Foi em 1975 que Stephen King publicou "Salem's Lot", aquele que foi o seu segundo livro e que em muitas entrevistas descreveu com o seu favorito. Na história, o autor Ben Mears regressa à casa da sua infância na pacata cidade dos Estados Unidos profundos Jerusalem’s Lot à procura de inspiração para o seu próximo livro e descobre que a sua cidade natal está a ser atacada por um vampiro sanguinário.
O livro foi alvo de duas adaptações a minisséries, em 1979 e em 2004, e agora é a New Line Cinema a pegar nele de novo para o adaptar a um filme homónimo com estreia marcada para esta quinta-feira na Max. O novo filme é escrito, realizado e produzido por Gary Dauberman (cineasta responsável pelos filmes de terror da saga "Anabelle") e reúne as equipas de produção responsáveis pelos franchises de terror “The Conjuring” e “IT”.
Do elenco fazem parte, entre outros, Alfre Woodard, Lewis Pullman e Makenzie Leigh, com quem o SAPO Mag esteve à conversa sobre como foi filmar esta nova vida para a história de Stephen King, agora na era do streaming.
Lewis Pullman é o protagonista Ben Mears, um escritor com um passado traumático que regressa à sua cidade natal e se vê transformado em herói acidental depois de a pacata localidade ser tomada de assalto por um vampiro que começa a transformar todos os seus habitantes em sugadores de sangue.
" O Ben está a lutar com um bloqueio de escrita extremo nesta altura da sua vida. Ele está num ponto em que chegou a um impasse. Acho que me liguei ao instinto dele de se reconectar com o passado quando se chega ao fim do caminho e se está ali parado e parece que não há mais nenhum sítio para andar. Muitas vezes, voltamos à estaca zero e vemos como tudo começou e como todas as variáveis colidiram da forma que colidiram para chegarmos onde estamos agora. Há muita nostalgia, e ele está a viver num estado de nostalgia, que é um lugar onde gosto de mergulhar indulgentemente de vez em quando", explica o ator ao SAPO Mag.
Para Alfre Woodard, atriz com uma longa carreira em géneros muito diferentes e nomeada ao Óscar de Melhor Atriz Secundária em 1984, houve dois fatores que a atraíram para fazer o papel de Dr. Cody, a médica da cidade. O facto de ninguém estar isento à a ser submetido à sedução do vampiro num sítio tão centrado na comunidade interessou a atriz: "a história não dá ao espectador moderno um lugar para escapar ou um lugar para observar, porque o mal subjacente pode ser a pessoa com quem estamos na lavandaria, por isso, as pessoas têm de estar sempre atentas. Nunca se sabe de onde vem o perigo, a promessa de perigo, e isso infeta toda a sociedade".
"Acho que a ideia de que se passa numa cidade pequena também torna a história mais assustadora. Normalmente, estas coisas acontecem numa área metropolitana. Há um sítio para onde ir, um sítio para se esconder. Mas numa cidade pequena, não há saída. Conhecemos toda a gente, temos uma história. E é isso que torna o filme estimulante e assustador. Não nos deixa respirar de alívio", acrescenta a atriz.
Outro aspeto que a cativou foi o facto de a sua personagem ser originalmente um homem no livro e aqui ser uma personagem feminina: "gosto do facto de terem decidido escolher uma mulher para interpretar a Dr. Cody porque se uma personagem é um ser humano e está bem concebida, não importa o seu género. Essa pessoa, seja qual for a sua identificação, trará novas cores e novas camadas, mantendo-se fiel ao facto de ser um ser humano. Não só a melhor história é universal e pode chegar a qualquer pessoa no mundo de uma forma muito específica, mas penso que as histórias e as personagens podem ser criadas pelo ator".
Makenzie Leigh interpreta Susan Norton, o interesse romântico de Ben Mears. A atriz cresceu no Texas, identificou-se com a sua personagem, que também tem sonhos a concretizar fora do sítio onde cresceu, e ficou impressionada com a recriação da pequena cidade de Jerusalem's Lot: "os cenários eram incrivelmente complexos. Às vezes entramos num cenário e pensamos, 'posso tocar nesta parede e ela vai cair' mas, neste caso, eles construíram a casa Marston. Foi completamente imersivo. Por vezes, de uma forma um pouco aterradora, estamos numa casa assombrada e algo pode vir ter connosco".
