Assinalando os 15 anos do portal SAPO, a equipa do SAPO TV escolheu alguns dos programas que mais marcaram a última década e meia na televisão portuguesa, que marcaram uma viragem ou introduziram novidades, e que ficaram impressos de forma indelével na memória colectiva.
Contra-Informação (1996) - Apesar de não ter engrenado desde o início (a sua primeira versão, «Cara Chapada», ainda na SIC, foi um «flop»), este programa tornou-se a maior referência na sátira política da televisão portuguesa. Produzido pela Mandala e escrito pelas Produções Fictícias, a «Contra-Informação» deu-nos uma leitura perceptível e hilariante da actualidade política portuguesa através de marionetas que parodiavam as principais figuras do momento, sem medo de fazer vítimas à direita e à esquerda. E os bonecos tornaram-se tão populares (muitas vezes mais que os próprios visados) que muitos dos caricaturados acabaram por querer ser vistos com eles para dar mostras do seu bom sentido de humor e esvaziar um pouco das críticas de que eram alvo. Embora hoje já não tenha o impacto de outrora, um dos maiores feitos da «Contra-Informação» foi o de retirar o cinzentismo da classe política, que pela primeira vez se viu forçada a rir de si própria.
Herman Enciclopédia (1997) - Após um largo período preenchido com concursos televisivos e talk-shows, Herman José regressou em cheio aos programas de humor que lhe conferiram a imortalidade na RTP. E se é verdade que «Herman Enciclopédia» levou tempo a pegar entre o público, na viragem para a segunda temporada era já claro que personagens como Diácono Remédios ou Lauro Dérmio eram tão incontornáveis no imaginário português como antes o tinham sido José Estebes, Tony Silva ou Serafim Saudade. Para tal não terá sido alheio o facto deste ter sido o primeiro programa totalmente de humor de Herman José a ser escrito pelas Produções Fictícias e o maior sucesso do «entertainer» no campo do humor nos últimos 15 anos.
SportTV (1998) - Se no início, muitos se queixavam do preço elevado e questionavam a vontade que os portugueses teriam de pagar de forma suplementar canais «premium», a SportTV veio tirar todas as dúvidas. O preço podia ser alto quando comparado com o de outros canais pagos, mas o amor nacional pelo desporto falou mais alto e a SportTV tornou-se uma absoluta referência, não só no futebol como na restante programação desportiva. E, claro, tornou-se presença incontornável num sem número de restaurantes do país.
Os Sopranos (1999) - Foi o título que deu o pontapé de saída à revolução nas séries de televisão que, de repente, e por via da emergência da televisão por cabo, passaram a tratar temas abertamente adultos, com uma linguagem franca e, principalmente, com uma qualidade verdadeiramente cinematográfica, desde a produção às interpretações. As seis temporadas da saga da família mafiosa encabeçada por Tony Soprano abriram a era de ouro da ficção televisiva norte-americana em que hoje vivemos e provaram que a qualidade na ficção audiovisual não era um exclusivo do cinema. A sua prole não pára de aumentar e a quantidade de clássicos que gera todos os anos é quase inacreditável.
Telefilmes SIC - Amo-te Teresa (2000) - «No cinema, Jean-Luc Godard dizia que os filmes dele tinham princípio, meio e fim, mas não exactamente por essa ordem. Os telefilmes da SIC vão ter princípio, meio e fim, exactamente por essa ordem». Estas foram as palavras de Manuel Fonseca ao anunciar o plano de produção de telefilmes na SIC, que arrancou em 2001 com o grande sucesso que foi «Amo-te Teresa», um drama urbano em que um adolescente Diogo Morgado se apaixonava pela adulta Ana Padrão. Esta tentativa de produção regular de obras de ficção com que o público português se pudesse identificar teve resultados desiguais mas permitiu a vários cineastas treinarem a mão, como Tiago Guedes e Frederico Serra («Facas & Anjos»), Mário Barroso («O Aniversário»), Jorge Queiroga («Amor Perdido»), Luis Galvão Teles («A Noiva»), Fernando Fragata («Pulsação Zero») ou Leonel Vieira («Mustang»).
Big Brother - (2000) - Para o bem e para o mal, foi, porventura, o programa de maior impacto dos últimos 15 anos na televisão portuguesa, e a sua primeira temporada sagrou-se no maior sucesso popular desse período, um verdadeiro fenómeno que não teve paralelo desde a abertura dos canais privados. O «Big Brother» representou a explosão dos «reality shows» em Portugal, em que cidadãos anónimos aceitam trocar a privacidade pela miragem da popularidade, até à data sempre efémera. Este concurso, em que um grupo de participantes se disponibilizava a fechar-se numa casa semanas a fio enquanto câmaras transmitiam para o país a sua vida durante 24 horas por dia, foi o maior catalisador de discussões em torno de conteúdos televisivos da última década e meia, e o seu sucesso empurrou a TVI do terceiro lugar entre o trio de canais em canal aberto para a primeira posição, que desde então quase sempre tem mantido.
Marcelo Rebelo de Sousa (2000) - A fama de comentador acutilante e excepcionalmente inteligente já vinha dos tempos da rádio e da imprensa escrita, mas o comentário semanal na televisão do professor Marcelo Rebelo de Sousa, que arrancou de forma regular no noticiário de domingo da TVI no ano 2000, tornou-o o analista político que todos os portugueses viam e compreendiam, posição que detém até hoje. Com uma capacidade impressionante de descodificar temas complexos e a coragem raríssima em Portugal de conseguir dizer mal do partido a que pertence e bem do adversário (o que lhe dá um suplemento de credibilidade quase único), Rebelo de Sousa consegue fazer o país parar para o ouvir. E das duas vezes que lhe tentaram quartar a liberdade de expressão, conseguiu sempre dar a volta por cima, mudando-se inicialmente para a RTP e regressando depois à TVI. E o público acompanhou-o sempre, o que o torna o «opinion maker» mais querido e temido do país.
