Hollywood pode ter dado um passo histórico para os grandes filmes chegarem mais depressa às pessoas nas plataformas digitais.

A Paramount e a AMC Theatres e Cineplex Entertainment, duas grandes cadeias das salas de cinema dos EUA e Canadá, chegaram a acordo para que dois filmes de terror no calendário tenham essa oportunidade, mediante certas condições.

Assim, «Paranormal Activity: The Ghost Dimension» (o quinto título da saga «Atividade Paranormal») e «Scouts Guide to the Zombie Apocalypse» vão ter uma estreia normal nas salas de cinema no outono e estarão disponíveis para as plataformas digitais (video-on-demand) 17 dias após ficarem abaixo dos 300 ecrãs de exibição.

A AMC, Cineplex e outros exibidores receberão uma percentagem de quaisquer lucros durante o período de tempo em que fiquem disponíveis nessas plataformas nos primeiros 90 dias a contar da estreia em sala, com cada parte a receber uma percentagem proporcional à das receitas que os títulos tiveram nas suas salas.

Atualmente, existem as «janelas de estreia», períodos de tempo em que cada título é lançado nas salas, vídeo e televisão (sendo que neste último ainda existe a sub-divisão entre canais codificados e de sinal aberto), de forma a que as plataformas não entrem em concorrência.

Assim, entre a estreia comercial e a saída de um filme em DVD-Blu-ray existe uma janela de cerca de 16 semanas, tempo que os donos das salas de cinema consideram ser o mínimo para explorarem o seu potencial comercial.

Após mais alguns meses, o filme fica disponível nos canais codificados e plataformas digitais e perto de dois anos após chegar às salas chega aos canais em sinal aberto (em Portugal: RTP, SIC e TVI).

Para os filmes que não têm um lançamento limitado em poucas salas, este é um modelo estratégico que, com ligeiras alterações e adaptações mercado a mercado, se mantém desde os tempos que antecederam o nascimento do mercado de vídeo nos anos 1980.

Quando o mercado de vídeo entrou em crise profunda de 2008 para 2009 e aumentou a dimensão da pirataria, os estúdios começaram a pressionar para diminuir as janelas, mas enfrentavam a forte resistência, com ameaças de boicote, dos proprietários das grandes cadeias de salas.

Embora se tratem apenas de dois filmes de baixo orçamento de terror sem estrelas, o acordo agora firmado poderá redefinir a janela de estreia no mercado digital, beneficiando todas as partes - estúdios, cadeias de cinema, parceiros criativos e consumidores -, ao mesmo tempo que mantém o valor da exibição nas salas e ajuda a combater a pirataria.

A Paramount criou o plano após analisar o desempenho comercial dos seus filmes recentes contra métricas relacionadas com o tempo em que estiveram em muitas salas, a pirataria e as vendas.

Alguns títulos, principalmente os de grande orçamento, fazem quase todas as suas receitas em seis semanas ou menos, o que deixa «uma janela de dois meses em que ficam completamente indisponíveis no mercado legítimo», recordou a presidente de distribuição e marketing da Paramount, Megan Colligan.

«Esta nova estratégia de distribuição é flexível e permite comprometermo-nos com os consumidores durante o período de vida dos nossos filmes para ir de encontro às suas necessidades, ao mesmo tempo que se reduz a janela da pirataria», acrescentou.

Rob Moore, vice-presidente do estúdio, reforçou o que está em causa.

«Os donos das salas têm sido grandes parceiros para nós e vão continuar a sê-lo quando evoluímos e criamos uma estratégia de negócio flexível que se baseia no efetivo percurso comercial de um filme e não numa janela rígida baseada no início de exibição. Esta oportunidade oferece uma forma viável para que os nossos parceiros das salas mantenham a sua janela e beneficiem financeiramente de participar num processo de distribuição mais eficaz, ao mesmo tempo assegurando que é dada aos espectadores a oportunidade de ver filmes quando e onde querem».

«Todos os filmes são diferentes e o modelo de negócio «um tamanho serve para tudo» nunca fez sentido», acrescentou Gerry Lopez, presidente e CEO da AMC. «Este modelo alinha os interesses dos consumidores, cineastas e exibidores para maximizar a experiência na sala primeiro e depois permitir um legítimo acesso digital».