E se em vez de Steve Rogers tivesse sido a agente Peggy Carter a usar o escudo de Capitão América ou se nos Guardiões da Galáxia o Star-Lord fosse outro? Estas são algumas das perguntas a que responde a nova série animada do Universo Cinematográfico Marvel "E Se...?", que chega esta quarta-feira ao Disney+.
Depois de "Wandavision", "O Falcão e o Soldado do Inverno" e "Loki", "E Se...?" é a quarta série dos Marvel Studios integrada na linha temporal do Universo Cinematográfico Marvel a chegar ao serviço de streaming da Disney. E em vez de imagem real, os criadores optaram por contar a história em animação.
A premissa nasce na banda desenhada com o mesmo título, onde se imaginava o que teria acontecido se apenas uma variante tivesse sido alterada nas histórias dos heróis. Aqui, passamos para os acontecimentos dos filmes Marvel e em cada episódio imagina-se, a partir de um momento fulcral de um dos filmes, o que teria acontecido se tudo tivesse ocorrido de outra forma.
A narrar e a observar os acontecimentos está uma personagem bem conhecida da BD, o Vigia (The Watcher na versão original), aqui interpretado pelo ator Jeffrey Wright, que é a nova adição ao elenco, já que, ainda que com algumas exceções, a grande maioria das vozes das conhecidas personagens do Universo Marvel são interpretadas pelos atores que lhes deram corpo nos filmes, como Samuel L. Jackson, Tom Hiddleston, Josh Brolin ou Chadwick Boseman.
O SAPO Mag esteve à conversa via zoom com o produtor Brad Winderbaum, o realizador Bryan Andrews, a argumentista A.C. Bradley e o ator Jeffrey Wright.
"E Se...?" é por várias vezes comparada pelos seus criadores à série "Twilight Zone", quer pelo facto de ser uma antologia, que pelo facto de ter um narrador, cuja figura faz lembrar a do mítico Rod Serling, que introduzia todos os episódios de "Twilight Zone".
"Nunca sabemos o que vamos ver. Podemos ter um episódio que é uma comédia, um que é dramático e emotivo, outro cheio de ação...Todos nós adoramos cinema, todos os géneros, e isto deu-nos a oportunidade de introduzir um pouco de cada género no Universo Cinematográfico Marvel", explica o realizador Bryan Andrews.
Foi fácil perceber que a série funcionaria melhor em animação do que em imagem real, até por uma questão de orçamento, como explica o produtor Brad Winderbaum: "O conceito seria o de alguma forma de celebração do Universo Marvel e sabíamos que iríamos revisitar personagens, mundos, locais, cenários, adereços e coisas muito específicas que tornariam impossível fazer esta série em 'live action', por isso, tornou-se claro que a animação seria o meio certo para contar a história".
Mas, mesmo em animação, foi preciso encaixar as histórias no conceito de multiverso e em todos os detalhes anteriores que já tínhamos visto nos filmes e séries da Marvel.
"Na animação, demora tanto tempo até que o produto final esteja feito que na verdade começámos a escrever a série em 2018. O meu trabalho foi manter as regras do multiverso simples e flexíveis. E se o conceito partisse de uma escolha, uma alteração que poderia criar um novo universo? E para o Vigia, ele não está a escolher estes universos com base em regras, ele está a escolher a história com que ele se relaciona e a que quer assistir. Tudo foi guiado pelas personagens e não pelas regras do multiverso. Deixo esse trabalho árduo para a malta do 'Loki'", diz a argumentista A.C. Bradley.
Para interpretar o Vigia, a Marvel escolheu o ator Jeffrey Wright ("Westworld", "Anjos na América"), que aqui se estreia nestas lides das adaptações da BD. "O Vigia é descrito na sua primeira aparição na BD como o ser mais dramático em todo o Universo, portanto, ele é um tipo poderoso e observa todos os multiversos e tem um papel semelhante ao do Rod Serling [em "The Twilight Zone"] como narrador, mas também personagem. De um certo ponto de vista, ele é o maior fã da Marvel que existe, a ver tudo aquilo a acontecer, a tentar resistir a envolver-se mas, ao mesmo tempo, a viver através destas personagens, histórias, desta mitologia e a absorver tudo. Acho que os fãs se podem identificar com ele de muitas formas", conta o ator.
O ponto de partida para cada episódio e um episódio especial com o último papel de Chadwick Boseman
Entre tantos acontecimentos que ficaram na memória dos fãs ao longo de todos os filmes da Marvel, como escolher as cenas para servirem de ponto de partida a cada episódio? A escolha não foi fácil, mas a estratégia para o fazer foi clara desde o início: "quando criámos os episódios raramente começámos com a pergunta 'e se?' e começámos sim com as personagens. Aquilo que me interessa é tentar descobrir a alma por detrás do herói, ir para trás do escudo, levantar o martelo - para continuar a metáfora - para ver quem eles realmente são. Acho que toda a gente se lembra da frase final de 'Homem de Ferro' que é 'eu sou o Homem de Ferro', mas toda a gente se esqueceu da frase imediatamente antes, que era 'eu não sou do tipo herói'", recorda A.C. Bradley.
"A razão porque adoramos o Tony Stark é porque ele tem falhas, é humano e conseguimos ver-nos a fazer o mesmo caminho. Portanto, o nosso trabalho é olhar para estas personagens, descobrir o que as torna humanas e criar a história a partir daí", acrescenta.
Se o primeiro episódio coloca Peggy Carter com o escudo do Capitão América, o segundo imagina o que teria acontecido em "Guardiões da Galáxia" se, em vez de ter sido Peter Quill (Chris Pratt) a ser levado da Terra em criança e a tornar-se no Star-Lord, tivesse sido T'Challa, a personagem interpretada por Chadwick Boseman e que mais tarde se iria tornar no Pantera Negra. O segundo episódio de "E Se...? é dedicado ao ator, que faleceu a 28 de agosto de 2020, e é nesta série que veremos os seus últimos papéis em quatro dos episódios.
"Gravámos os episódios antes dele morrer. A notícia apanhou-nos a todos de surpresa, não só na série mas em todo o estúdio. Nunca houve dúvidas sobre se devíamos ou não avançar com os episódios. Foi muito impressionante para nós perceber o quão doente ele estava quando gravou o papel e queríamos honrar essa escolha que ele fez. Espero que lhe tenhamos feito justiça", confessa Brad Winderbaum.
"Foi um privilégio muito triste. Todos estes atores interpretaram estas personagens por muitos anos. O Chadwick Boseman entendia a importância do Black Panther como ninguém, ele entendia como era importante e vital para os jovens verem-se refletidos nos seus heróis. Haverá toda uma geração a crescer e a ver um homem negro ao mesmo nível e a salvar o dia ao lado do Homem de Ferro, do Capitão América e do Thor", sublinha A.C. Bradley.
"É como se, de alguma forma, a personagem nos estivesse a dizer que ele vai ficar bem. Ele será para sempre uma inspiração e podemos tirar algum consolo disso. Acho que ele fez o que precisava e queria fazer com o tempo que ele tinha. Ele deu tudo no papel", recorda Bryan Andrews.
"E Se...?" estreia-se esta quarta-feira no Disney+ com o primeiro de 10 episódios, mas, mesmo antes da estreia, a equipa já está a trabalhar na segunda temporada, como revelou o produtor Brad Winderbaum: "É um conceito que nos permite ir para infinitas direções, portanto, nunca teremos falta de histórias, mesmo que deem a luz verde a mil temporadas desta série".
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