Em 1977, em Glasgow, Charlie Burchill e Jim Kerr juntaram-se para fazer música. Um ano depois nasceram os Simple Minds. Com quase 40 anos de estrada, a banda continua a correr mundo e, tal como pediu em 1984, na canção "Don't You (Forget About Me)", os fãs não se esqueceram deles. E esta quarta-feira, 3 de maio, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e na quinta-feira no Coliseu do Porto, o grupo promete fazer uma viagem pelos temas mais marcantes.

Em jeito de antevisão aos concertos em Portugal, o vocalista dos Simple Minds, Jim Kerr, conversou com o SAPO Mag sobre a longa história do grupo. "Tenho muitas recordações do início da banda. Seria impossível contar todas nestes minutos que temos para conversar", começa por gracejar o músico. "São quase 40 anos mas lembro-me do entusiasmo, do nervosismo. Foi um grande período para a música punk. Todos estavam a tentar fazer algo e também queríamos fazer parte, fazer algo bom e em que acreditássemos", acrescentou.

"Dar-nos dinheiro para fazer um álbum? É incrível. Ir tocar à América e ouvir as tuas canções na rádio? É tipo 'wow'", frisa o músico. Mas os pequenos momentos e os amigos que se foram fazendo também marcaram, ajudando a criar a própria identidade, admite Jim Kerr.

Os Simple Minds foram conquistando terreno passo a passo. Depois de sete álbuns - "Life in a Day" (1979), "Real to Real Cacophony" (1979), "Empires and Dance" (1980), "Sons and Fascination/Sister Feelings Call" (1981), "New Gold Dream" (1982), "Sparkle in the Rain" (1984) e "Once Upon a Time" (1985) - é que chegou o grande sucesso, pelo qual ficariam conhecidos por todos e até aos dias de hoje. "Como toda a gente sabe, 'Don't You (Forget about me)', foi feita para o filme 'O Clube' ('The Breakfast Club') e eles queriam mesmo que os Simple Minds fizessem a canção. Mas não dissemos 'sim' imediatamente, pensámos que era algo demasiado à americana. Mas gostámos das pessoas envolvidas, do realizador, do produtor... E, como gostamos deles, decidimos tentar e fizemos tudo muito rápido", revela Jim Kerr, explicando ainda acabou a canção com um "la la la" porque não tinha mais letra para o instrumental.

"Foi número um do top, o Mickael Jackson era número dois. E esse tipo de coisa são coisas loucas", frisa o músico.

E, tal como pedem em "Don't You (Forget about me)", ninguém se esqueceu do tema, nem da banda que nas últimas quatro décadas tem corrido o mundo. Esta semana, Jim Kerr e companhia aterram em Lisboa e no Porto, no âmbito da digressão acústica que já passou por Espanha, Alemanha, Austrália, Itália, Holanda, França e Reino Unido, por exemplo. "A melhor parte de fazer uma digressão é ver o público feliz. Quando sobes a palco e tocas a primeira nota, as pessoas ficam loucas e felizes por te verem. Não consigo explicar o quão incrível é. Imagina que antes de vestires o teu casaco e ires para o trabalho, toda a gente te aplaude. É ótimo. É maravilhoso", explica o músico e fundador dos Simple Minds.

Mas, no final de cada concerto, também há momentos que marcam Jim Kerr. "Também há bons momentos no fim da noite, claro. Tens uns minutos em que te sentes bem e orgulhoso", conta, acrescentando que depois "tudo se repete dia após dia". "Tens de o fazer todas as noites e é um grande privilégio, mas também é uma grande responsabilidade", sublinha.

"Acho que esta será a última vez que vamos fazer isto"

Sobre os concertos em Lisboa e no Porto, o cantor admite que não pode revelar muito. "Não posso dizer o que podem esperar. Só posso dizer o que não esperar. É uma digressão acústica. Para mim, há um problema com o formato acústico porque as pessoas imaginam uns tipos sentados no palco, uns candeeiros. É bonito mas é chato. Mas não vai ser nada disso", garante ao SAPO Mag. "As pessoas vão cantar, dançar e saltar. Vai ser poderoso e dramático. Vamos cantar grandes temas e vamos ter surpresas", acrescenta.

Com quase 40 anos de estrada e com mais de uma mão cheia de discos, a despedida dos palcos pode estar para breve. "São concertos autênticos e, certamente, únicos porque acho que esta será a última vez que vamos fazer isto. Não estou certo que voltaremos a fazer isto novamente. É alvo especial", revela o cantor.

Mesmo com um possível adeus à vista, a música continuará na vida de Jim Kerr, tal como sempre. "A música é a minha vida. A minha identidade. Nasci com este talento, acho eu", frisa o vocalista, acrescentando que foi aprendendo tudo sozinho, sem ajuda de professores.

Nos últimos 40 anos, os Simple Minds marcaram a história da música, que se tem reinventado a cada ano. Para Jim Kerr, o futuro pode ser complicado, mas ao mesmo tempo bom. "Há uma grande discussão sobre os serviços de streaming e as suas políticas. É uma coisa boa porque divulga a tua música no mundo e tudo começa com isso. Toda a gente pode ouvir e isso é bom", frisa, lembrando que o consumo de música online "matou a velha indústria". "Agora não precisas de ir à televisão ou à rádio para ser famoso", remata.