"Luz Vermelha" é a nova aposta da RTP1 no campo da ficção. A série, da autoria de Patrícia Muller, estreia na esta sexta-feira, dia 11 de outubro, às 22h30. A nova produção do canal marca a estreia dos realizadores André Santos e Marco Leão na televisão.

Segundo a RTP1, a história "que tem como ponto de partida a condição humana irá permitir uma reflexão sobre os papéis sociais, a solidão e o impacto da prostituição na contemporaneidade".

"'Luz Vermelha' conta-nos a história de uma jovem brasileira que chega a Portugal à procura de um futuro que rapidamente se revela sinuoso. Bruna, vê-se forçada a prostituir-se. No seu encalço, dois jornalistas enredam-se numa investigação de uma rede de tráfico humano. Um grupo de mulheres traídas escreve uma carta anónima à imprensa portuguesa que tem repercussões internacionais", avança o canal em comunicado.

Em cada episódio, com cerca de 40 minutos, "pretende-se ir além do caso mediático de 2003 que começou quando um grupo mulheres se insurgiu contra as imigrantes brasileiras que se dedicariam à prostituição na cidade" – ficou conhecido na imprensa portuguesa como as "mães de Bragança".

Veja o trailer:

"Luz Vermelha" conta com Joaquim Monchique, Sofia Nicholson, Margarida Vila-Nova, Afonso Pimentel, João Baptista, Maria João Pinho, Dinarte Branco, Graciano Dias, Mariana Badan, Bruna Quintas, Sara Norte, Cecília Henriques, Renata Ferraz, Tati Pasquali, João Lagarto e Teresa Madruga no elenco principal.

Em entrevista em Vila do Conde, onde apresentaram os primeiros dois episódios no âmbito do festival Curtas, André Santos explicou: “Escolhemos ‘décors’ que existem em todos os lados. A nossa ideia era deslocar isto. O que nos interessa, mais do que o caso das ‘Mães de Bragança’ é o drama individual de cada uma das pessoas envolvidas. Interessava-nos muito mais a trama humana do que o mediatismo e a ideia do que foi o caso de Bragança. A própria história em si, apesar de ser inspirada, tem outras ramificações”.

Marco Leão, interessado pelo facto de a ficção não ter "de respeitar nada do que existiu", sublinha: “Podia acontecer em qualquer sítio”.

Série “Luz Vermelha” pretende retratar drama que “podia acontecer em qualquer sítio”
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Em 2003, um grupo de mulheres que ficou conhecido como “mães de Bragança” pôs a correr um abaixo-assinado pedindo às autoridades ajuda para “salvar” a cidade de “uma onda de loucura” provocada por imigrantes brasileiras alegadamente ligadas à prostituição.

Questionados sobre de que forma as lembranças que têm do caso contribuíram para o trabalho que fizeram em “Luz Vermelha”, André Santos e Marco Leão, de 35 anos, salientam que o que pensavam em 2003 não é o que pensam hoje.

“Tínhamos 20 anos quando isto aconteceu. A pessoa que eu era não é a pessoa que eu sou com 35. Sendo uma criança na altura, fiz o que muita gente fez, que foi rir-se de uma situação completamente caricata. À medida que cresces e começas a olhar para estas situações, vês uma série de variáveis à volta disto, vês um grupo de mulheres que crucificaram outras, porque lhes roubavam os maridos, mas isto é simplificar uma situação. O problema destas mulheres não eram as prostitutas, eram as relações que elas tinham em casa e tu se calhar com 20 anos não vias as coisas desta maneira. O que nós tentámos fazer foi tentar pôr todos no mesmo nível”, afirmou André Santos.

LUZ VERMELHA
créditos: RTP1

Habituados a trabalhar em projetos de menor dimensão e sem experiência prévia em televisão, André Santos e Marco Leão reconhecem que enfrentaram vários desafios, desde trabalhar – pela primeira vez – com um argumento que não era da sua autoria à mudança brusca de ritmo de trabalho.

“Passámos de filmar quatro cenas por dia para, de repente, filmar 12 cenas, no dia a seguir 17, depois 15. E no mesmo dia tens uma cena de sexo, uma cena de pancadaria e se calhar ainda vais filmar um enterro. E dás por ti a filmar coisas que nunca filmaste, que nunca pensaste filmar com um tempo e meios que são limitados, sempre”, afirma André Santos, que lembra que a série foi filmada em nove semanas.

Os dois realizadores contam que davam por eles a constatar que já estavam atrasados mal saíam de casa: “Foi talvez a coisa mais fascinante do processo todo, a capacidade que tens para te adaptar. Saíamos de casa a pensar que o plano é assim e de repente chegas lá e o ‘décor’ tem um terço do espaço que imaginas. E de repente naqueles 20 minutos mudas tudo e até encontras coisas melhores. A tua cabeça está constantemente a adaptar-se, a recriar”.

Numa série sobre o poder exercido pelo outro e de relações de violência, André Santos e Marco Leão referem que procuraram colocar fora do plano essa mesma violência, o que, em si mesmo, leva a um maior impacto junto do espectador.

“O que tentámos fazer foi colocar [a violência] fora de quadro ou não ter cenas de pancadaria, não ter pessoas a bater noutras, porque acho que a situação em si está lá. Já se sente essa violência, está à flor da pele”, diz Marco Leão.

André Santos acrescenta: “Cabe-nos a nós enquanto artistas também pensar nisto. Porque é que eu vou estar a usar uma imagem que é pornográfica para mostrar uma situação em que tudo o que está fora de campo é muito mais violento? Ouvires o som de um murro é muito mais perturbador.”

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