Este ano, no Rio de Janeiro, aquele que é apelidado pelos promotores como o maior festival de música do mundo terá um palco todo em branco, em alumínio e ferro. Parte dele já está a chegar e de Portugal partem quase diariamente mais contentores com a estrutura.
É feito pela metalúrgica de Sintra, uma pequena oficina familiar de 500 metros quadrados, e por outra de Freamunde, Paços de Ferreira, esta uma grande empresa (Irmarfer), que exporta para vários países e ocupa uma área de 40.000 metros quadrados.
A Metalúrgica Frontal, mas essencialmente a Irmarfer são as principais responsáveis pela notória presença lusa no festival do Brasil. Eurico João, o português que no Rio de Janeiro está a coordenar a montagem dos palcos, diz à Lusa: “Arriscaria que 50% das operações estão nas mãos de portugueses”.
É o palco secundário, é a tenda Vip e é essencialmente o palco principal, 80 toneladas a atravessar o atlântico para serem depois montadas, como um enorme “jogo de legos”, como diz Eurico João.
Já a trabalhar no Rio para a próxima edição do festival de setembro, Eurico não esconde o orgulho e a curiosidade de ver o palco principal em funcionamento, pelo qual vão passar nomes como Lady Gaga, Maroon5, Justin Timberlake, Aerosmith ou Guns N´Roses.
Porque é um palco cenograficamente com algumas novidades mas tecnicamente muito inovador, com mais capacidade de carga (algumas bandas têm equipamentos muito pesados), mais leve (no passado pesava 300 toneladas) e mais fácil de montar, e com mais qualidade, “proporcionando mais conforto a técnicos e artistas”.
“Hoje temos capacidade de carga na cobertura de quase 50 toneladas, antes tínhamos 25”, exemplifica o responsável, que diz ver com orgulho tanta presença portuguesa na iniciativa.
Uma presença, neste caso, com 88 metros de frente e 22 de profundidade. “É a primeira vez que evoluímos para o palco do mundo”, diz à Lusa o presidente da Irmarfer, Ivo Silva, lembrando que a empresa, no entanto, tem feito outras grandes estruturas do festival, como fez 60% das estruturas temporárias dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (incluindo a maior tenda do mundo), como está a fazer agora uma estrutura de 7.000 metros quadrados, em Lima, Peru, para um festival “Cirque du Soleil”.
E para o festival de setembro, os palcos e a tenda vip, é também “em grande”. Para lá já foram 15 técnicos para a montagem. Para lá já seguiram também as estruturas feitas em Sintra, na pequena oficina de Paulo Martinho.
Foram 154 peças de quatro por dois metros, que igualmente se vão montar como num jogo de lego. Paulo vai partir para o Brasil no início de julho, onde irá passar três semanas, e volta em setembro para desmontar.
Para trás ficaram já dois meses de trabalho dos cinco membros da empresa, “escondida” numa zona industrial em Alcolombal de Cima, Terrugem, a cinco quilómetros de Sintra.
Diz Paulo Martinho que a Frontal também foi convidada para fazer o cenário do palco do festival de música de Paredes de Coura, e lembra outros trabalhos que vão fazendo, alguns, vários, para a Suíça.
“Começámos a fazer mais trabalhos para eventos”, diz o responsável à Lusa, recordando os primeiros tempos da empresa, os trabalhos apenas de construção civil, a sobrevivência quando muitas outras fecharam. “Nós fomo-nos aguentando, é preciso gostar um bocadinho do que se faz”.
Criou a Frontal com o irmão em 1988, depois de ter, também com o irmão, trabalhado durante três anos em Guantánamo, a base naval norte-americana em Cuba, que alberga uma prisão militar.
Com a Frontal e o Rock in Rio acabaria por voltar a território norte-americano, Las Vegas, mas também viajaria para o Brasil e Espanha, porque já montou parte do palco principal do festival uma dúzia de vezes.
Prepara-se para o voltar a fazer, depois de ter enviado os contentores com 12 toneladas de chapa, 20.000 parafusos e outros materiais, mais de 20 toneladas ao todo.
E agora, a carga pronta e metida nos contentores, que as luzes, a música e a festa façam brilhar o trabalho dos portugueses no maior palco do maior festival do mundo.
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