A caminho dos
Óscares 2023
Com 11 nomeações, "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, parte na frente da corrida para a cerimónia dos Óscares de 12 de março.
As nomeações para a 95.ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas foram anunciadas esta terça-feira pelos atores Riz Ahmed e Allison Williams em Los Angeles.
Entre os filmes mais nomeados estão ainda "Os Espíritos de Inisherin" (9), "A Oeste Nada de Novo" (9), "Elvis" (8), "Os Fabelmans" (7), "Tár" (6) e "Top Gun Maverick" (6), enquanto "Emancipação", a super produção da Amazon Prime Video com Will Smith, não recebeu qualquer nomeação.
Num feito histórico, um filme português surge pela primeira vez em 95 anos na corrida às estatuetas douradas de Hollywood: "Ice Merchants”, de João Gonzalez está nomeado na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação.
Os outros finalistas portugueses não chegaram às nomeações: a curta de animação "O Homem do Lixo", de Laura Gonçalves, e a curta em imagem real "O Lobo Solitário", de Filipe Melo.
Questionado pela Lusa sobre se algum dia teria imaginado que o seu filme se tornaria o primeiro português nomeado a um Óscar, João Gonzalez respondeu: “Não, de todo”.
“Comecei este filme como filme de escola, comecei a fazê-lo no meu quarto pequeno de Londres, nunca imaginei que poderia tomar este tipo de proporções. Foi uma surpresa muito agradável. Foram dois anos de trabalho, é muito gratificante, obviamente, sermos valorizados”, partilhou.
Embora assine o filme, João Gonzalez fala num “trabalho em conjunto”.
“O filme foi possível porque tive um conjunto de gente incrível a colaborar e a nomeação é para todos eles”, afirmou, acrescentando que estão todos “muito felizes” com a nomeação.
João Gonzalez destacou o “efeito mediático grande” dos Óscares, para referir que ele e a equipa envolvida no filme veem a nomeação, “acima de tudo, como uma boa possibilidade para espalhar o cinema português, e a grande qualidade que está a viver de momento, e que já vive há bastante tempo”.
O filme, sem diálogos, tem como ponto de partida a imagem de uma casa numa montanha, debruçada num precipício. A partir daí, o realizador desenvolveu a história de um pai e um filho, que produzem gelo na casa inóspita onde vivem, e de onde saltam todos os dias de paraquedas para o vender na aldeia, no sopé da montanha.
João Gonzalez assina a realização e a banda sonora do filme e divide a animação, em 2D, com a polaca Ala Nunu.
Agora, o realizador português enfrenta uma forte concorrência, sendo o mais popular “O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo”, disponível na Apple TV+, baseado no célebre livro do mesmo título de Charlie Mackesy, que realizou o filme com Peter Baynton
Os outros nomeados também têm dado muito que falar no mundo da animação: o norte-americano “My Year of Dicks”, realizado por Sara Gunnarsdótti, premiado no Festival de Annecy; o canadiano “The Flying Sailor”, da dupla Amanda Forbis e Wendy Tilby, produzido pelo incontornável National Film Board of Canada; e o australiano “An Ostrich Told Me The World Is Fake And I Think I Believe It”, curta em 'stop-motion' de Lachlan Pendragon, que já conquistou o troféu da Academia destinado a filmes de estudantes.
Na corrida a Melhor Filme, há filmes para todos os gostos... e sucessos de bilheteira
Grande fenómeno da primeira metade de 2022 junto dos críticos e nas bilheteiras ao seu nível (com um orçamento de 25 milhões de dólares, as receitas chegaram aos 100 milhões), a produção independente "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" não perdeu o ímpeto no resto do ano e tornou-se uma forte presença na temporada de prémios.