SIC Notícias (2001) - Antes de 2001, poucos acreditavam que a televisão portuguesa tivesse espaço para um canal única e exclusivamente dedicado às notícias. A abertura da SIC Notícias veio mudar tudo, com o canal a tornar-se a grande referência de qualidade e rigor no audiovisual português, tanto nos noticiários como nos programas de debates, de que «A Quadratura do Círculo» se tornou incontornável. A provar a viabilidade do projecto, está a criação entretanto de outros dois canais de notícias, a RTPN e a TVI24, que ainda não conseguiram destronar o que os precedeu mas que vieram provar que os portugueses já têm uma sede de notícias capaz de suportar três canais dedicados à informação.
Anjo Selvagem - (2001) - «Todo o Tempo do Mundo», em 1999, relançou a TVI no caminho das telenovelas, desta vez com sucesso, mas o grande êxito nesse campo deu-se verdadeiramente com «Anjo Selvagem», em 2001. A maria-rapaz de boné encarnada por Paula Neves tornou-se uma celebridade nacional e valeu à TVI um dos primeiros super-sucessos da sua história, que deu origem a todo um leque de telenovelas produzidas pelo canal que, apesar de muito criticadas pela crítica pela excesso de melodramatismo e a irregularidade das interpretações, têm sido as que melhor têm sido recebidas pelo grande público.
24 (2001) - Tornou-se talvez a série mais viciante da história da televisão, que tem mantido a popularidade ao longo de oito temporadas apesar de basear num dispositivo que todos pensavam que se esgotaria à primeira: os 24 episódios de uma hora da série correspondem a 24 horas ininterruptas na narrativa. Ou seja, acção passa-se em tempo real, o que torna particularmente dolorosa a espera pelo episódio seguinte. O protagonista Jack Bauer fez ressuscitar a carreira de Kiefer Sutherland, como o agente da lei que não olha a meios para chegar aos seus objectivos, e cujas tribulações têm prendido o planeta à cadeira na última década.
Gato Fedorento (2003) - O quarteto composto por Ricardo Araújo Pereira, José Diogo Quintela, Tiago Dores e Miguel Góis protagonizaram a maior revolução no humor televisivo desde que Herman José criou «O Tal Canal» no início dos anos 80. A SIC Radical acolheu o primeiro programa de sketches do grupo, feito com pouco dinheiro e imensa criatividade, que, a pouco e pouco, se tornou um imenso fenómeno de popularidade, graças ao seu humor inteligente, assente no nonsense e na riqueza da utilização do discurso popular. As quatro temporadas de Gato Fedorento abriram-lhes as portas do horário nobre na SIC e na RTP, onde brilharam com «Diz que é Uma Espécie de Magazine», em que fizeram brilhante uso da caricatura, «Zé Carlos», e «Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios», onde aliaram humor e política com uma acutilância e actualidade como nunca a televisão nacional tinha visto.
Morangos com Açúcar (2003) - Nunca se tinha visto nada assim: uma série de origem portuguesa (embora com forte inspiração brasileira), destinada a um público adolescente, que se revelou um enorme fenómeno de popularidade. Apesar de todas as críticas à fraca qualidade dos jovens actores, «Morangos com Açucar» gerou verdadeiros ídolos entre os adolescentes, tanto em relação aos intérpretes como aos grupos de música que em torno dela se afirmaram. Já vai em sete temporadas e não dá sinais de abrandar, para gáudio dos miúdos e de todas uma indústria de produtos derivados.
Lost - Perdidos (2004) - Já com a idade de ouro da ficção televisiva em andamento, J. J. Abrams criou aquele que talvez tenha sido o seu fenómeno mais popular, o que gerou mais apaixonadas discussões, mais desvairadas explicações e mais delirantes teorias. A história do grupo de sobreviventes de um desastre de avião numa ilha misteriosa apaixonou o mundo e colocou toda a gente a tentar decifrar os vários enigmas que a cada episódio se iam acumulando. E apesar de algumas desistências pelo caminho, «Lost» conseguiu o prodígio de, ao longo das suas seis temporadas, nunca ter deixado de surpreender, mudando de rumo sempre para onde menos se esperava e tornando-se um dos maiores sucessos de sempre na televisão.
A Guerra (2007) - Finalmente, a reflexão televisiva que faltava sobre o maior trauma da sociedade portuguesa da segunda metade do século XX: a guerra colonial. Foram necessários mais de 30 anos para que Portugal conseguisse ter um estudo audiovisual alargado sobre o conflito em África, sem preconceitos em qualquer uma das direcções e mostrando de frente os horrores da guerra que se praticaram em ambos os lados da barricada. Um grande trabalho do jornalista Joaquim Furtado para a RTP e talvez o maior exemplo de serviço público deste período.
Benfica TV (2008) - É o maior clube de Portugal, pelo menos o que tem mais adeptos. Dizem os responsáveis que é mesmo o maior do mundo. Seja como for, dos grandes e pequenos do nosso futebol, foi o primeiro que conseguiu libertar-se do monopólio Sport TV, seguindo o modelo de outros grandes da Europa (Real, Barcelona, Inter, Manchester, Chelsea, etc.) e lançando a Benfica TV em exclusivo no MEO. É só por isso já um caso de sucesso e uma pedrada no charco do futebol português. Não é de ignorar o valor de entretenimento que têm os relatos focados nos comentadores. Quem se segue?
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