Brian Cox tem um novo livro de memórias que está a causar sensação, "Putting the Rabbit in the Hat" [Colocar o Coelho na Cartola, em tradução literal], lançado na semana passada na Grã-Bretanha.
Apesar dos elogios a Alan Rickman, Spike Lee, Scarlett Johansson, Keanu Reeves e Morgan Freeman, são os excertos em que se mostra tão implacável como o magnata Logan Roy que interpreta na série de sucesso da HBO "Succession" que se tornaram virais, revelando o que pensa sobre outros atores e realizadores, com quem se cruzou ou não, como Johnny Depp, Steven Seagal, Michael Caine, Jonathan Pryce, Edward Norton ou Quentin Tarantino.
“Estou à espera de provavelmente nunca mais voltar a saber de algumas pessoas, mas é a vida", admitiu numa entrevista ao the Big Issue, que também revela vários excertos.
Com 75 anos, o ator escocês explicou a filosofia da sua obra ao jornal "The Scottsman", colocando o ênfase na frontalidade: "Foi catártico, necessário. Foi importante para mim porque atingi uma certa idade e queria olhar para certas coisas à luz da experiência e ser o mais verdadeiro possível. Claro, há coisas que deixei de fora".
"Embora tenha a certeza que é simpático", para Brian Cox o colega Johnny Deep "é tão exagerado, tão sobrevalorizado. Quero dizer, ‘Eduardo Mãos de Tesoura'. Vamos reconhecer, se aparecer com umas mãos daquelas e caracterização pálida e cheia de cicatrizes, não se precisa de fazer nada. E ele não fez. E, subsequentemente, ainda fez menos".
"Mas as pessoas adoram-no", acrescenta, antes de recordar os problemas recentes com o tumultuoso divórcio da ex-mulher Amber Heard: "Claro que não gostam tanto dele por estes dias".
Admitindo que teria sido uma "roleta de dinheiro", Brian Cox não se mostra arrependido de ter recusado ser governador Weatherby Swann nos filmes "Piratas das Caraíbas", que descreve como "o espetáculo Johnny Depp como Jack Sparrow".
Já a experiência da rodagem de "O Homem que Brilha" (1996) não parece ter positiva, pois garante que "Steven Seagal é tão ridículo na vida real quanto aparece no ecrã. Irradia uma serenidade estudada, como se estivesse num patamar superior aos outros, e embora ele esteja sem dúvida num patamar diferente, provavelmente não é um que seja superior".
E acrescenta que o artista de artes marciais sofre do "síndrome de Donald Trump de se considerar muito mais capaz e talentoso do que realmente é, aparentemente alheio ao facto de que um exército de pessoas está a ajudá-lo a sustentar a sua ilusão".
Brian Cox reconhece o estatuto de lenda a Michael Caine, mas critica a sua bem conhecida aversão pública aos colegas que abusavam do álcool, muitos dos quais identifica no livro: "Não descreveria Michael Caine como o meu favorito, mas ele é Michael Caine. Uma instituição. E ser uma instituição irá sempre bater ter amplitude [como ator]. O Caine desprezava e provavelmente ainda despreza a brigada de atores bêbados [britânicos], e um dos seus alvos, claro, era Richard Harris, outro bêbado famoso que se tornou um amigo".
Tendo trabalhado tanto com Jonathan Pryce e Christopher Walken em "O Caso do Colar" (2001), ficou uma impressão duradoura que deixa nas entrelinhas: "O Christopher Walken ficou um bocado confuso com o Jonathan Pryce, o que é compreensível, sendo o Jonathan um peixe interessante, por vezes algo sombrio. E quando se consegue assustar o Christopher Walken...".
O livro também tem opiniões sobre Gary Oldman ("ligeiramente altivo"), Daniel Day Lewis ("pateta", mas "magnífico"), David Bowie ("um miúdo magricela e não um ator especialmente bom. Deu uma estrela pop melhor, isso sem dúvida") ou Michael Gambon, um dos alvos preferidos.
Sobre Quentin Tarantino, "acho o seu trabalho meretrício. É tudo superfície. Mecanismos de argumento no lugar de profundidade. Estilo onde deveria haver substância. Saí a meio do 'Pulp Fiction'".
E se o filme mais recente, "Era Uma Vez... em Hollywood", tenha acabado por "não ser tão mau como temia, ainda não foi suficientemente bom para me converter", Brian Cox não deixa de reconhecer que "se o telefone tocasse, trabalharia com ele".
E os elogios...
O livro de memórias também tem elogios, nomeadamente a Spencer Tracy, Peter O’Toole e Richard Burton, além de atores com quem trabalhou, principalmente no teatro.
Um deles foi o "grande amigo Alan Rickman", o saudoso professor Snape dos filmes "Harry Potter": "um dos homens mais doces, gentis, simpáticos e incrivelmente inteligentes que já conheci. Antes de se tornar ator, era designer gráfico e trouxe a enorme precisão laser dessa profissão para o seu trabalho".
Scarlett Johansson, com quem trabalhou em "Match Point" (2005), é "divina, divertida, inteligente, maravilhosa" e "encantadora", e Brian Cox também é generoso com dois colegas que encontrou em "Perseguição Diabólica" (1996), que teve uma produção caótica: Keanu Reeves é alguém "introspetivo" que "realmente se tornou bastante bom ao longo dos anos" e "tenho o prazer de dizer que, embora estivesse com frio e irritado, e a ver a confusão reinar à sua volta, Morgan Freeman manteve-se um completo cavalheiro. A ser o verdadeiro epítome de Morgan Freeman. O Morgan Freeman que esperamos conhecer. O Morgan Freeman que encontramos nos nossos sonhos".
Nos excertos publicados, é Spike Lee, que encontrou em "A Última Hora" (2002), que sai mais bem visto: "Simplesmente um dos melhores realizadores com quem alguma vez trabalhei".
Elogiando "Não Dês Bronca" (1989) como um "filme perfeito e absolutamente intemporal", Brian Cox acrescenta que "as pessoas associam-no ao tema afro-americano, o que está bem e é justo, mas não percebem que ele é um cineasta consumado [...] O seu conhecimento de cinema é incomparável. Além de mais, nunca conheci um realizador tão diplomático”.
Um exemplo dessa qualidade pode ser o elogio que faz por ter colocado Edward Norton "muito firmemente" no seu lugar durante a rodagem de "A Última Hora", um ator com a reputação de extravasar as suas funções nos filmes que descreve como "um bom rapaz, mas um pouco chato porque gosta de se ver como argumentista-realizador".
Comentários