A comédia do absurdo centrada na dona de uma lavandaria a passar por uma auditoria das Finanças que é absorvida por uma batalha interdimensional e descobre um multiverso com milhares de versões suas foi nomeada esta terça-feira para 11 Óscares: Melhor Filme, Realização (Daniel Kwan & Daniel Schienert), Atriz (Michelle Yeoh), Ator Secundário (Ke Huy Quan, conhecido ator infantil de "Indiana Jones e o Templo Perdido" e "Os Goonies"), Atrizes Secundárias (Jamie Lee Curtis e Stephanie Hsu), Argumento Original, Montagem, Guarda-Roupa, Banda Sonora e Canção.
Pela primeira vez em vários anos, a corrida a Melhor Filme equilibra grandes produções e sucessos de bilheteira (os chamados "blockbusters") como "Top Gun: Maverick" (6 nomeações ao todo) e "Avatar: O Caminho da Água" (4), que são os recordistas comerciais de 2022 (que não acontecia desde as nomeações para "E.T" e "Tootsie" em 1982), com títulos de prestígio como "Os Espíritos de Inisherin" (9), "Os Fabelmans" (7), "Tár" (6) e "A Voz das Mulheres" (2).
Outro sucesso é "Elvis", com oito nomeações, uma delas para a diretora de fotografia Mandy Walker, apenas a terceira mulher nomeada na categoria em 95 anos.
Num forte sinal do poder cada vez maior do contingente de votantes internacionais, foram ainda nomeados para Melhor Filme o alemão "A Oeste Nada de Novo" (9) e o sueco (mas grande parte falado em inglês) "Triângulo da Tristeza" (3), vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Com a primeira, a Netflix "salvou" a honra das plataformas de streaming: com divulgação praticamente inexistente, a produção anti-guerra afirmou-se como uma grande sensação nas últimas semanas na temporada, surpreendendo com as 14 nomeações e a liderança aos BAFTA (os prémios da Academia Britânica). Esta é uma nova adaptação do romance de Erich Maria Remarque, a primeira em alemão; uma versão norte-americana ganhou o Óscar de Melhor Filme de 1930.
Embora surjam nomeados noutras categorias, falharam a presença no grande prémio títulos como "Black Panther: Wakanda Para Sempre", "Babylon", "A Baleia" e "Aftersun".
O grande fenómeno de popularidade que é o épico "RRR: Revolta, Rebelião, Revolução" ficou apenas por uma nomeação, mas com uma consolação: "Naatu Naatu" é a primeira canção de um filme indiano na corrida aos Óscares e parte com favoritismo face aos temas por exemplo de "Black Panther" (primeira nomeação para Rihanna) ou "Top Gun: Maverick" (que coloca Lady Gaga novamente na disputa, quatro anos após ganhar com "Assim Nasce Uma Estrela").
Embora o favoritismo para Melhor Filme se incline para "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" ou "Os Espíritos de Inisherin", há quem aposte que Hollywood queira recompensar "Top Gun: Maverick" por trazer de volta públicos de todas as idades de volta aos cinemas após dois anos de pandemia e ser um grande sucesso comercial. Isso pode acontecer, mas os votantes da Academia deram dois sinais negativos: as ausências de Tom Cruise para Melhor Ator, Joseph Kosinski para Realização e, incrivelmente, a Fotografia (era o favorito para ganhar).
Renovação: grandes surpresas nas nomeações dos atores
Apesar das escolhas das associações de críticas e os prémios das organizações da indústria que fazem parte da temporada, os votantes da Academia conseguiram surpreender nas categorias de interpretação e, consequentemente, houve omissões inesperadas.
Num sinal de renovação, 16 dos 20 atores receberam a primeira nomeação nas suas carreiras; e dos quatro repetentes, dois não eram nomeados há décadas. E com várias organizações sempre a "vigiar" os prémios de cinema mais mediáticos do mundo, também não falta diversidade étnica, apesar das ausências inesperadas na corrida das atrizes negras Viola Davis e Danielle Deadwyler.
A competitiva categoria de Melhor Ator só tem estreantes nos Óscares, o que não acontecia desde 1934, com o veterano britânico Bill Nighy ("Viver") a juntar-se aos esperados Colin Farrell ("Os Espíritos de Inisherin"), Austin Butler ("Elvis"), Brendan Fraser ("A Baleia"), com o último, um dos favoritos sentimentais da temporada após muitos anos longe da ribalta, a ter um ligeiro ascendente.
