Editado pela Tinta-da-China, “Tempo de Dádivas. Uma Viagem a Pé” chega às livrarias no dia 28 de fevereiro, mais de 40 anos após a sua publicação original.

Em dezembro de 1933, um rapaz de 18 anos partiu de Londres em direção à Holanda, de onde iniciaria uma viagem a pé até Constantinopla (atual Istambul), e só regressaria a Inglaterra quatro anos depois, em 1937.

Esse rapaz é Patrick Leigh Fermor, conhecido como Paddy, e os seus escritos revelam uma personalidade fora do vulgar, que já foi classificada como uma mistura de Indiana Jones, James Bond e Graham Greene.

“A inveja é o pecado dos escritores, como toda a gente sabe, mas poucos escritores do mundo anglófono levarão a mal a superioridade de Patrick Leigh Fermor enquanto um dos grandes prosadores do nosso tempo. Não tem rivais, portanto está para lá da inveja”, escreve a escritora, jornalista e historiadora Jan Morris, autora britânica de literatura de viagens, no início da introdução ao livro.

A escritora, considera que o género literário que Patrick Leigh Fermor cultiva “é difícil de definir”, pois embora seja classificado como escritor de viagens, é mais do que isso, uma vez que, embora o tema dos seus livros se baseie em experiências de viagem, “ele também é memorialista, historiador, conhecedor de arte e de arquitetura, poeta, humorista, contador de histórias, cronista social, além de ter algo de místico, sendo um dos aventureiros de Deus”.

“Estes diferentes talentos revelaram-se pela primeira vez em todo o seu esplendor em ‘Tempos de Dádivas’, publicado em 1977, tinha o autor sessenta e dois anos”, acrescenta a autora de "Manhattan 45", evocação de Nova Iorque no final da II Guerra Mundial, e de "Hav", uma cidade possível no Mediterrâneo oriental.

Aos 17 anos, Patrick Leigh Fermor abandonou o ensino formal na King’s School e pouco tempo depois desembarcou de um vapor, na Costa Holandesa, preparando-se para percorrer a Europa até à atual Istambul.

“Descrevia-se como um estudioso errante. Viajava sozinho e estava disposto a dormir em qualquer sítio, a falar com qualquer pessoa, a sobreviver com quase nada, comendo e bebendo qualquer coisa, a experimentar todas as línguas, a fazer amizade com estranhos, ricos ou pobres, e a enfrentar o pior que o calor e o frio, os contratempos e as bolhas, a burocracia, os preconceitos e a política conseguissem arranjar”.

“Imbuído deste espírito”, prossegue Morris, “Paddy Leigh Fermor percorreu o continente europeu num momento funesto da História, já que pisou a Alemanha pela primeira vez em 1933”, o ano em que Hitler chegou ao poder.

Durante a sua viagem foi fazendo anotações num caderno, que mais tarde usaria como base para o livro, mas mediadas já pelo conhecimento e experiencia de vida que adquiriu ao longo dos 40 anos em que estas suas memórias estiveram adormecidas.

Desse percurso conta-se um episódio acontecido em 1942, quando, na altura à frente de um grupo de resistência – depois de se ter alistado no exército britânico no início da II Guerra Mundial -, raptou um general alemão na Creta ocupada.

Fazendo nota da peculiaridade da personalidade de Patrick Leigh Fermor, Jan Morris conta que, já com o general Heinrich Kreipe feito prisioneiro numa gruta, os dois trocaram odes horacianas enquanto espreitavam da entrada da gruta para o monte Ida.

“A aventura de 1942 em Creta permeia a narrativa de 1933 porque claramente permeia o pensamento do autor em 1977”, afirma Jan Morris, para explicar que “um dos encantos” deste livro é o facto de a viagem ser na realidade evocada por duas pessoas: o jovem despreocupado que realizou a viagem e a registou na memória e nos diários, e o autor com vasta experiência que, “compreendendo e conhecendo melhor a História quarenta anos depois, a transformou em arte”.

Para a escritora, “Tempo de Dádivas” é um livro “sem precedentes”, porque não segue qualquer convenção, e as obras minimamente comparáveis são “Eothen”, de Alexander William Kinglake, ou “A Estrada para Oxiana”, de Robert Byron.

Mas, como nota a autora, não refletem simultaneamente o amadurecimento de um raciocínio e a situação de um continente, além de que “nem Kinglake nem Byron raptaram generais”.

Na opinião de Jan Morris, “o poder de atração essencial desta personagem, tão fresca e cheia de esperança, em contraste com a majestade condenada de um continente ancestral, torna ‘Tempo de Dádivas’ uma obra única nas letras inglesas”.

“É um livro de culto, assombroso, prodigiosamente talentoso, mas também inocente. De que outra obra se pode dizer o mesmo?”, conclui a escritora.

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