A caminho dos
Óscares 2025
Karla Sofía Gascón vai calar-se, afastando-se das luzes da ribalta para assim ajudar "Emília Pérez" na campanha dos Óscares.
A reação é a resposta às críticas públicas de Jacques Audiard, que disse que o filme na corrida a 13 Óscares estava a ser prejudicado pelas declarações em que procurou justificar-se e pedir desculpa após a revelação a 30 de janeiro de mensagens antigas controversas nas redes sociais sobre vários assuntos, incluindo o Islão, os protestos anti-racismo nos EUA e até a diversidade da 'cerimónia feia' e 'afro-coreana' dos Óscares de 2021 que premiou "Nomadland".
O escândalo deitou por terra toda a campanha para os Óscares do filme que estava centrada na atriz espanhola, a primeira pessoa abertamente transgénero na corrida numa categoria de interpretação.
"Após a entrevista do Jacques, que percebo, decidi, pelo filme, pelo Jacques, pelo elenco, pela equipa incrível que o merece, pela bonita aventura que todos tivemos juntos, deixar o trabalho falar por si, esperando que o meu silêncio permita que o filme seja apreciado pelo que é, uma bela ode ao amor e à diferença. Peço sinceras desculpas a todos que foram feridos ao longo do caminho", escreveu em inglês no Instagram, terminando com palavras japonesas ligadas ao Budismo Nichiren e uma fotografia da equipa do filme no Festival de Cannes, onde ganhou o Prémio do Júri e outro de Melhor Atriz, concedido a todo o elenco feminino (Gascón, Selena Gómez, Zoe Saldaña e Adriana Paz).
Segundo a imprensa especializada, não há comunicação direta entre a atriz espanhola e a Netflix, que tenta salvar um investimento de mais de 30 milhões de dólares na campanha para o que parecia até há uma semana a sua mais forte possibilidade de finalmente conquistar a estatueta de Melhor Filme (a votação para os prémios decorre entre 11 e 18 de fevereiro).
Numa entrevista na quarta-feira, Jacques Audiard distanciou-se com fortes críticas, dizendo que o que dissera nas redes sociais era "imperdoável" e se tornara o principal tema sobre o filme.
“Infelizmente, está a ocupar o espaço todo e isso deixa-me muito triste”, disse à publicação Deadline.
"É muito difícil para mim pensar no trabalho que fiz com a Karla Sofía. A confiança que partilhámos, a atmosfera excecional que tivemos no set foi realmente baseada na confiança. E quando se tem esse tipo de relacionamento e de repente lê algo que aquela pessoa disse – coisas que são absolutamente odiosas e dignas de serem odiadas – é claro que esse relacionamento é afetado. É como se tivesse caído num buraco. Porque o que Karla Sofía disse é imperdoável.”, explicou.
O realizador admitia que o que está a passar desde 30 de janeiro tinha um impacto negativo na campanha para os Óscares.
“Não falei com ela e não quero. Ela está numa abordagem autodestrutiva na qual não posso interferir, e realmente não percebo por que continua. Porquê é que ela está a prejudicar-se a si mesma? Porquê? Não percebo e o que também não percebo sobre isto é por que está a prejudicar pessoas que eram tão próximas dela. Estou a pensar em como ela está a magoar os outros, em como está a magoar a equipa e todas estas pessoas que trabalharam tanto neste filme. Estou a pensar em mim, estou a pensar na Zoë [Saldaña] e na Selena [Gomez]. Não consigo perceber por que é que ela continua a prejudicar-nos."
Referindo-se às declarações posteriores da atriz, feitas à revelia do estúdio Netflix, onde pediu desculpa e insistiu que 'não é racista', o realizador partilha a opinião dos que acham que não foi convincente: "Está realmente a fazer-se de vítima. Está a falar de si mesma como vítima, o que é surpreendente. É como se pensasse que as palavras não magoam."
Zoë Saldaña, nomeada para Melhor Atriz Secundária e que passou para o centro da nova campanha da Netflix para os Óscares que praticamente apagou Karla Sofía Gascón, evitou críticas tão duras, falando em 'tristeza', 'desilusão' e ainda o desejo de defender e celebrar "Emília Pérez" e a sua primeira nomeação para os Óscares.
"Estou triste. Uma e outra vez, essa é a palavra porque esse é o sentimento que vive no meu peito desde que tudo aconteceu. Também estou desiludida”, disse Zoë Saldaña à revista Variety num artigo publicado na quinta-feira.
E acrescentava: "Não posso falar pelas ações de outras pessoas. Tudo o que posso atestar é a minha experiência, e nunca, num milhão de anos, acreditei que estaríamos aqui".
Recusando dizer se tinha falado entretanto com Karla Sofía Gascón, a atriz fez questão de referir que a pessoa que conheceu na rodagem não é a que viu representada nas redes sociais, mas não podia atestar o que as pessoas fazem na sua vida privada.
Havia ainda a esperança de que o legado de "Emília Pérez" seja reconhecido: 'Serei sempre uma pessoa otimista. Não fui criada para ter qualquer julgamento negativo em relação a pessoas de qualquer grupo em qualquer comunidade. Enquanto sou essa pessoa, ainda posso defender um trabalho do qual me posso orgulhar.'
A atriz também disse que tem sentido o apoio do interior da indústria e 'ainda me estou a permitir sentir esta alegria porque nos unimos como uma equipa'.
'Mas também somos pessoas responsáveis por tudo o que dizemos e fazemos', notava.
'Podem pensar que é apenas uma declaração que arranjei com a minha equipa, mas no final de contas, quando não posso falar em nome de mais ninguém, só posso falar em nome de mim mesma e do que testemunhei. E isso precisa ser suficiente por enquanto. Ainda estou a processar. Sem dúvida que acho que isto é uma lição. Tudo na vida é uma lição'.
A 97.ª edição dos Óscares está marcada para 2 de março, em Los Angeles, Califórnia, com apresentação de Conan O’Brien.
TRAILER "EMÍLIA PÉREZ".
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