A maior surpresa é Paul Mescal ("Aftersun"), ator irlandês de 26 anos revelado em 2020 com a minissérie "Normal People" e que será o protagonista da sequela de "Gladiador", a ultrapassar Tom Cruise ("Top Gun: Maverick"), Adam Sandler ("Hustle") ou Hugh Jackman ("O Pai").
A renovação também se encontra na corrida a Melhor Atriz, onde as repetentes são apenas Cate Blanchett ("Tár"), já com duas estatuetas e agora com a oitava nomeação da carreira, e Michelle Williams ("Os Fabelmans"), com a quinta candidatura e que contrariou as análises que diziam que ficaria de fora por causa da concorrência e deveria ter optado pela categoria das atrizes secundárias.
A elas juntam-se Michelle Yeoh ("Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo"), que a imprensa norte-americana destaca ser a primeira atriz que se "identifica" como asiática nomeada na categoria, Ana de Armas ("Blonde") e, confirmando as especulações nos últimos dias, Andrea Riseborough ("To Leslie"). Blanchett e Yeoh partem com favoritismo.
Além de Viola Davis ("A Mulher Rei") e Danielle Deadwyler ("Justiça para Emmett Till"), as ausências mais notadas, mas não inesperadas, são as de Olivia Colman ("Império da Luz") e Margot Robbie ("Babylon").
Conhecido pela série "Atlanta" e os filmes "Viúvas", "Eternals" e "Bullet Train (2022), Brian Tyree Henry chega ao momento mais elevado da sua carreira com uma inesperada nomeação como secundário pelo pouco visto "Causeway", juntando-se aos também estreantes Ke Huy Quan ("Tudo em Todo..."), também um grande favorito sentimental da temporada, Brendan Gleeson e Barry Keoghan ("Os Espíritos de Inisherin") e Judd Hirsh, o único repetente: o veterano de 87 anos esteve na corrida nesta categoria com "Gente Vulgar"... de 1980!
Como esperado, Angela Bassett conseguiu a primeira nomeação de interpretação num Universo Cinematográfico Marvel com "Black Panther: Wakanda Para Sempre", como Atriz Secundária, a segunda da carreira: a primeira foi há 29 anos para Melhor Atriz pela interpretação de Tina Turner em "What’s Love Got to Do With It?" (1993).
As atrizes secundárias a disputar-lhe o favoritismo são Jamie Lee Curtis e Stephanie Hsu ("Tudo em Todo..."), Kerry Condon ("Os Espíritos de Inisherin") e Hong Chau ("A Baleia"), ficando de fora Dolly de Leon ("Triângulo da Tristeza") e Jessie Buckley ("A Voz das Mulheres").
Após as vitórias dos últimos dois anos, mulheres ficam de fora entre os realizadores
Após as vitórias consecutivas de Chloé Zhao por "Nomadland" e Jane Campion por "O Poder do Cão", só se ouviram nomes de homens na categoria de Melhor Realização, o que já motivou críticas.
Logo após as nomeações, a organização Women In Film (WIF) lançou um comunicado: "Uma vez mais, os votantes da Academia mostraram que não valorizam as vozes das mulheres, excluindo-nos das nomeações para Melhor Realização. Um prémio da Academia é mais do que uma estatueta dourada, é um acelerador de carreira que pode levar a mais trabalho e aumento de compensação. É por isso que a WIF continuará a defender que seja incluído o trabalho de realizadoras talentosas como Sarah Polley em 'A Voz das Mulheres', Gina Prince-Bythewood em 'A Mulher Rei', Maria Schrader em 'Ela Disse' e Charlotte Wells em 'Aftersun'".
Não obstante as críticas, a categoria também foi feita de renovação, com as estreias aqui de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, conhecidos como os Daniels ("Tudo em Todo..."), Todd Field ("Tár"), Martin McDonagh ("Os Espíritos de Inisherin") e o sueco Ruben Östlund ("Triângulo da Tristeza"): tal como tem acontecido desde 2018, o cada vez mais influente núcleo de votantes internacionais da Academia colocou um representante.
