Na véspera do Dia Mundial do Teatro, que se celebra este sábado, os responsáveis do Centro Dramático de Évora (Cendrev) e da Baal 17 admitiram à agência Lusa que não têm “nada preparado” para assinalar a data, e acrescentaram que nem sequer retomarão os espetáculos antes de junho e julho, respetivamente.

No Cendrev, o regresso deverá coincidir com a Bienal de Marionetas de Évora, entre 1 e 6 de junho, apontou José Russo, enquanto em Serpa a Baal 17 só deverá colocar o festival Noites na Nora “nas ruas da cidade” durante o mês seguinte, adiantou Rui Ramos.

Isto apesar de o plano de desconfinamento apresentado este mês pelo Governo permitir a reabertura de "cinemas, teatros, auditórios, salas de espetáculos" em 19 de abril.

A Bienal de Marionetas de Évora deverá ainda coincidir com a reabertura do Teatro Garcia de Resende, edifício do século XIX, no centro histórico da cidade, que tem estado a sofrer obras de recuperação nos últimos meses.

No entanto, devido às restrições de viagens, o cartaz do festival de marionetas será, este ano, composto apenas companhias nacionais, abrindo a temporada que prevê incluir uma coprodução com A Escola da Noite, de Coimbra, da peça "A Floresta dos Enganos", de Gil Vicente.

A estreia da última obra do dramaturgo português dos séculos XV e XVI está prevista para dezembro.

Mas antes, em julho, as duas companhias deverão fazer uma apresentação da "Embarcação do Inferno", uma adaptação do "Auto da Barca do Inferno", num festival em Espanha, e farão a reposição da peça no Teatro Garcia de Resende, em outubro e novembro, em Évora.

O centro eborense foi “uma das companhias que não teve financiamento” da DGArtes no último ano, embora estivesse entre as estruturas elegíveis para apoio, porque “o dinheiro para esse concurso não chegou” para financiar todos os projetos e, por esse motivo, os trabalhadores estão “no desemprego”, justificou José Russo, em declarações à agência Lusa.

“[O Cendrev] foi uma das várias companhias que, tendo visto os seus projetos aprovados e com boas classificações, não tiveram financiamento porque este foi insuficiente”, explicou.

Dos “milhões prometidos recentemente para a cultura”, ainda “não chegou nada”, lamentou o diretor, e os trabalhadores do setor, onde “a maioria dos trabalhadores são precários”, estão a viver “situações muito complicadas”.

“No caso do Cendrev, sempre foi uma companhia que prezou muito a relação com os trabalhadores e por isso tinha-os nos quadros. Nesta circunstância, está a permitir que possam aceder ao subsídio de desemprego, o que não acontece com a maioria dos trabalhadores da cultura”, revelou José Russo.

O responsável da companhia eborense diz mesmo ter conhecimento de “gente que prepara cabazes” de alimentos e os entrega aos colegas do setor para que estes possam “dar de comer aos filhos”, além da quantidade de trabalhadores que “foram procurar, noutros setores de atividade, a sua migalha de pão”.

“Os atores também são gente, também têm de pagar as despesas, a água, a luz, levar os filhos à escola e comer”, desabafou.

Também a Baal 17, de Serpa, no distrito de Beja, só tem previsto retomar as apresentações no verão, nomeadamente em julho, apesar de ter “a vida facilitada por contar com os apoios” da DGArtes.

Ao contrário do Cendrev, a companhia do Baixo Alentejo retomou recentemente os ensaios, após dois meses de confinamento absoluto devido às medidas de combate à pandemia de COVID-19.

Ainda assim, o diretor Rui Ramos revelou à agência Lusa que, neste momento, “não há nenhum espetáculo programado” antes de julho, momento em que pretende levar para as ruas da cidade o festival Noites na Nora.

“No ano passado, acabámos por abrir o festival à cidade, por causa das regras de confinamento. À partida, este ano acontece novamente ao ar livre, e terá a duração de três semanas”, adiantou o diretor da Baal 17.

Para além disso, a Baal 17 desenvolve “um programa relacionado com a educação” com várias escolas secundárias, ao abrigo de uma candidatura que ganhou no ano passado e que prevê “130 sessões por videoconferência” com alunos de escolas secundárias de todo o país.

Criado pelo Instituto Internacional do Teatro, no âmbito da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), para a promoção direta das artes de palco, o Dia Mundial do Teatro celebra-se a 27 de março e foi assinalado pela primeira vez em 1962, com uma mensagem do dramaturgo francês Jean Cocteau.

Este ano, a mensagem internacional é assinada pela atriz britânica Helen Mirren, que elogia a “resiliência dos profissionais das artes e a capacidade de sobreviverem à pandemia com sagacidade e coragem”.