida da pátria, em vez de ser apertado pelos braços amigos”, foi “apertado pelos guardas de saúde e metido no Lazareto”, conta o próprio Bordalo no inicio desse opúsculo.

Publicado originalmente em 1881 e editado pela última vez em 2003, pela Frenesi, “No Lazareto de Lisboa” regressa às livrarias -fruto de uma parceria entre a PIM! e o Museu Bordalo Pinheiro -, numa altura em que a população se confronta com situações de quarentena forçadas devido à pandemia.

Em 1879, após quatro anos no Brasil, e com o encerramento de O Besouro – jornal humorístico e satírico da sua autoria -, Rafael Bordalo Pinheiro regressou de paquete a Portugal.

Ao chegar a Lisboa, após vinte dias de viagem, foi obrigado a ficar em quarentena no Lazareto, um edifício em Porto Brandão, na margem sul do Tejo, que era isolado e se destinava a acolher e a desinfetar pessoas e objetos vindos de lugares ameaçados por epidemias ou doenças contagiosas.

Neste caso, o perigo era a propagação da febre amarela e o artista teve de se submeter a um período de isolamento, durante o qual tomou “apontamentos”, profusamente ilustrados com os seus desenhos, que evocam peripécias vividas no Brasil, a viagem de barco, a sua Lisboa, e registam, com humor, os dias de penitência no edifício do Lazareto.

A atual edição – que se encontra à venda na editora, na feira do livro e no Museu Bordalo Pinheiro – recupera a original, com ortografia atualizada e algumas notas de contextualização no fim do volume, de modo a interferir o mínimo possível com o grafismo original.

Nos dias de hoje, “No Lazareto de Lisboa” pode ser olhado quase como uma diário gráfico, em que as cenas são mais retratadas do que relatadas, em que cada página é composta por diversas ilustrações acompanhadas de uma pequena legenda, que contam - ou caricaturam - a história e os acontecimentos.

Outra atualidade deste livro tem a ver com o paralelo estabelecido pelos tempos de pandemia que se vive.

A própria editora dá nota disso mesmo numa introdução à obra: “O que dificilmente se podia imaginar era que, passados 140 anos, além de não perder a graça, o livrinho recuperasse a pertinência, embora com as devidas distâncias. Previdente aviso, o de Bordalo Pinheiro: ‘ninguém pode dizer deste Lazareto não beberei’”.