O único repetente é Steven Spielberg, aumentando com "Os Fabelmans" o seu próprio recorde como o primeiro cineasta nomeado em seis décadas diferentes. Além disso, a nova nomeação coloca-o ao lado de Martin Scorsese, ficando ambos a três do recordista, William Wyler (1902-1981).
Note-se que Spielberg, como produtor, também iguala William Wyler ao conseguir 13 nomeações para Melhor Filme. Em contraste, a história da sua infância e descoberta da paixão pelo cinema também valeu-lhe a primeira nomeação da carreira como argumentista, na categoria dos originais, em parceria com Tony Kushner.
O realizador viu ainda o seu colaborador de sempre, o compositor John Williams, aumentar ainda mais o seu recorde como a pessoa viva mais vezes na corrida às estatuetas: recebeu a 53.ª nomeação. Com cinco Óscares e 90 anos, as estatísticas indicam que será o mais nomeado com mais idade numa categoria competitiva na história destes prémios.
Além das realizadoras femininas, ficaram de fora James Cameron ("Avatar: O Caminho da Água"), Joseph Kosinski ("Top Gun: Maverick"), Baz Luhrmann ("Elvis") Edward Berger ("A Oeste Nada de Novo") ou S.S. Rajamouli (pelo fenómeno que tem sido o épico indiano "RRR: Revolta, Rebelião, Revolução").
Animação foi o esperado, mas votantes internacionais da Academia também reservaram surpresas
Na categoria de Melhor Filme Internacional, a surpresa foi a não nomeação de “Decisão de Partir”, de Park Chan-wook, pela Coreia do Sul, e, não tanto, “Bardo, Falsa Crónica de Umas Quantas Verdades”, do triplamente oscarizado Alejandro González Iñárritu, pelo México (apesar de tudo, nomeado a Melhor Fotografia).
Já "Triângulo da Tristeza" não foi proposto pela Suécia nesta categoria pois uma parte substancial é falado em inglês.
Com nove nomeações, o favorito à vitória é “A Oeste Nada de Novo”, pela Alemanha, seguido por “Argentina, 1985”, da Argentina, que conquistou o Globo de Ouro.
A Irlanda consegue pela primeira vez a nomeação ao Óscar nesta categoria com “The Quiet Girl”, de Colm Bairéad, o veterano Jerzy Skolimowski foi responsável por nova nomeação para a Polónia com “EO”, enquanto Lukas Dhont se estreou com “Close”, pela Bélgica.
No campo das longas-metragens de animação, a Netflix parte à frente com duas nomeações, para os muito elogiados “Pinóquio de Guillermo del Toro”, o favorito à vitória, e “O Monstro Marinho”.
A Disney conseguiu colocar apenas um filme na corrida, “Turning Red – Estranhamente Vermelho”, da Pixar, deixando pelo caminho “Buzz Lightyear” e “Estranho Mundo”, enquanto a Universal celebrou a nomeação de “O Gato das Botas: O Último Desejo”.
O quinto filme na corrida é o independente “Marcel the Shell with Shoes On”, da A24, um caso invulgar de sucesso, feito com um micro-orçamento mas tendo conquistado praticamente todos os que o viram.
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Uma cerimónia à procura do brilho perdido
A cerimónia está confirmada para a casa "tradicional", o Dolby Theatre, a 12 de março, com Jimmy Kimmel a regressar pela terceira vez como anfitrião, após 2017 (o ano da famosa confusão de envelopes para Melhor Filme entre "La La Land" e "Moonlight") e 2018.
A celebrar um número importante (a 95.ª cerimónia), a sua missão é conduzir com segurança um evento "descarrilou" com a bofetada de Will Smith a Chris Rock há um ano e recuperar as audiências, que ficaram nos 16,6 milhões de espectadores nos EUA (por comparação, a última cerimónia apresentada por Kimmel chegou aos 26.5 milhões).
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