No início da semana, um juiz do Tribunal de Justiça do estado brasileiro do Rio de Janeiro determinou que a Porta dos Fundos e a Netflix deixassem de exibir o especial de Natal “A Primeira Tentação de Cristo”. A decisão provisória respondia a um pedido da Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura e foi tomada pelo magistrado Benedicto Abicair.

Esta quinta-feira, dia 9 de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF), por meio do juiz Dias Toffoli, derrubou a decisão provisória da Justiça do Rio de Janeiro de tirar do ar o especial de Natal da produtora Porta dos Fundos.

Para Toffoli, a sua decisão "não se trata de um descuido em relação à fé cristã (nem em relação a outras religiões ou a ausência delas)". "No entanto, não se pode supor que uma sátira tenha a capacidade de debilitar os valores da fé cristã, cuja existência remonta mais de dois mil anos e que está interiorizada na crença da maioria dos cidadãos brasileiros" acrescentou.

Na quinta-feira de manhã, a plataforma de streaming Netflix tinha recorrido à Supremo Tribunal brasileira sobre a decisão do desembargador Benedicto Abicair. Até ao momento, a produtora Porta dos Fundos não se pronunciou sobre a decisão.

Antes da decisão do Supremo Tribunal Federal, o grupo frisou oficialmente ser "contra qualquer acto de censura, violência, ilegalidade, autoritarismo".

Em comunicado oficial, a Netflix sublinhou o seu apoio à "expressão artística" e informou que iria "lutar para defender esse importante princípio, que é o coração de grandes histórias".

A 3 de dezembro, a produtora do grupo humorístico Porta dos Fundos lançou o especial de Natal "A Primeira Tentação de Cristo" no qual Jesus é representado como um jovem que terá tido uma experiência homossexual e também insinua que o casal bíblico Maria e José viveram um triângulo amoroso com Deus.

A sátira, de 46 minutos, protagonizada pelos humoristas brasileiros Gregorio Duvivier e Fábio Porchat, não agradou a grupos religiosos, que criticaram a temática.

Foi também lançada uma petição contra o filme, com mais de dois milhões de assinaturas de pessoas que consideram que a obra "ofende gravemente os cristãos".

Na madrugada de 24 de dezembro, na véspera de Natal, a sede da Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, foi alvo de um atentado que não provocou vítimas.

Numa nota, a produtora condenou "todos os atos de violência" e afirmou esperar que "os responsáveis por este ataque sejam encontrados e punidos".

O incidente foi filmado pelas câmaras de vigilância, tendo as imagens sido entregues às autoridades.

Eduardo Fauzi Richard Cerquise, um dos suspeitos de participar do ataque à produtora do Porta dos Fundos, já foi identificado pelas autoridades brasileiras embora se encontre na Rússia.

O suspeito fazia parte da Frente Integralista Brasileira (FIB), um dos principais grupos nacionalistas e de extrema-direita do Brasil, e que se define como defensora dos valores cristãos, da propriedade privada e da família.