José Miguel Ribeiro (na imagem) vem acompanhando as diferentes edições do festival de cinema de animação que decorre até domingo em Espinho - foi aí, aliás, que viu iniciada a carreira internacional de prémios do seu filme «A Suspeita» (2000) - e admitiu à Lusa que o facto de o certame não ter obras nacionais na competição global não o surpreende, considerando que à edição de 2013 concorrem os filmes produzidos no ano anterior.
«É preciso ter em conta que 2012 foi o ano zero do apoio ao cinema de animação português», explica o realizador. «Esse foi o pior ano de sempre na história da animação nacional, porque foi o primeiro em que o Instituto do Cinema e do Audiovisual [ICA] não teve nenhum concurso [para atribuição de apoios à produção e ao desenvolvimento]».
Recordando que «durante 30 ou 40 anos houve uma continuidade de produção nacional cofinanciada pelo ICA, cujo apoio sempre teve um grande peso para ajudar à captação de financiamento complementar», José Miguel Ribeiro defende: «Independentemente da qualidade dos filmes portugueses que tenham sido selecionados para o Cinanima, o facto é que a produção foi menor e esta é apenas a ponta do icebergue do que está para vir».
Para o presidente da Casa da Animação, o pior ainda está para vir e tornar-se-á gradualmente mais evidente até 2015. «Como um filme animado demora em média dois a três anos a produzir, os efeitos deste corte vão notar-se mais em 2014 e 2015», observa. «Isto ainda vai piorar e esses vão ser anos muito complicados».
José Miguel Ribeiro realça ainda que este desinvestimento na animação portuguesa começou a acentuar-se precisamente quando a produção nacional do género se afirmava a nível mundial pela sua grande qualidade. «O ano 2000 foi aquele que mais apoios recebeu do ICA desde que há registo, mas, a partir daí, vêm tirando à animação nacional o pouco que existia e deixam-na numa situação dramática, que pode ter consequências catastróficas», lamenta o realizador.
Paulo D'Alva partilha da opinião do presidente da Casa da Animação quanto aos efeitos negativos do chamado «ano zero» desse género cinematográfico em Portugal, mas não está tão pessimista. Tendo a concurso no Cinanima de 2013 «Carrotrope», uma curta de oito minutos produzida em 2012 com apoios atribuídos pelo ICA e pela RTP em 2011, o realizador acredita que «é sempre possível dar a volta».
«É verdade que não houve concursos em 2012 e que sem o ICA é muito difícil produzir», reconhece. «Mas como este é um trabalho movido sobretudo pela paixão, com gente que lhe dedica muito do seu tempo sem contar ganhar nada com isso, ainda se vão produzindo coisas interessantes».
Nas atuais circunstâncias, esses projetos «implicam é mais afinco e muita persistência», conclui Paulo D'Alva. «Este desinteresse é inédito e o Governo quer lavar daí as suas mãos, mas continuam a sair filmes que chegam aos concursos e o que é preciso é descobrir outros métodos de produção e outras formas de financiamento», declara o realizador.
«Não podemos ficar de braços cruzados à espera do apoio do Estado», conclui.
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