"Punho de Ferro" é a série que faltava para apresentar o último membro dos Defensores, equipa que inclui os restantes super-heróis de bairro que surgiram no pequeno ecrã até agora: Demolidor, Luke Cage, Jessica Jones…todos unidos em breve numa nova série da Netflix que se seguirá às quatro que focam os vigilantes individualmente.

Fruto da Marvel e da febre Bruce Lee (que começou a destronar o género wuxia das salas de cinema), Punho de Ferro foi criado no início dos anos 1970 lado a lado com Shang-Chi, outra personagem que evocava uma das letras mais orelhudas daquela época: "Everyone is kung fu fighting". Mas para a posteridade ficou Danny Rand, lutador de artes marciais da mística cidade de K'un-Lun, convertido no Punho de Ferro.

Finn Jones, mais conhecido por Loras Tyrell da série "A Guerra dos Tronos", foi o escolhido para encarnar a figura do herdeiro ao legado bilionário de uma empresa de Nova Iorque, presumidamente morto num acidente de avião nos Himalaias.

Ora, Danny Rand volta a casa, qual Bruce Lee em estado de graça, um pouco arrogante e cheio de chavões zen prontos a debitar, mas mais nos parece um mendigo louco e acrobata, que surge do meio da multidão pronto para ser acolhido pela sua família. Mas ninguém o reconhece e, para além de o questionarem, afastam-no de cena, isolando-o numa ala psiquiátrica subvertendo toda a sua verdade: a de que acredita que o seu propósito na vida é proteger K'un-Lun de toda a opressão, e honrar o sacrifício de Show-Lao, o Imortal, depois de ter estado quinze anos noutra dimensão. Algo extremamente plausível de se dizer, enquanto se está drogado e com um colete de forças...

Punho de Ferro

À sua volta, os seus aliados e vilões vão-se estabelecendo, com as personagens Joy Meachum e Colleen Wig do lado bom e Ward e Harold Meachum do lado cruel, monitorizado e manipulando a vida do nosso Danny Boy. Até surge em cena um toxicodependente vindo de trás de uma árvore, com um iphone nas mãos, que ajuda o protagonista a googlar o seu próprio nome. Ou uma asiática dona de um dojo, a quem o convencido Punho de Ferro vai ensinar uma coisinha ou outra sobre a arte marcial que os ancestrais dela inventaram… a sério?

São várias as personagens sem direção definida, com diálogos supérfluos, que têm necessidade imperativa de explicar decisões mundanas e características psicológicas aos seus pares que conhecem há anos. Mas conseguimos questionar algo sem ser necessário que nos esfreguem na cara, não? E infelizmente, isto aplica-se a Danny, que ao fim de seis episódios ainda nos mantém dúvidas sobre as suas motivações para ter voltado e até mesmo para ficar.

Apesar de o formato série ser o mais adequado para a Marvel desenvolver arcos narrativos das personagens - veja-se o caso do muito bem arquitetado "Demolidor", com espaço para criarmos empatia com o herói, vilão e side-kicks, onde de forma inconsciente torcermos por todos - no caso de "Punho de Ferro" há graves problemas de guião e pouco nos interessa aquele ou o outro.

E quem está à espera de ver porrada velha e gritos de kung fu fora de tempo… que espere. Porque estes seis episódios, mais do que de artes marciais, são um drama corporativo leve, sem sentido. As cenas de luta que têm, muito ficam a dever a "Luke Cage" ou "Demolidor", que chegaram a viver do melhor cinema sul-coreano, com irreverência na coreografia entre os duplos e a câmara.

Mas ainda bem que não faltam os habitués da Marvel para elevar um bocadinho o espírito ao espectador, que entretanto fica cansado da mediocridade instalada. É o caso de Carrie-Anne Moss e da enfermeira mais destemida de todas: Rosario Dawson como Claire Temple, que vêm dar o ar da sua força para equilibrar os alicerces dos Defensores.

E é para isso que esta série serve, é por isso que se sente que foi feita à pressa. Para apresentar Punho de Ferro desta forma, bastava um episódio na futura aventura da equipa de super-heróis. Se queriam mesmo insistir numa série, há vários guiões-tipo da casa da banda desenhada que tratam bilionários surgidos do nada, repletos de conhecimento e mestria em artes marciais, a que se podiam ter agarrado...