Numa nota divulgada no seu 'site', o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE), que organizou um encontro este sábado com alguns profissionais da área, afirma querer "um esclarecimento público do Municipal do Porto”.

"Exige-se que haja um esclarecimento público do Teatro Municipal do Porto/Ágora - Cultura e Desporto do Porto, sobre todos os casos, pois neste encontro chegaram-nos mais testemunhos de outras situações reveladoras de comportamentos abusivos", salienta o sindicato.

Os sindicalistas acrescentam não ter havido, até ao momento, "qualquer desmentido, retratação ou pedido de desculpas", mas sim, o reconhecimento "de um deles [casos], como se ingerência fosse um procedimento normal, inevitável e inócuo".

O encontro, que visou "auscultar os profissionais da cultura sobre as consequências destes casos", juntou mais de 50 atores, produtores, diretores de companhias de teatro e técnicos do audiovisual que "reprovaram a atuação" do Teatro Municipal do Porto.

"Todos manifestaram que as competências de um diretor artístico não devem interferir nos processos e nas decisões artísticas dos responsáveis pelos projetos que integram a (sua) programação do teatro municipal, tal como as competências de um executivo camarário, ou de um presidente da câmara, ou um vereador da cultura (que no Porto são desempenhados pela mesma pessoa) não devem interferir no decurso do trabalho de um diretor artístico de um equipamento municipal", defendem.

E acrescentam, "a par desta exigência, estes profissionais querem também a garantia de que estes episódios não se repitam".

Para os sindicalistas, só a "separação de poderes e competência" permitirá a "independência de todos os intervenientes".

A missiva indica ainda que os artistas afirmaram ter "dificuldade" em aceder aos equipamentos culturais municipais, que "devem servir a comunidade local e artística", apelando, nesse sentido, a uma política cultural local "eficaz e transparente".

O CENA-STE adianta ter em vista a criação de "um manual de boas práticas" que, posteriormente, será enviado para o Teatro Municipal do Porto e extensível a outros teatros do país, por forma a "melhorar a relação entre profissionais e direcção artística, onde predomina a ausência de respostas às propostas enviadas".

No dia 3 de fevereiro, Regina Guimarães acusou a direção do Teatro Municipal do Porto (TMP) de ter censurado um texto da sua autoria no qual criticava a noção de cidade líquida de Paulo Cunha e Silva, ex-vereador que morreu em 2015.

O texto foi escrito para integrar a folha de sala - que não chegou a existir - do espetáculo TURISMO, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia que subiu ao palco nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

Posteriormente, a 10 de fevereiro, o presidente da Câmara do Porto reiterou a sua total confiança no diretor do TMP, que tinha sido acusado de censurar o texto de Regina Guimarães, sublinhando que sempre entendeu que o texto devia ter sido publicado.

O voto de confiança de Rui Moreira, que acumula o pelouro da Cultura desde que Paulo Cunha e Silva morreu em 2015, foi anunciado no início de uma reunião de executivo municipal, depois de um encontro informal e privado onde foi ouvido o diretor do TMP, Tiago Guedes.

A 20 de fevereiro, Regina Magalhães adiantava à Lusa ter-se demitido do Conselho Municipal de Cultura da Câmara do Porto, decisão relacionada com uma "dessemelhança de conceções", que comunicou por carta ao presidente da autarquia.