O sucesso global e histórico de "Black Panther" e do seu elenco basicamente negro pode finalmente prever dias felizes para realizadores e atores negros, ou o novo filme de super-herói da Marvel será apenas uma exceção que confirma a regra?

Com um orçamento faraónico, destinado à sua produção e promoção, de 350 milhões de dólares, para o primeiro fim de semana de exibição na América do Norte, o 18º filme do universo cinematográfico da Marvel arrecadou 242,2 milhões de dólares, para um total de 426,6 milhões em todo o mundo.

"As primeiras receitas estrangeiras de 'Black Panther' com o mito de que filmes predominantemente negros não podem render dinheiro na Europa", explica Jeff Bock, analista da Exhibitor Relations, uma empresa que analisa as receitas cinematográficas.

"Do ponto de vista dos resultados das bilheteiras, nunca teria acreditado nisso", acrescenta, lembrando apenas o sucesso da trilogia "Blade" com Wesley Snipes no início dos anos 2000.

"Black Panther", uma adaptação das aventuras do primeiro super-herói negro criado pela Marvel em 1966, foi dirigido por Ryan Coogler ("Creed - O Legado de Rocky") e traz Chadwick Boseman ("Get On Up"). É o primeiro do universo cinematográfico Marvel a centrar-se num justiceiro negro e conta a história do luta do rei T'Challa para defender a sua nação Wakanda, a mais avançada do universo Marvel.

A Disney, proprietária da Marvel, explicou que espera um boca-a-boca "particularmente forte" entre os espectadores, de modo que as vendas dos bilhetes não caiam com estrondo nas próximas semanas.

E agora ?

Agora que sabem que os filmes com protagonistas negros podem interessar a um público branco em todo o mundo e ser lucrativos, os grandes produtores de Hollywood poderão dar as chaves dos estúdios mais frequentemente para realizadores negros?

"Da mesma forma que "Mulher-Maaravilha" quebrou o limite e mostrou que as mulheres podiam arrasar nas bilheteiras, 'Black Panther' deve provar que os negros americanos podem liderar os 'blockbusters' com grandes produções", acredita Jeff Bock.

O exemplo consagrado até agora citado é o da saga "Madea", de Tyler Perry: mais de 500 milhões de dólares com oito filmes desde 2005, mas com apenas 1% das receitas a virem dos mercados europeus, onde a maioria nem sequer estreou nas salas.

Para o crítico Eric Kohn, "Black Panther" dá continuidade às produções de sucesso realizadas recentemente por americanos negros como "Moonlight" ou "Foge", que concorre este ano aos Óscares.

"De certa forma, é a conquista em grande escala de todos esses elementos cinematográficos americanos", disse ele no 'podcast' "Screen Talk" do 'site' IndieWire's .

"Obviamente, haverá várias sequelas e o filme permanecerá relevante nos próximos anos. A questão agora é o que mais podemos esperar", acrescentou

O próximo filme Disney a capitalizar o sucesso de "Black Panther" é "Uma Viagem no Tempo", dirigido por Ava DuVernay ("Selma"), a primeira mulher negra a dirigir um 'blockbuster' de mais de 100 milhões de dólares.

Em destaque, principalmente atores não-brancos: Oprah Winfrey, Mindy Kaling, Storm Reid, Gugu Mbatha-Raw e Michael Pena.

"Este filme não é necessariamente visto como tendo a mesma abordagem em termos de representação como 'Black Panther'. Será que permitiremos que este assunto seja abordado noutros filmes que além deste?", questiona Eric Kohn.

"Podemos pensar que sim, porque obviamente vale a pena. Mas ainda existe essa desconexão na nossa indústria. Se ignorarmos os exemplos óbvios - os filmes - vemos que aqueles que controlam os estúdios continuam sendo os brancos", conclui.