"Passaram 12 anos da estreia, por isso é pouco provável que quem tem menos de 22 ou 23 anos tenha visto o filme no cinema. O que, de certa forma, quer dizer que nunca viu o filme", assinala James Cameron. "Fizemos o filme a pensar no grande ecrã, num ecrã gigante, em 3D. E agora remasterizámo-lo em 4D e com algumas cenas em 48 fotogramas por segundo", conta o realizador do ambicioso épico de ficção científica estreado em 2009, decisivo para a forma como a indústria cinematográfica encarou o 3D e que se tornou o filme mais rentável de sempre nas bilheteiras mundiais, tendo arrecadado 2,84 mil milhões de dólares (valores não ajustados pela inflação).
"Visualmente, está melhor do que nunca. E há tanta gente que pode vê-lo, toda uma nova geração de espectadores a aparecer. Mesmo que tenham gostado do filme em streaming ou em Blu-ray, ainda não o viram da forma que pretendemos", declara o autor de blockbusters tão marcantes como os primeiros títulos "Exterminador Implacável", "A Verdade da Mentira" ou "Titanic".
"O 3D foi abraçado pelo grande público durante algum tempo. 'Avatar' ganhou o Óscar de Melhor Fotografia com uma câmara 3D digital. Nenhuma câmara digital tinha conseguido o Óscar de Melhor Fotografia. E nos dois ou três anos seguintes, essas câmaras foram utilizadas por diretores de fotografia que ganharam óscares", lembra.
"Depois desses três ou quatro anos, o 3D parece ter desaparecido. Mas não desapareceu. Só passou a ser aceite. Agora é parte das opções que temos ao irmos ao cinema ver um blockbuster. Podemos escolher ver em 2D ou 3D", descreve. "Comparo-o um pouco ao cinema a cores. Quando surgiu, foi um acontecimento. As pessoas iam ao cinema ver um filme porque era a cores. E na altura do 'Avatar', as pessoas iam ver filmes por serem em 3D. Mas hoje em dia já ninguém vai ver um filme só porque é em 3D. Vai por todos os outros fatores pelos quais escolhe um filme. Por isso, julgo que teve impacto na forma como os filmes são apresentados. Em termos de efeito cultural mais longo, descobriremos quando as pessoas quiserem ir a 'Avatar 2'".
Procura, descoberta e pertença
"Avatar: O Caminho da Água", a muito aguardada sequela, estreia-se a 15 de dezembro e promete estar entre os acontecimentos cinematográficos da reta final de 2022. O terceiro filme, já rodado, irá chegar aos cinemas em dezembro de 2024, mas Cameron avisou que o quarto e o quinto, que foram planeados para 2026 e 2028, dependem do bom desempenho do segundo nas bilheteiras. Já quem quiser (re)descobrir como tudo começou no grande ecrã, em IMAX e 3D numa versão remasterizada em 4K HDR, pode fazê-lo a partir desta quinta-feira, 22 de setembro (depois de reposições em 2010, numa edição especial com mais oito minutos exclusivamente em 3D, e em 2014, levando o filme a convocar 1.207.749 espectadores em Portugal).
E que história é esta? "É a história de um jovem que foi para outro planeta à procura de alguma coisa. À procura de se integrar. E encontrou-a numa outra cultura da qual não sabia nada", sintetiza Sam Worthington, que encarna o protagonista, Jake Sully, ex-Marine que se vê envolvido numa saga intergalática de criaturas azuis com cauda que rapidamente ganharam lugar no imaginário cinematográfico.
"Acho que o sentido de pertença nos toca a todos. Estamos todos à procura do nosso pequeno clã, da nossa claque, do grupo de pessoas que nos dá conforto e confiança, e com o qual possamos aprender. E acho que há algo de muito interessante nisso", conta o australiano. "E não me parece que esse tema tenha sido forçado. Acho que todos tivemos, globalmente, essa sensação de forma subconsciente ao vermos o filme, esse desejo de pertença".
"Tive oportunidade de experimentar muitas coisas", recorda Zoe Saldana ao SAPO Mag, sublinhando o ambiente de filmagens "muito lúdico e muito livre". A atriz que encarnou Neytiri assume que foi graças a "Avatar" que conseguiu "construir uma carreira, um estilo de vida, sustentar uma família, o que para um artista é algo muito importante". E não só: "Julgo que enquanto artista que adora, incondicionalmente, o processo de contar histórias, instigou-me a ir mais longe", acrescenta.
Quando a fantasia abraça a ciência e a natureza
Outro nome do elenco, Sigourney Weaver destaca o pioneirismo técnico e a visão de James Cameron. "Fiquei impressionada com a utilização do 3D, senti-me como se estivesse na mesma sala do Jake enquanto ele tem de tomar algumas decisões. Que estava com a Neytiri quando ela percorre a floresta". Para a atriz, esta experiência "retirou todas as barreiras entre mim e o mundo em cenas emotivas com os humanos ou em Pandora".
A norte-americana destaca ainda que o realizador "é um cientista, esse é talvez o seu primeiro amor". "E orgulhei-me por interpretar a Dra. Augustine, que é uma cientista", confessa. "O Jim ofereceu ao mundo, ao público e à minha personagem este universo com uma nova flora e fauna, e levou-o a sério. E os Na'vi com a sua linguagem e tudo isso. Até coisas que parecem impossíveis, como as montanhas móveis, têm ciência por trás, incrivelmente. Tive muito orgulho por fazer parte da ciência, de não subestimar a inteligência do público. Na verdade, estamos a valorizá-la", defende.
"Estamos a oferecer novas formas de pensar nas coisas. E se puder inspirar mais raparigas a tornarem-se cientistas e não fumadoras... [risos] acho que isso me traz alguma redenção".
James Cameron alude a "um mundo com personagens de outro mundo" no qual "alguns atores as interpretaram com olhos grandes, caudas, essas coisas". "Acho que nos afastou dos nossos problemas do dia a dia, do discurso político e do caos e da desordem da vida real. E levou-nos para um mundo em que há conflito. Há muita coisa importante a acontecer. Mas tudo através das lentes da fantasia e da ficção científica", descreve.
O reencontro com a natureza também o motivou a idealizar esta saga, explica. "Quando somos crianças, adoramos a natureza de forma inata. Adoramos animais. Adoramos estar em contacto com a natureza. E à medida que a nossa vida evolui, afastamo-nos mais e mais dela. Parece-me que a sociedade em geral em todo o mundo está cada vez mais a sofrer de um défice de atenção em relação à natureza, de alguma forma", lamenta. "Acho que o filme nos leva de volta a esse sentido de maravilhamento infantil em relação à natureza. Em relação à grandiosidade, complexidade e beleza da natureza".
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