No dia em que celebram mais um aniversário, o primeiro desde a morte do guitarrista Zé Pedro, os Xutos & Pontapés confirmaram através do Facebook que vão continuar a gravar canções e em digressão.

"Hoje é um bom dia para olharmos para a frente. Os Xutos vão continuar. Temos entre mãos as músicas novas, muitas delas com a guitarra do Zé já gravada, estamos a contar com o disco de originais neste ano", escreveu o grupo nas redes sociais, acrescentando que serão realizadas homenagens especiais a Zé Pedro.

"Com a ajuda de todos a gente não vai parar"

"Temos alguns convites para actuações especiais de homenagem ao Zé Pedro. Temos vários pedidos para concertos que vamos aceitar. Não é fácil, a ausência pesa toneladas, sabemos que vai ser diferente, esperamos que seja bom. Com a ajuda de todos a gente não vai parar", frisam os Xutos & Pontapés.

Este sábado, 13 de janeiro, dia em que deram o primeiro concerto nos Alunos de Apolo, em Lisboa, em 1979, os Xutos & Pontapés festejam 39 anos de carreira.

O concerto em Albufeira na noite de fim de ano foi o primeiro da banda depois da morte de Zé Pedro. O guitarrista e fundador dos Xutos & Pontapés morreu a 30 de novembro, aos 61 anos. O músico faleceu depois de complicações decorrentes da Hepatite C de que sofria há mais de 15 anos na sua casa, em Lisboa.

Zé Pedro estava doente há vários meses, mas a situação foi sempre mantida de forma discreta pelo grupo, tendo só sido assumida publicamente em novembro, no final do concerto de fim de digressão dos Xutos & Pontapés, no Coliseu de Lisboa.

Cerca de 70 mil pessoas assistiram ao primeiro concerto dos Xutos e Pontapés sem Zé Pedro
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Antes do último concerto, a 4 de novembro, Tim revelou, segundo a Blitz, que os Xutos estavam a preparar um novo disco. "Já estamos a trabalhar em algumas coisas. Eu gostei muito de fazer o 'Puro' [2014] e o próximo será muito na linha desse. Também não sabemos fazer diferente. Já temos um tema chamado 'Duro' e um outro do João Cabeleira que já está gravado", contou.

"Sementes do Impossível" e "Mar de Outono" são dois dos temas já conhecidos do próximo disco da banda.

Zé Pedro: Um embaixador do rock

Nascido em Lisboa a 14 de setembro de 1956, José Pedro Amaro dos Santos Reis, desde sempre conhecido como Zé Pedro, viveu até aos seis anos em Timor, consequência da profissão do pai, militar de carreira. A paixão do pai pela música passou para o rapaz, que cresceu a ouvir discos num giradiscos da Telefunken que o pai comprara na Guiné.

Zé Pedro, guitarrista dos Xutos e Pontapés

Mas o grande momento de viragem com cerca de 20 anos, em 1977, quando Zé Pedro fez um interrail pela Europa, e assistiu em França ao festival de punk de Mont-de-Marsan, convertendo-se a partir daí à ideologia e à estetica do punk, que começava então a emergir em Portugal.

Em 1978, com a ideia de transpôr essa expressão para o nosso país, juntou-se ao seu amigo Zé Leonel e colocou um anúncio no jornal na secção declassificados: “Baterista e baixista precisam-se para grupo punk”.

Entre os vários que responderam contavam-se Tim e Kalu, nascendo aí os Xutos & Pontapés, com uma primeira formação de quatro elementos com Leonel como vocalista, Zé Pedro na guitarra, Tim no baixo e Kalu na bateria, e estreia a 13 de janeiro de 1979 na sala Alunos de Apolo, numa noite de celebração do rock n'roll e de despedida dos Faíscas. Na altura ainda não tinham a legião de fãs de hoje e estavam longe de saber que se tornariam numa das mais resistentes bandas do rock português.

Zé Leonel sairá logo em 1981, abrindo espaço a Tim para a função de vocalista, Francis integra a banda entre 1981 e 1983, e João Cabeleira entre para o grupo nesse último ano, completando a formação existente até aos dias de hoje.

Desde então até agora, os Xutos & Pontapés gravaram 14 albuns de originais, deram milhares de concertos e criaram centenas de músicas, muitas delas clássicos da canção portuguesa, como "À Minha Maneira", "Para Ti Maria" "Contentores", "Não sou o Único”, "N'América", “Para Sempre e “Mundo ao Contrário”, além de uma muita popular versão do tema “A Minha Casinha” para o mítico álbum “Circo de Feras”, que fez a visibilidade da banda explodir em 1987.

O sucesso foi tão consensual que em 2004, todos os membros do grupo foram agraciados pelo então Presidente da República Jorge Sampaio com o grau de Comendador da Ordem de Mérito.

Xutos e Pontapés ao vivo no Estádio do Restelo, 2009

Em 2007,  é editado o livro "Não Sou o Único", uma biografia de Zé Pedro escrita pela sua irmã, Helena Reis. "Dizem que somos feitos da mesma matéria que as estrelas, que ainda somos seus primos afastados, mas alguns de nós têm um parentesco mais próximo com elas, uma cintilação especial – são eles próprios estrelas. É o caso de Zé Pedro, fundador dos Xutos e Pontapés e uma das mais brilhantes estrelas do rock português. Nestas páginas da autoria da irmã Helena Reis, somos convidados a entrar no mundo de Zé Pedro, dos seus sonhos, das suas paixões", pode ler-se no resumo de apresentação do livro.

Zé Pedro tem um incontornável lugar na história do rock como membro dos Xutos & Pontapés, mas foi sempre muito mais do que isso, servindo de embaixador do rock onde quer que a ocasião se proporcionasse, divulgando bandas como radialista na Rádio Radar, participando em concertos de colegas de todas as proveniências, e mesmo formando bandas exteriores à de origem, como os Ladrões do Tempo, em 2011, Tó Trips e Pedro Gonçalves (dos Dead Combo), Samuel Palitos e Paulo Franco.

A solo, o músico editou o álbum "Convidado: Zé Pedro" (2011), uma soma de parcerias com conhecidos músicos portugueses. O registo reúne canções de artistas com os quais o guitarrista trabalhou, à margem da carreira dos Xutos & Pontapés.