No rescaldo da emissão especial de «Príncipes do Nada», o programa da RTP que pretendeu mostrar as carências dos países de expressão portuguesa, Catarina Furtado confessa-se uma mulher realizada, mas insatisfeita. A embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas quer ir mais longe e já está pronta para arrancar com a terceira série do programa.

A gala especial dedicada aos «Príncipes do Nada», a 7 de Março, foi uma noite emotiva?
Foi a realização de um sonho. Esta série teve um impacto muito grande junto da sociedade civil. Vi isso não só através dos bons resultados que teve em termos de audiências, mas também pelos telefonemas que recebemos, os contactos permanentes das pessoas que se mobilizaram e que queriam ajudar determinado projecto. Senti necessidade de dar um retorno, mostrar que as pessoas se mobilizaram e dar uma boa notícia.

A ideia foi também não deixar cair estes projectos no esquecimento...
Muitas vezes o que acontece com estes projectos é que eles são fantásticos, mas têm uma duração limitada. Neste sentido, achei que era importante demonstrar que não compete só aos governos internacionais e nacionais, mas também aos filantropos, às organizações não governamentais (ONGs), a cada um de nós, às empresas, «um por todos e todos por um», conseguir ir um bocadinho mais longe.

Sente que começam a faltar «braços» para ajudar neste projecto?
A noção que tenho é que com este tipo de relatos, e a divulgação destas realidades, as pessoas passam a conhecer o mundo melhor. Há enfermeiros e médicos que me dizem que não sabiam que as mulheres e as crianças viviam em condições tão dramáticas. Acho que ajuda a formar e a «fabricar» cidadãos mais conscientes.

Esta cadeia de solidariedade que o programa gerou correspondeu às suas expectativas?
Superou. Fiz questão de ir bater à porta de cada um dos seis padrinhos e todos foram muito generosos. Quando mostrei a lista de necessidades de cada um dos países nunca pensei que conseguissem cumprir tudo o que era necessário. O dr. Fernando Póvoas deu uma carrinha nova (à CASA), que custa cerca de 30 mil euros. Foi muito generoso. O Rui Costa conseguiu uma série de equipamentos pelo mesmo valor (Timor). Não querendo estar a destacar ninguém, todos deram o que estava ao seu alcance. Aqui foram ajudas a nível financeiro, mas cada um de nós, na nossa área, pode dar o seu contributo.

Como vai ser a terceira série dos «Príncipes do Nada»?
Vai ter muitas viagens, queremos ir para países onde haja gente portuguesa a fazer trabalho nestas áreas. O Haiti já é um desejo antigo, é um dos países onde quero ir. O que é importante é que há portugueses que desconhecemos que estão em organizações internacionais e que estão a fazer um trabalho no terreno extraordinário. A ideia é ir à procura deles e mostrar o que têm feito. Vai ser uma série mais exigente para mim, do ponto de vista físico, porque vou ter de viajar mais, mas estou muito contente com a decisão da RTP. Era o que eu mais queria.

O facto de sua família ter assistido à gala foi importante para si?
Foi uma surpresa. O meu marido (João Reis) é um rapaz que gosta mais de ver tudo através do ecrã, o meu pai (Joaquim Furtado) é igual, a minha mãe (Maria Helena) é uma assídua e pontual espectadora. Mas o facto de a minha irmã (Marta) também ter vindo foi uma grande surpresa.
Confesso que os «Príncipes do Nada» vão para além da minha condição de apresentadora. Estou ali enquanto apresentadora, enquanto pessoa que escreve aqueles textos, que vê aquelas realidades, mas também enquanto embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, enquanto mulher, enquanto mãe... é um grande privilégio poder contar a vida destas pessoas, muitas delas nem sequer têm a noção do seu valor.
Por exemplo, a enfermeira Laura (do Orfanato Acoma, Moçambique) nem sequer tinha bilhete de identidade... isto diz tudo, não é?

(Texto: Inês Costa / Foto: Bruno Raposo)