Ao abrigo de uma bolsa de Formação em Artes no Estrangeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, a artista portuguesa, a viver há quatro anos em Berlim, revela que este trabalho se trata de uma “pesquisa para uma videoinstalação em curso”, constituída por “três momentos” que, no conjunto, farão um filme.
Cada capítulo é gravado em colaboração com um músico e com as suas próprias interpretações de saudade.
O projeto terminará com uma exposição final em março.
“Pretende ser uma sugestão, uma provocação, de que, se calhar, as saudades não são bem só nossas. Não são bem só portuguesas. E também como uma sugestão de que estes existencialismos também vêm associados a uma ideia de nação que precisa de ser posta um bocadinho em causa”, sublinhou Rita de Matos, em declarações à agência Lusa.
A artista portuguesa admite que “qualquer coisa que faça artisticamente neste momento é necessariamente também fruto das experiências que tem passado em Berlim”, mas este trabalho teve origem numa interrogação prévia.
“Quais são os contornos destes dogmas históricos e culturais, e destes panos de fundo da nossa identidade que acabam por moldar o espaço que temos para nos relacionarmos uns com os outros em sociedade e democracia, que, por virtude de estarmos e vivermos num país, não nos apercebemos?”, questionou.
Ao longo dos três segmentos é possível acompanhar a “evolução da construção, ou da desconstrução” deste filme e da saudade.
“Gostava de pensar que este trabalho tem algo a oferecer a toda a gente, mas também há qualquer coisa muito particular no contexto português, nomeadamente na forma como falamos de país, de nação, de cultura (…) que choca, em alguns pontos, um bocadinho, com o tipo de discurso que existe na Alemanha”, apontou Rita de Matos.
“Também foi por isso que quis enquadrar a exposição como uma pesquisa aberta, uma pesquisa para a qual o público está convidado a participar, e ter estes vários momentos e estas conversas, porque também quero ver o que posso aprender, e o que podemos aprender nesse diálogo”, revelou.
“Saudades Sem Dono”, nesta fase, fica patente na Galeria Camões Berlim, até 01 de setembro.
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