“Um dia de cada vez – Sugestões, ideias e instruções para quem está fechado em casa” começou por ser uma parceria digital entre David Machado e Paulo Galindro na rede social Facebook, e juntou mais de sete mil seguidores que foram sugerindo a criação de um livro para os mais novos.
Na quinta-feira, dia 7, lançaram um apelo de financiamento coletivo (‘crowdfunding’) de três mil euros para uma edição de autor de 500 exemplares e no próprio dia superaram o valor pedido.
“Nunca me passou pela cabeça fazer um ‘crowdfunding’, mas pensei ‘não vou ficar parado’ e se for possível fazer o livro já e ter algum rendimento é incrível”, disse David Machado.
Em menos de uma semana, já tinham sido angariados mais de 8500 euros que servirão para custear a produção, aumentar a tiragem e pagar aos autores, estando a edição aprazada para finais de junho.
“O nosso objetivo inicial foi largamente ultrapassado. Prova que não tínhamos noção de que isto ia chegar tão longe, mas deixa-me mesmo orgulhoso. Tivemos propostas de editoras, mas não queria esperar que retomassem os seus planos editoriais”, afirmou.
“Um dia de cada vez – Sugestões, ideias e instruções para quem está fechado em casa” surgiu de forma espontânea no Facebook, com pequenos textos de David Machado que foram sendo ilustrados por Paulo Galindro, ilustrador com quem já tinha trabalhado.
“Fomos publicando regularmente, quase todos os dias. Queríamos estar próximos dos leitores, combater esta inércia criativa, em que toda a gente pareceu ficar atulhada”, recordou.
Apesar de partir da pandemia da COVID-19 que obrigou milhares de portugueses a ficarem em casa, David Machado sublinha que não há nada nos textos que faça referência a vírus e doenças.
“Tentei sempre que os textos pudessem ser lidos daqui a cinco ou seis anos, num fim de semana de chuva. São coisas poéticas, à volta da imaginação, são ideias que levam a uma introspeção, que nos põe a refletir sobre o que é estar sozinho, fechado. São ideias que nos apontam mais para a liberdade do pensamento e da imaginação do que propriamente para trabalhos manuais ou bricolagem”, explicou.
Enquanto autor, David Machado também tem estado mais tempo em casa, com a família, viu cancelada uma agenda preenchida de encontros com leitores, oficinas de escrita, feiras do livro, festivais e não sabe quando será retomada a normalidade.
“Apesar de tudo o que estamos a viver, eu consegui continuar a escrever, a chegar aos leitores, e sem grande plano consegui tirar algum rendimento da atividade. Fico mesmo contente de ter conseguido contornar toda a situação que afetou a sociedade e o setor dos livros em particular”, disse.
David Machado diz-se admirado por não terem surgido muitos mais projetos como o que ele fez com Paulo Galindro.
“Faz-me impressão que isto tenha mesmo parado tudo. Isto é uma época em que, de repente, podíamos quebrar com uma série de hábitos há décadas, mas não é o que está a acontecer. Percebo que as editoras têm medo e que é difícil quebrar com costumes e vícios de trabalho, de executar as coisas, mas se é preciso, é preciso”, sublinhou.
David Machado, 41 anos autor de contos, romances e livros ilustrados para a infância, tem atualmente em mãos um novo romance que poderá ser permeável às novas rotinas e apreensão da realidade, por causa da COVID-19.
“Tem mais a ver com o que não me apetece escrever e com o que me apetece ler e ver na televisão. Apetece-se ver, ler escrever coisas que sejam muito banais, do quotidiano. Não me apetece ver filmes com enredos muito elaborados, coisas extraordinárias, fantasia ou distopias. Porque a época que estamos a vier já parece tão estranha e distópica, não me apetece que a ficção seja isso também”, disse.
“A Educação dos Gafanhotos”, “Índice Médio de Felicidade”, “Não te Afastes”, “O Tubarão na Banheira”, “Histórias Possíveis” e “A Noite dos Animais Inventados” são alguns dos títulos já publicados por David Machado.
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