Foi no final de outubro de 2019, ainda não adivinhando que 2020 teria também uma espécie de cenário apocalíptico reservado para nós, que viajámos até aos Estados Unidos para uma visita à rodagem daquela que é a terceira série do universo "The Walking Dead", num exclusivo para Portugal.
"The Walking Dead: World Beyond", que hoje se estreia às 22h10 no canal AMC, chega depois de dez temporadas de "The Walking Dead" (com o final anunciado para a 11ª) e de cinco de "Fear the Walking Dead" para mostrar um outro ponto de vista sobre o apocalipse zombie. A série centra-se na primeira geração nascida e criada depois de os "walkers" terem deixado o mundo virado do avesso, passa-se cerca de dez anos depois dos primeiros acontecimentos da série original e tem um elenco mais jovem do que os das outras séries do mesmo universo. Estas personagens não conhecem um mundo sem zombies, nasceram nele, e, tal como "The Walking Dead" nos habituou, alguns vão revelar-se heróis e outros vilões pouco aconselháveis.
Esta terceira aventura num mundo cheio de "walkers" foi criada por Scott M. Gimple (argumentista e produtor de "The Walking Dead") e pelo showrunner Matt Negrete, e é protagonizada por Aliyah Royale, Alexa Mansour, Annet Mahendru, Nicolas Cantu, Hal Cumpston e Nico Tortorella. Foi precisamente com estes seis atores que conversámos em Richmond, nos Estados Unidos, num mundo pré-pandemia e sem distância social.
Foi pela manhã que o pequeno grupo de quatro jornalistas, SAPO Mag incluído, foi conduzido do centro da cidade de Richmond, no estado norte-americano da Virgínia, até um complexo de armazéns onde a rodagem de "Walking Dead: World Beyond" decorria.
Como habitual numa destas visitas a rodagens, os horários e o que podemos ou não fazer são ditados pelo rigoroso plano de filmagens, que não pode ser colocado em causa. Depois de nos instalarmos numa sala que seria a nossa base e serviria para fazer as entrevistas, o plano ditou que começássemos por assistir à rodagem de uma cena.
Levados com o maior silêncio possível, sentados em cadeiras de realizador, ecrãs de visionamento devidamente instalados à nossa frente e auscultadores que nos permitiam ouvir as falas e, surpresa: uma das protagonistas da cena era Julia Ormond ("Lendas de Paixão", "O Primeiro Cavaleiro"), que à data não tinha ainda sido anunciada como uma das protagonistas da série.
Numa cena no interior de uma casa, Julia, que interpreta Elizabeth na série, a líder da comunidade, recebe o ator Al Calderon (que veste a pele de Barca) e os dois têm uma conversa tensa que envolve problemas de consciência da parte dele e ordens claras da parte dela. Não chegámos a falar com os dois atores mas foi com eles que vimos pela primeira vez imagens a que poderemos agora assistir no ecrã em "The Walking Dead World Beyond".
Depois de várias repetições, somos levados de volta à nossa base a partir de onde começaremos a fazer as entrevistas aos protagonistas.
O dia alterna entre estas conversas, visitas guiadas ao "set" para ver os cenários interiores, fotografias do grupo de jornalistas com os atores e, pelo meio, um almoço tardio, à mesma hora e na mesma cantina que toda a equipa da série.
Cenários que nos mostram que este é um mundo diferente do de "The Walking Dead"
Habituámo-nos a ver em "The Walking Dead" um mundo mais destruído, com casas muitas vezes irreconhecíveis, mas aqui, e durante um passeio por vários cenários interiores, é fácil perceber que o tempo passou e as comunidades começaram a reconstruir-se e a fazer a possível vida normal dentro da anormalidade de um apocalipse zombie.
Os interiores das casas não denunciam que este é mundo a sarar de um cenário terminal, com decoração e arrumação próprias das casas do nosso mundo.
O mais curioso cenário por que passamos é o de uma escola, aparentemente primária, com um quadro educativo sobre as formas mais eficazes de se aniquilar um "walker".
No mundo de "The Walking Dead: World Beyond", as crianças já só conhecem um mundo com zombies e passa a ser parte do plano escolar obrigatório saber como matar um desde tenra idade. O quadro desenha a anatomia de um "walker" e indica as zonas sensíveis onde o atingir para que a morte seja eficaz. À volta, estamos numa comum sala de aula, com mesas e cadeiras cujo tamanho denuncia a jovem idade dos alunos.
Curiosamente, ao longo de todo o dia não só não precisámos de matar um "walker" como acabámos por não nos cruzar com nenhum.
