No livro "Serving the Servant: Remembering Kurt Cobain", lançado esta semana para marcar o aniversário, assinalado esta sexta-feira, da morte aos 27 anos do cantor nascido em Seattle, Goldberg recorda um Kurt Cobain "que estava à frente do seu tempo" e como a sua "genialidade e humanidade brilharam através de uma personalidade melancólica e sombria".

"A sua imagem na imprensa ficou um pouco distorcida e concentrou-se de maneira desproporcional na sua morte, não tanto na sua vida e na sua arte", opina Goldberg.

"Foi um cantor incrivelmente comovente, a sua voz transmitia uma vulnerabilidade e uma intimidade raras", completa.

Goldberg considera que Cobain "se sintonizou com algo que ajudava as pessoas a sentir que eram menos 'estranhas', menos solitárias".

É sobretudo por isso que a sua obra continua a ser relevante, principalmente para adolescentes que vivem num mundo diferente da angustiante costa do noroeste do Pacífico, onde nasceu Cobain.

"Integra um grupo de artistas com uma obra que transcende o seu tempo", explica o empresário.

O culto a Kurt 

O depressivo e singular artista que cresceu numa região a duas horas de Seattle tornou-se um 'deus' do rock quando "Nevermind", o segundo dos três álbuns de estúdio dos Nirvana, catapultou subitamente a banda de rock alternativo a uma fama estratosférica e iniciou o culto a Kurt.

Serving the Servant: Remembering Kurt Cobain

Goldberg conheceu o guitarrista Cobain em 1990, quando os Nirvana ainda não eram muito famosos e esperavam ter mais sucesso com a sua mescla de punk, metal e melodias inspiradas nos Beatles.

"Nevermind" conseguiu precisamente isso e tornou-se um dos álbuns de maior sucesso de todos os tempos, superando Michael Jackson nas tabelas de vendas norte-americanas e desviando o rumo da cultura pop: os Nirvana inspiraram não apenas a música, mas também a moda e o comportamento dos adolescentes.

Nos três anos e meio que trabalhou com Cobain, Goldberg foi testemunha do salto dos Nirvana rumo à fama, da selvagem mas carinhosa relação do artista com a cantora Courtney Love e das tentativas de intervenção para que abandonasse o vício em heroína.

"Não tenho ideia do que provocou as últimas semanas de desespero de Kurt", escreve Goldberg no livro. "Talvez tenha sido uma intensa cristalização das depressões que o atormentavam há muito tempo".

"É melhor queimar do que desaparecer", escreveu Cobain numa carta encontrada ao lado do seu corpo, uma citação de um tema de Neil Young.

"Génio musical" 

O ex-manager dos Nirvana, "que Cobain considerava um segundo pai", enfatiza que por trás do consumo de drogas e da depressão havia "um génio musical".

Também era um tonto romântico, lembra Goldberg, ao mencionar que o cantor e compositor tinha quatro cópias de "The Chipmunks Sing the Beatles Hits", álbum em que as personagens do desenho "Alvin e os Esquilos" cantavam as canções dos "Fab Four" de Liverpool.

O cabelo louro e desgrenhado de Cobain, os olhos claros e o famoso casaco castanho esfarrapado davam um ar preguiçoso ao artista, mas Goldberg assegura que isto escondia um "intelecto altamente sofisticado".

Nirvana - Nevermind

"Sempre soube que havia uma profundidade na energia e nos sentimentos que usava, era mais profundo do que apenas um grande refrão, embora tenha escrito grandes refrães.

O empresário dá crédito a Cobain pela defesa das mulheres e por ajudar a "redefinir a masculinidade" no mundo da música.

"Podia ser muito poderoso e convincente e, ao mesmo tempo, sensível e carinhoso. Isto quebrava a ortodoxia do rock da época", opina Goldberg, que recorda um concerto na Argentina no qual Cobain ficou enfurecido com as vaias à banda de abertura Calamity Jane, formada apenas por mulheres. A vingança do líder do Nirvana foi não tocar o êxito "Smells Like Teen Spirit".

"O público não merecia", disse o cantor.

"Ele estava comprometido com um ideal feminino e o respeito por todos, uma espécie de ethos antimachista", recorda Goldberg, que também destaca o compromisso de Cobain com a defesa dos direitos dos homossexuais.

"Tinha uma versão verdadeiramente alternativa do que significava ser uma estrela de rock", completa.

Os Nirvana terminaram com a morte de Cobain, mas ecos da sua breve vida ainda persistem e colocam-no numa lista de grandes ícones musicais como Bruce Springsteen, o falecido John Lennon ou Bob Dylan, segundo Goldberg.

O empresário e autor não deseja especular sobre o que Kurt Cobain estaria a fazer se estivesse vivo, mas afirma que certamente seria algo inovador, pois "estava sempre a evoluir, não se limitava a copiar-se a si mesmo".