Bowie pertencia à geração londrina dos anos 1960, onde a concorrência era tal que mesmo dois grandes êxitos ("Space Oddity" em 1969 e "Changes" dois anos depois) não lhe permitiram destacar-se.
"Tudo o que ele tentou desde o início da sua carreira falhou", disse à AFP Jerome Soligny, um dos maiores especialistas do mundo sobre o cantor, que morreu em janeiro de 2016.
Mas tinha uma carta a apostar, num momento em que a música disco, a ambiguidade sexual e as roupas extravagantes estavam a começar a ganhar força.
"The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars" foi a forma de Bowie dar um pontapé nessa década prodigiosa que havia caído no langor hippie.
O álbum foi editado a 16 de junho de 1972. "Ziggy Stardust" misturava o rock sujo e de garagem de Iggy Pop, Lou Reed (Bowie conheceu e ajudou os dois artistas) e os cursos de pantomima e teatro que havia feito em Londres.
Magro ao ponto da anorexia, Bowie atuava maquilhado até às orelhas, com cabelos tingidos e roupas extravagantes.
Assim nasceu Ziggy, um alienígena sem sexo definido (ou com todos ao mesmo tempo), uma figura que também era uma homenagem secreta a predecessores como o veterano Vince Taylor, que acreditava ser um deus extraterrestre, ou Legendary Stardust Cowboy, um cantor precursor do psychobilly.
"Não queríamos nada com os anos 1960", lembraria Bowie anos depois. "Decidimos que estávamos no início do século XXI".
"Foi um golpe de marketing, a sua mais bela criação (...) que permitiu que ele se tornasse mais do que um segredo aberto entre os amantes do rock", explica Soligny.
O álbum contém clássicos como "Ziggy Stardust", "Starman" ou "Suffragette City".
Os concertos causavam ainda mais sensação, com o artista a trocar de figurino várias vezes e a interpretar com excentricidade o seu papel de alienígena, correndo o risco de ser vaiado, como aconteceu no início.
Em julho de 1972, foi convidado do programa de televisão da BBC "Top of the Pops". Seguiu-se uma digressão americana de sucesso fenomenal.
E tão rápido como surgiu, aquele alienígena desapareceu da face da Terra.
Durante um concerto em Londres em julho de 1973, Bowie anunciou que Ziggy já não existia.
"Com a ajuda de alguns produtos químicos, borrar a distinção entre a realidade e a criatura que havia criado começou a tornar-se muito fácil", reconheceu o artista.
O cantor conseguiu o estrelato do rock, e agora só precisava de continuar a provar o seu valor, feito mais do que cumprido numa carreira eclética e influente.
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