Na primeira entrevista depois da polémica das suas declarações durante a apresentação de «Melancolia» no Festival de Cannes em 2011, em que manifestava «compreensão» por Hitler, Lars von Trier disse que teme não conseguir fazer mais filmes desde que ficou sóbrio pois os títulos que o consagraram com prémios foram feitos enquanto estava intoxicado.
Em declarações à edição de sábado do Politiken, o cineasta dinamarquês afirmou que deixou de beber uma garrafa de vodka por dia e consumir narcóticos que o faziam entrar no seu «mundo paralelo». E admitiu: «Não sei se consigo fazer mais filmes. E isso atormenta-me. Porque, se não conseguir, o que vou fazer?».
«Nenhuma expressão criativa com valor artístico foi criada por ex-alcoólicos ou ex-viciados», acrescentou o cineasta, sóbrio há 90 dias, confessando ter medo de que os seus filmes não sejam suficientemente bons.
A sua dependência terá começado com «Ondas de Paixão» (1996) e «Dogville» (2003), por exemplo, foi escrito em 12 dias num estado de euforia permanente graças ao cocktail que o fazia entrar no referido «mundo paralelo» onde as ideias surgiam com fluência e tinha confiança para tomar decisões. Pelo contrário, «Ninfomaníaca» (2013), o seu último filme e o primeiro que escreveu sóbrio, demorou um ano e meio a desenvolver.
Na entrevista, von Trier também explicou que o seu «fascínio» por Hitler é semelhante ao que se pode ter por Hannibal Lecter, o sanguinário assassino de «O Silêncio dos Inocentes».
Apesar das suas dúvidas criativas, o cineasta confirmou que está a estudar a ideia de rodar uma série de televisão em inglês, mas que por enquanto só tem o título: «The House that Jack Built» [A casa que Jack construiu].
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