A Arábia Saudita, o reino ultraconservador onde o álcool, o cinema ou o teatro estão entre as proibições, decidiu autorizar as salas de cinema a partir do início de 2018, após mais de 35 anos de proibição, anunciou esta segunda-feira o ministério saudita da Cultura e Informação.

"Serão autorizados os cinemas comerciais a partir do início de 2018, pela primeira vez em mais de 35 anos", afirmou o ministério, que começará a conceder licenças imediatamente.

A medida faz parte de um ambicioso plano de reformas do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, que procura promover espetáculos e eventos de entretenimento, apesar da oposição dos círculos conservadores, no âmbito de um ambicioso plano de reformas e diversificação económica e cultural intitulado Visão 2030.

Em janeiro, as propostas no sentido de reabrir as salas tinham sido rechaçadas pelo xeque Abdulaziz al-Sheikh, o Grande Mufti da Arábia Saudita.

Durante o seu programa semanal na televisão, a autoridade máxima religiosa do país proclamou que as salas podem exibir filmes "vergonhosos, imorais, ateístas ou podres" e usar obras importadas "para mudar a nossa cultura".

"Não existe nada de bom em concertos de cantores, entretenimento dia e noite, e abrir salas de cinema é um convite à mistura de sexos. Espero que os que estão à frente da Autoridade para o Entretenimento sejam guiados para passar do mal para o bem e não abrir as portas ao diabo", acrescentou.

Em outubro de 2016, um raro espetáculo de hip hop galvanizou o público jovem em Riade e algumas autoridades chegaram a referir-se ao início de uma nova era no reino. O mesmo aconteceu com a primeira edição da Comic Con da Arábia Saudita em fevereiro deste ano, que respirou, através de séries ou videojogos, algum ar de liberdade, que a Autoridade Saudita de Entretenimento disse que apoiou por causa do "forte apelo familiar".

Mais da metade dos sauditas tem menos de 25 anos e até agora, os que podem deslocam-se ao Bahrein aos fins de semana apenas para ir ao cinema, ou voam para o Dubai.

Apesar das autoridades extremistas, um realizador saudita também adiantou que é possível adquirir milhares de filmes em DVDS pirateados por dois ou três dólares, vê-los por satélite ou recorrendo à partilha de ficheiros pela internet, que tem uma dimensão gigantesca.

Desde o início do milénio, apenas 12 filmes nacionais estrearam na Arábia Saudita. A longa-metragem "O Sonho de Wadjda", curiosamente dirigida por Haifaa Al-Mansur, a primeira cineasta feminina do país, foi aclamada pela crítica internacional e premiada em festivais estrangeiros em 2013.

Nos últimos três anos também se realiza um festival de cinema em Dammam, no leste do país, que dura cinco dias, com o quarto previsto para fevereiro. A lei é contornada pelo facto de serem visionamentos reservados.

O Grande Mufti ficou conhecido no Ocidente após emitir uma fatwa em 2012 autorizando o casamento de raparigas a partir dos 10 anos, argumentando que "uma boa educação parental torna as raparigas dessa idade prontas para desempenhar todos os deveres conjugais".

Em 2015, também defendeu que a prática do xadrez devia ser banida.