"A Noiva", de Sérgio Tréfaut, será um dos 18 títulos em competição da 79.ª edição do Festival de Veneza na secção alternativa Horizontes, dedicada às novas expressões estéticas do cinema e com um júri presidido pela realizadora espanhola Isabel Coixet.

A conferência de imprensa sobre a programação decorreu na terça-feira de manhã na Biblioteca do Arquivo Histórico de Arte Contemporânea da Bienal de Veneza, com Roberto Cicutto, presidente do festival, e Alberto Barbera, diretor artístico.

Segundo a distribuidora Leopardo Filmes, o filme com Joana Bernardo, Hugo Bentes e Lola Dueñas, é inspirado em histórias reais de raparigas que se juntaram a combatentes pelo autoproclamado Estado Islâmico, retratando "uma adolescente europeia que foge de casa para casar com um guerrilheiro do Daesh. Torna-se uma noiva da Jihad. Três anos mais tarde a sua vida mudou dramaticamente. Vive num campo de prisioneiros no Iraque. Agora é mãe de dois filhos e está grávida outra vez. É uma viúva de 20 anos e será brevemente julgada pelos tribunais iraquianos. O que lhe fizeram a experiência da guerra e a lavagem cerebral?"

Com um orçamento previsto de 1,4 milhões de euros, contando com apoio financeiro em Portugal e coprodução com França e Alemanha, a rodagem passou pelo Curdistão e Iraque.

"Bones and All", de Luca Guadagnino

Serão 23 filmes a competir pelo Leão de Ouro, com destaque para a presença de "No Bears", que "é o quarto filme de Jafar Panahi rodado, digamos, em condições de clandestinidade", sublinhou Alberto Barbera.

O realizador iraniano, conhecido por títulos como "O Círculo" (com a distinção máxima de Veneza em 2008), "Três Faces" e "Táxi", e pela oposição ao regime do seu país, viu as autoridades revogarem o regime de liberdade condicional na semana passada para começara a cumprir uma pena de seis anos de prisão decretada em 2010.

"Dizem que os festivais são janelas abertas para o mundo e talvez seja uma imagem da qual se abusa, mas é verdade que dessa janela somos testemunhas de coisas que não gostamos", confessou Barbera ao apresentar a lista.

Outros realizadores consagrados estão na corrida ao principal prémio: Darren Aronofsky ("The Whale"), Andrew Dominik ("Blonde"), Todd Field ("Tar"), Alejandro G. Inarritu ("Bardo, falsa crónica de unas cuantas verdades"), Alice Diop ("Saint Omer"), Luca Guadagnino ("Bones And All"), Joanna Hogg ("The Eternal Daughter"), Martin McDonagh ("The Banshees Of Inisherin"), Frederick Wiseman ("A Couple"), Laura Poitras ("All The Beauty And The Bloodshed") e Florian Zeller ("The Son").

A competição inclui ainda "Il Signore Delle Formiche" (de Gianni Amelio), "L’Imensita" (Emanuel Crialese), "Love Life" (Koji Fukada), "Athena" (Romain Gavras), "Beyond The Wall" (Vahid Jalilvand), "Argentina 1985" (Santiago Mitre), "Chiara" (Susanna Nicchiarelli), "Monica" (Andrea Pallaoro), "Our Ties" (Roschdy Zem) e "Other People’s Children" (Rebecca Zlotowski).

O júri internacional será presidido pela atriz norte-americana Julianne Moore e farão parte também o escritor anglo-japonês Kazuo Ishiguro, Nobel da Literatura em 2017, o realizador argentino Mariano Cohn, o italiano Leonardo di Constanzo, a realizadora francesa Andrey Diwan, a atriz iraniana Leila Hatami e o realizador espanhol Rodrigo Sorogoyen.

Na segunda-feira fora antecipado que o filme de abertura seria "White Noise", de Noah Baumbach, com Adam Driver e Greta Gerwig, a primeira vez que isso acontece com um título da Netflix.

Entre os filmes fora de concurso estará "When the waves are gone", do realizador filipino Lav Diaz, que conta com coprodução portuguesa, pela Rosa Filmes, que se junta a títulos de Walter Hill ("Dead For A Dollar"), Paul Schrader ("Master Gardener"), Paolo Virzi ("Drought"), Olivia Wilde ("Não te Preocupes Querida") e do falecido Kim Ki-duk ("Call Of God").

Nos documentários, destaca-se a apresentação de "Nuclear", de Oliver Stone, e dois dedicados à situação na Ucrânia: "Freedom On Fire: Ukraine’s Fight For Freedom", de Evgeny Afineevsky, e "The Kiev Trial", de Sergei Loznitsa.

Séries de dois autores consagrados, "The Kingdom Exodus", de Lars von Trier, e "Copenhagen Cowboys", de Nicolas Winding Refn, também serão vistas.

Na Semana da Crítica de Veneza, um programa paralelo do festival, tinha já sido anunciada a inclusão do filme "O sangue" (1989), primeira longa-metragem de Pedro Costa, em versão restaurada.

A festejar os 90 anos desde a primeira edição do festival, a 79.ª irá decorrer de 31 de agosto a 10 de setembro.

A realizadora portuguesa Ana Rocha de Sousa vai fazer parte do júri do prémio "Luigi de Laurentiis", destinado a primeiras obras.

Serão atribuídos dois prémios de carreira - Leão de Ouro - ao realizador norte-americano Paul Schrader e à atriz francesa Catherine Deneuve.