A sala de cinema Ideal, em Lisboa, vai programar uma semana de filmes em solidariedade com Jafar Panahi, Mohammad Rasoulof e Mostafa Aleahmad, três realizadores iranianos opositores do regime de Teerão que foram detidos este mês.

"A perseguição a realizadores, como a qualquer outro artista, apenas por expressarem as suas ideias através dos seus filmes, é uma situação inaceitável", afirmou hoje a direção do cinema Ideal em comunicado.

Os realizadores Mohammad Rasoulof e Mostafa Aleahmad foram detidos a 8 de julho, acusados de perturbação da ordem pública e de terem encorajado protestos contra o governo iraniano, após o colapso de um prédio, em maio, no sudoeste do Irão, que causou mais de 40 mortos.

Na altura, um grupo de realizadores iranianos, liderado por Rasoulof, publicou uma carta aberta pedindo a deposição de armas das forças de segurança em resposta à "corrupção" e "incompetência" do governo.

Dias depois, também o realizador Jafar Panahi foi detido em Teerão, com os tribunais a obrigarem-no a cumprir uma pena de seis anos de prisão, de acordo com uma sentença proferida em 2010.

Jafar Panahi

Panahi, de 62 anos, um dos realizadores mais premiados do Irão, tinha ido condenado em 2010 por "propaganda contra o regime", depois de apoiar o movimento de protesto de 2009 contra a reeleição do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad como Presidente do Irão.

O realizador recebeu uma pena de seis anos de prisão e 20 anos de interdição de viajar, filmar ou falar nos ‘media’. Detido por dois meses em 2010, Panahi vivia em regime de liberdade condicional, que poderia ser revogado a qualquer momento.

Recordando que "o cinema iraniano tem tido uma presença regular e muito significativa" nas salas portuguesas, o Cinema Ideal programará filmes do Irão entre 28 de julho e 3 de agosto, abrindo com "Táxi" (2015), rodado e protagonizado por Jafar Panahi clandestinamente.

Em 2015, Panahi foi distinguido com o Urso de Ouro do festival de Berlim, mas não pode receber o prémio porque estava impedido de sair do país.

No Ideal serão ainda exibidos "Três Rostos" (2018), também de Panahi, "O mal não existe" (2020), de Mohammad Rasoulof, premiado em Berlim em 2020, "A lei de Teerão", Saeed Roustaee, e "O vendedor" (2016), de Asghar Farhadi, Óscar de melhor filme estrangeiro em 2017.

A eles juntam-se os filmes "Shirin" (2008) e "Um alguém apaixonado" (2012), de Abbas Kiarostami, aquele "que foi durante muitos anos a figura tutelar do cinema iraniano".

A semana de cinema iraniano é anunciada numa altura em que se estreia nos cinemas portugueses o filme "Estrada Fora", uma primeira obra de Panah Panahi, filho de Jafar Panahi.

O filme, inspirado na história da irmã quando saiu do Irão, acompanha uma família em viagem, de carro, tentando chegar à fronteira, para escapar ao regime opressivo do Irão.