O filme mistura terror, vampiros mas muita ação também. "De certa forma, estranhamente, este é o maior projeto de ação que já fiz. É quase como se não me tivesse apercebido disso quando li o guião, mas quando chegámos lá e começámos a pôr as cenas em pé, é como um filme de ação. Por isso, de certa forma, muitos dos filmes que eu vi na altura da preparação foram filmes de ação, porque estava a tentar descobrir a melhor forma de coreografar o meu corpo e de o usar de uma forma que fizesse sentido para o Bem, que é um escritor, não é uma estrela de ação. Havia alguma margem de manobra e espaço de manobra. Eu não tinha de parecer o Tom Cruise, havia alguma folga. Mas, estranhamente, a maior surpresa para mim foi o facto de ter sido uma filmagem muito física", explica Lewis Pullman.
"Eu entrei no projeto a pensar na minha preparação emocional e a ver todos os filmes de vampiros que já foram feitos, a pensar sobre isso num sentido muito cerebral, e depois cheguei ao estúdio e pensei 'é mais sobre ser atirado contra uma parede 15 vezes'", acrescenta, entre risos, Makenzie Leigh.
Sobre o peso de darem vida a uma história adorada por tantos fãs de Stephen King e que já teve adaptações passadas, os atores admitem que há um desafio adicional, mas que é preciso encontrar o caminho para lá das páginas originais. "É difícil com estas adaptações porque são muito queridas. Sinto sempre que é perigoso tentar replicar exatamente o que está na página, porque nunca vamos conseguir agradar a todos os fãs de um livro tão adorado. Temos de encontrar o que é verdadeiro para nós e fazer a ligação com o guião que tínhamos à nossa frente", salienta Lewis Pullman.
"Obviamente, adoro o livro e adorei relê-lo quando consegui o papel, mas há uma razão pela qual só foi adaptado em várias partes, séries de duas partes ou minisséries. É porque é um livro muito forte e tem muitas personagens. O Gary [Dauberman, o realizador] era a pessoa perfeita para tentar descobrir o que estava verdadeiramente no centro desta história, o que é que íamos perder com o tempo de duração que tínhamos e o que era essencial. Todas essas coisas foram tidas em conta mas apenas tentando ser tão fiel ao que quer que eu tivesse em mim, que eu pudesse oferecer e com que me sentisse ligado", sublinhou o ator.
Para Alfre Woodard, ter como base uma obra de Stephen King é um trunfo logo à partida: "o Stephen King é literário no melhor sentido. É inteligente de uma forma que nem sabemos descrever. Descobrimos a nossa própria psicologia lendo e observando-o. É cinematográfico e literário ao mesmo tempo, mas é um literário que é tão específico e capta a sintaxe da forma como pensamos, a forma como estamos assustados, a forma como nos apoiamos uns aos outros, se nos juntamos como uma comunidade... Ele tem tudo isso e acho que é por isso que as pessoas gostam tanto das suas histórias, porque são específicas para ele, mas são a história do homem e da mulher comuns".
A nova adaptação de "Salem's Lot" é mais uma produção de um estúdio com um elenco de peso a estrear diretamente no streaming, na Max. Para os atores, esse caminho é natural e tem outras vantagens que o cinema não tem: "adoro os cinemas, mas também sinto que, de certa forma, este filme pode ser mais assustador em casa, se estivermos sozinhos a meio da noite e o virmos sozinhos", refere Makenzie Leigh.
"Acho que há muitas oportunidades fantásticas que certos filmes têm e que não teriam de outra forma se não fosse pelo streaming. Há coisas que acontecem desde a concepção de um filme até à sua execução e, muitas vezes, há muitos filmes que nunca veríamos se não fosse o streaming, porque é mais fácil simplesmente lançá-los lá", explica Lewis Pullman.
"Também há partes da experiência de que gostamos tanto, como estar sentado numa sala de cinema, que eu teria adorado. Acho que especialmente o terror é muito divertido num grupo de centenas de pessoas. Somos como um cardume de peixes, e todas as reações podem empurrar-nos para um lado ou para o outro. Talvez o Gary faça uma projeção deste filme um dia e possamos sentar-nos no cinema e ver como é. Mas, por agora, estou muito grato por, pelo menos, estar a ser lançado", remata o ator.
"Salem's Lot" chega à Max esta quinta-feira, 3 de outubro.
Comentários