Ryan Gosling, Tom Hanks, Harrison Ford... encontrar estrelas do cinema é algo comum em Budapeste, que tornou-se a Hollywood europeia graças aos incentivos fiscais e instalações de alta tecnologia construídas pelo governo para atrair os grandes estúdios.

Harrison Ford escolhe a sua bicicleta numa loja especializada, Hugh Jackman é fotografado durante uma corrida na rua, Tom Hanks proclama a sua admiração pela capital da Hungria, "a cidade mais linda depois de San Francisco": Budapeste e seus moradores tiveram embaixadores de luxo em 2016.

O mais recente foi Ryan Gosling, com direito a uma reportagem da revista americana GQ sobre os cinco meses de filmagens de "Blade Runner 2049" num estúdio da capital.

A felicidade das autoridades húngaras teria sido total se o ator, sem conhecer as subtilezas políticas locais, não tivesse posado numa das imagens com o jornal Magyar Nemzet, que pertence ao maior inimigo do primeiro-ministro Viktor Orban. O canal TV2 exibiu a foto com a manchete do jornal borrada (o canal pertence ao empresário Andy Vajna, ligado a Orban, e também a figura mais importante da indústria do cinema no país, com boas relações com produtores internacionais).

Hungria pioneira

Na concorrência entre as capitais europeias para atrais cineastas em busca de locais para rodagens, a Hungria foi um dos primeiros países do ex-bloco comunista a adotar, em 2004, um sistema vantajoso de incentivos fiscais e subsídios, aperfeiçoado com o passar do tempo.

Atualmente, o dispositivo é um dos mais competitivos do continente e oferece reembolso de 25% dos custos assumidos pelas produções estrangeiras, que juntamente com as locais injetaram 271 milhões de euros na economia do país este ano, contra 105 milhões em 2011, segundo o governo.

"O setor da produção contribui com 0,15% do PIB húngaro, a maior percentagem na Europa", disse à AFP Agnes Havas, diretora do Fundo Nacional de Apoio ao Cinema da Hungria, criado em 2011 por Andy Vajna para apoiar a indústria cinematográfica húngara.

Produtor das sagas "Rambo" e "Exterminador Implacável", Vajnaa construiu toda a carreira nos EUA. Desde que regressou ao país, tornou-se a figura chave do cinema húngaro e foi nomeado por Viktor Orban comissário húngaro do filme.

Tornou-se ainda um dos acionistas que criaram o estúdio Korda, um dos mais bem equipados com alta tecnologia no continente.

Grandes produções entre vinhas

Nas instalações ultramodernas cercadas de vinhas, a 20 quilómetros do centro da capital, Hollywood rodou filmes como "Hellboy", "Inferno" ou "Perdido em Marte", com cenários que incluíam quatro mil toneladas de terra para simular o planeta vermelho.

Graças às instalações, aos incentivos fiscais e a uma mão de obra experiente e barata, "Budapeste tornou-se a segunda plataforma europeia de filmagens depois de Londres. E estamos com apenas 75% de nossas capacidades", afirmou Daniel Kresmery, diretor de produção e desenvolvimento dos estúdios Korda.

O setor cinematográfico da Hungria é composto por quase 100 empresas e tem quase quatro mil funcionários, sem contar o que arrecada para o turismo.

Os cineastas independentes também contribuem para o fenómeno e acabam por beneficiar.

"Os serviços são de nível elevadíssimo", confirmou o cineasta Kornél Mundruczó, que disse estar "orgulhoso" da sua cidade, onde rodou a seu longa-metragem mais recente.

O realizador Laszlo Nemes, Grande Prémio do Festival de Cannes e Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015 por "O Filho de Saul", é outra figura importante do cinema húngaro.

A atual geração demonstra, de acordo com Andy Vajna, que estimular o cinema comercial não é incompatível com o surgimento de novos talentos.