A geração "The Walking Dead: World Beyond"
Pela sala que nos serviu de base durante todo o dia passaram seis dos protagonistas: Aliyah Royale (Iris), Alexa Mansour (Hope), Annet Mahendru (Huck), Nicolas Cantu (Elton), Hal Cumpston (Silas) e Nico Tortorella (Felix).
Muitos deles interpretam personagens que não têm memória dos acontecimentos originais de "The Walking Dead" e dão corpo a esta nova geração do universo.
"Quando eles eram crianças foi quando tudo isto começou a acontecer. Foi quando o vírus apareceu e eles viram tudo em primeira mão quando eram muito, muito novos. Eles sabem um pouco sobre o mundo exterior mas aquilo de que se lembram é muito mórbido e assustador. É como ter uma experiência traumática em criança", explica ao SAPO Mag Alexa Mansour.
Annet Mahendru, que conhecemos de papéis como o de Nina Krilova na série "The Americans", explica durante a conversa que "The Walking Dead: World Beyond" é uma "oportunidade maravilhosa" para olhar para o mundo de "The Walking Dead" de uma perspetiva diferente.
"É o mesmo mundo de 'The Walking Dead', mas passa-se nove, dez anos no futuro, da perspetiva de jovens adultos que têm vislumbres de lembranças de como era a vida antes, e é principalmente traumático, perder os seus pais e as suas casas. Eles estiveram num lugar realmente seguro durante a maior parte das suas vidas nesta comunidade que tem tudo e dentro de quatro paredes e não viram o que aconteceu ao mundo desde então", explica a atriz.
Nicolas Cantu, que interpreta Elton, é o mais jovem do elenco e explica como é uma experiência diferente passar de espectador a ator neste universo. "É muito diferente ser um observador de depois participar neste mundo, porque como um observador, vemos o produto final da série e ficamos imersos em tudo. Mas aqui, às vezes vemos os zombies a beber água com uma palhinha e e falamos com eles e eles dizem ‘o meu nome é Craig’. ", diz, entre risos. "Não é assustador, há um pouco de quebra de imersão, mas estar aqui e ver como tudo é feito é incrível", completa o ator.
Aliyah Royale e Alexa Mansour interpretam irmãs na série e dizem ter a mesma cumplicidade fora do ecrã. Para Aliyah, para além das personagens que tornam a história "diferente de tudo o que já vimos antes", há outros fatores que dão a "The Walking Dead: World Beyond" o seu próprio lugar num universo tão acarinhado. "Somos um elenco muito mais jovem, mas também somos tão diversificados e fantásticos em cada um dos nossos caminhos. Acho que é a primeira vez que este universo tem duas protagonistas femininas, em mim e na minha irmã, e vemos as duas terem de se apoiar uma na outra de maneiras que não vimos nas outras séries", explica a atriz.
Nico Tortorella, que, aos 32 anos, é o menos jovem do jovem grupo de atores que entrevistámos sabia que o papel de Felix em "The Walking Dead: World Beyond" lhe estava destinado. O ator tinha participado num casting para entrar em "Fear the Walking Dead" e não tinha sido escolhido. "Queria muito entrar mas não era a história que estava destinada para contar, era esta", diz.
Para Nico, era importante interpretar uma personagem LGBT numa série deste calibre: "Começámos a ter conversas sobre a série, que se passava 10 anos depois de 'The Walking Dead', e sobre a paisagem política e social em todo o país e em todo o mundo, e o que significa ser queer e interpretar uma pessoa queer na televisão".
"A forma como abordámos o Felix é o oposto do estereótipo. Ele é um herói queer de uma maneira que nunca vimos na televisão ou em cinema e é uma honra poder dar vida a uma personagem assim", sublinha o ator.
Para o ator, esta nova série tem atrás de si um passado com um patamar elevado: "a primeira temporada de 'The Walking Dead' é, sem dúvida, a melhor temporada de qualquer série que já existiu. O que eles foram capazes de realizar no desenvolvimento do enredo e das personagens em tão pouco tempo, é como se realmente tivesse mudado a televisão".
Terminamos as conversas já ao final da tarde e voltamos a Richmond sob segredo. O que ali vimos só pudemos contar agora, na altura em que "The Walking Dead: World Beyond" chega aos ecrãs para iniciar um novo ciclo deste mundo de "walkers" e pessoas melhores e piores. A série estreia esta noite, às 22h10, no AMC.
Veja o teaser da série:
O SAPO Mag viajou a convite do AMC Portugal.
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