Um ator algo desconhecido da televisão (teve um papel secundário durante nove anos na famosa "soap" inglesa "EastEnders") foi o escolhido para ser a estrela de "Yesterday", o tal filme de Danny Boyle que inventa um mundo sem os Beatles.
Como um músico que luta pela sobrevivência e se dá conta de que é a única pessoa do mundo que se lembra do famoso grupo de Liverpool, Himesh Patel é a revelação do momento. Ele canta e representa nesta comédia com o toque mágico do argumentista Richard Curtis, o mesmo de "Quatro Casamentos e Um Funeral", "Notting Hill" e "O Amor Acontece".
Fomos a Londres conhecer o novo Patel do cinema inglês.
Qual a relação que tem com a música?
Comecei a tocar piano em criança, foi dos 9 aos 12. Depois, larguei o piano para começar a tocar guitarra, mas a minha mãe não me ofereceu uma guitarra... Acho que ela queria mesmo que eu aprendesse a tocar bem o piano. Mais tarde, comprei uma guitarra elétrica e tornei-me autodidata. Após receber o convite para "Yesterday" comecei a estudar para melhorar – queria ter a certeza que acertava nas notas dos Beatles. Foi duro! São canções que trazem consigo um peso emocional: quis realmente dar o meu melhor.
E era fã dos Beatles?
Fazem parte do meu imaginário. Recordo-me em criança ouvir "Imagine", do John Lennon, a música preferida da minha mãe. Todavia, só algo recentemente é que ouvi o "Seargent Peppers"... Era fã do "White Album", mas não posso dizer que fosse um entendido da banda. Toda a pesquisa que fiz para o filme não deixou de ser um processo de descoberta.
Sem os Beatles estaríamos todos muito mais pobres.
Após a rodagem do filme chegou a pensar fazer alguma desintoxicação dos Beatles? Imagino que conviveu com estas canções diariamente durante meses...
Não! Os Beatles não são mesmo nada tóxicos. Para ser honesto, confesso que continuo a ouvir a música deles. Essa é a magia dos Beatles. Continuo a ouvir Beatles em “repeat”.
Tem alguma pista para explicar a sua escolha para protagonista?
Talvez passe por uma curta que fiz há cinco anos, o "Two Dosas". Sei que o Danny Boyle viu o filme num festival onde era jurado e até o premiou. Foi por causa desse meu desempenho que a equipa dele me chamou para a audição. Fiz duas ou três audições, tal como muitos outros.
Mas já pensou mesmo o que seria um mundo sem os Beatles?
Estaríamos todos muito mais pobres. Além do mais, eles trouxeram para a sua música as mais variadas culturas. Muita gente ouviu o sitar graças à obsessão de George Harrison por aquele instrumento.
VEJA O TRAILER DE "YESTERDAY".
Antes deste filme a sua carreira estava longe de ter toda esta notoriedade. Já alguma vez pensou desistir, tal como a sua personagem?
Tenho que responder que não. Por enquanto, nunca estive nesse ponto, mas pode vir a acontecer... Tenho tido muita sorte na minha carreira. Cheguei a ter um emprego antes de ser ator, mas depois de o largar, felizmente, tudo tem corrido bem. Por outro lado, tenho muitos outros amigos que diariamente tentam sobreviver como atores e não é fácil.
Foi estranho contracenar com Ed Sheeran a fazer de Ed Sheeran?
Ele é a pessoa mais cooperante que já conheci! Por acaso, é uma estrela pop... E foi de uma descontração e generosidade incríveis.
Se os Beatles tivessem começado agora, teriam o mesmo sucesso?
Sim, aquelas músicas têm magia!
O que sente que aprendeu enquanto ator com este primeiro papel de protagonista?
Percebi mais do que nunca que se trata de um processo de colaboração, sobretudo devido ao Danny Boyle. Ele fala sempre no plural e admiro muito isso. Uma pessoa num plateau do Danny acaba por se divertir muito. A sua energia é inacreditável, já para não dizer contagiante. Sentimos que ele está connosco em cada cena, mesmo quando está colado ao monitor a controlar o plano. Depois, de forma cuidadosa e enérgica, dá-nos indicações.
Se este é filme sobre milagres, sou obrigado a perguntar: acredita em milagres?
Sim! Há coisas do arco da velha! Às vezes, para acontecer um milagre baste um detalhe pessoal...Veja o que me aconteceu quando fui chamado para a audição para este filme: estava em Nova Iorque a atuar numa peça e no momento em que me informam que vou viajar até Londres no dia seguinte para falar com o Danny Boyle e o Richard Curtis começo a ouvir no túnel do metro alguém a tocar "I Wanna Hold Your Hand". Pensei: "olha, um sinal!" Mas o mais estranho é que o tipo que estava a a tocar essa canção dos Beatles passa por mim e pisca-me o olho. Senti que era algo como um milagre... E esse homem não era o Paul McCartney disfarçado. Foi um momento estranho. Penso muitas vezes nesse momento...
Será que em Portugal podemos sonhar com um concerto seu como músico, agora que tem este disco das canções dos Beatles?
Não sei, se o álbum se portar particularmente bem nas tabelas talvez, quem sabe? Gostava bastante, nomeadamente se for com a banda.
As comédias românticas vão voltar a ficar na moda?
Sim! As pessoas precisam de otimismo e voltar a acreditar umas nas outras. Creio que o nosso filme é precisamente a celebração disso.
Rui Pedro Tendinha, em Londres
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