A um dia do início da 71ª edição do Festival de Cinema de Cannes sem Harvey Weinstein, sem Netflix e sem selfies, Jean-Paul Belmondo e Anna Karina beijam-se no cartaz do festival, à espera das estrelas, entre elas Cate Blanchett, presidente de um júri maioritariamente feminino.

A passadeira vermelha será desenrolada apenas na terça-feira (8) às 14h30 nos degraus do Palácio. O poster do Festival, tirado de "Pedro o Louco", de Jean-Luc Godard, foi pendurado no domingo. Mas o céu azul sob o qual aparecem "Bebel" e a sua Marianne contrasta com o horizonte velado desta segunda-feira na Croisette.

A atriz australiana Cate Blanchett e os oito jurados, quatro mulheres e quatro homens, responsável pela atribuição da Palma de Ouro em 19 de maio, são esperados no Hotel Martinez para o seu primeiro jantar. Enquanto isso, no Palácio dos Festivais, os técnicos trabalham para fazer os ajustes finais, em salas ainda desertas.

Quanto à segurança, apenas os polícias uniformizados encarregados da guarda de honra na passadeira vermelha para as cerimónias de abertura e encerramento eram visíveis esta manhã. O túnel de raio-X para fazer o scan às bagagens volumosas e os portais de segurança para filtrar o público serão instalados amanhã.

Casal de estrelas na sessão de abertura

Paparazzis e outros caçadores de autógrafos já estão a postos, com as suas escadas, arma suprema para metralhar Penélope Cruz e Javier Bardem, as duas primeiras estrelas esperadas terça-feira à noite para o filme de abertura, "Todos lo Saben" ("Everybody knows"), do iraniano Asghar Farhadi.

Entre eles, Martine, que se aposentou há dois meses e que acompanha o festival há mais de 20 anos. Como os outros, ela acorrentou a sua escada a uma das palmeiras da Croisette.

Depois do casal, eles terão poucas celebridades para mirar com as suas lentes. As estrelas vão estar atrás das câmaras, como o americano Spike Lee, com "BlacKKKlansman", ou Godard, concorrendo pela Palma de Ouro com "Livre d'images" 50 anos após o Festival de maio de 68, que ele ajudou a parar.

Mas num ano marcado pela ausência do produtor de Hollywood Harvey Weinstein, um pária desde as revelações do New York Times e da revista New Yorker e dos testemunhos de mais de 100 mulheres, incluindo 15 que o acusam de violação, as atenções poderiam voltar-se para o júri, liderado por Cate Blanchett, que se tornou uma das principais figuras na luta contra o assédio sexual na Sétima Arte.

Cada participante receberá um panfleto recordando que em Cannes será "exigido um comportamento correto", com menção de um número de telefone para qualquer vítima ou testemunha de assédio sexual, e uma recordação das penas máximas, três anos de prisão e 45.000 euros de multa.

Outro alvo este ano no festival são as "selfies", barradas na passadeira vermelha. O que está em questão, segundo o delegado geral do Festival, Thierry Frémaux é a "a trivialidade" desta prática, e a "demora" que provocava...

Sobre Reed Hastings, CEO da Netflix, não há dúvidas. Depois de ter dois filmes em competição em 2017, a plataforma de streaming recusou o convite, rejeitando as regras de exibição na França.

Mas Cannes terá outras surpresas a oferecer, especialmente da Ásia e do Oriente Médio. Dos 21 cineastas em competição oficial, apenas três são mulheres, mas 10 são novatos e o grupo inclui o iraniano Jafar Panahi e o russo Kirill Serebrennikov, proibidos de viajar pelas autoridades dos seus próprios países.