O Festival de Cannes já não se vai realizar entre 12 e 23 de maio por causa do coronavírus.
Em comunicado, a organização não anuncia o cancelamento do mais importante festival e mercado de cinema do mundo, indicando que está a ponderar a viabilidade de o realizar entre meados de junho e julho.
"Neste momento de crise global de saúde, pensamos nas vítimas do COVID-19 e expressamos a nossa solidariedade com todos aqueles que estão a combater a doença. Hoje tomámos a seguinte decisão: o Festival de Cannes não pode ser realizado nas datas programadas, de 12 a 23 de maio. Várias opções são consideradas para preservar a sua concretização, sendo a principal um simples adiamento, em Cannes, até ao final de junho-início de julho de 2020", esclarece.
Todos os anos, cerca de 40.000 pessoas são credenciadas para o festival e o mercado de filmes que é organizado paralelamente. Nesta época do ano, a pequena cidade da Côte d'Azur francesa triplica a sua população para 74.000 habitantes.
Apenas por uma vez Cannes teve de cancelar uma edição e foi a meio do evento, em maio de 1968, por causa dos protestos socioeconómicos que agitavam então a sociedade francesa.
Agora, a organização acabou por não esperar até 15 de abril, a data de uma reunião entre os organizadores, a cidade e os serviços estatais para tomar uma decisão final.
Ela acontece numa semana em que a pandemia tem levado a uma rápida degradação da situação social em vários países do mundo e um dos mais atingidos é a França, onde as autoridades têm endurecido as medidas de contenção e prevenção.
"Será muito difícil, para não dizer impossível, selecionar filmes vindos da China, Coreia, Irão, Itália e, sem dúvida, de 50 países, sabendo que os atores e realizadores não poderão visitar o certame. Exibir filmes num auditório de 2000 lugares [o grande auditório Louis-Lumière tem 2300 lugares] não será autorizado e o menor sinal de alerta preocupará os espectadores. E quanto a Spike Lee, presidente do júri? Conhecemos a hipersensibilidade de Hollywood em questões de higiene. Não o vejo a passar 15 dias no meio de uma multidão, cujo estado de saúde não é controlado", sublinhava há poucos dias um responsável do festival não identificado à revista Le Point.
Em reação ao artigo, a organização recomendava que se devia esperar até haver uma decisão oficial.
"Apesar de alguns títulos sensacionalistas, não há novidades do Festival de Cannes. O evento, que será realizado de 12 a 23 de maio, encontra-se a estudar com atenção e clareza o desenvolvimento da situação nacional e internacional com atenção e lucidez, em colaboração próxima com a cidade de Cannes e o CNC. Quando chegar a altura, em meados de abril, será tomada uma decisão conjunta", declarava uma fonte ao site IndieWire.
A 10 de março, o presidente Pierre Lescure salientava ao jornal francês "Le Figaro" que a organização permanecia "razoavelmente otimista na esperança que o pico da epidemia será atingido no final de março e que iremos respirar um pouco melhor em abril", mas não eram "inconscientes" e a edição deste ano seria cancelada se a situação não melhorasse.
A revista especializada Variety também revelou que o festival recusara assinar recentemente um seguro de cancelamento para cobrir epidemias.
"Propuseram cobrir apenas cerca de dois milhões de euros, enquanto o nosso orçamento chega a 32 milhões", esclareceu Pierre Lescure, que acrescentou que o festival tinha um fundo de doações que lhe permitiria enfrentar "pelo menos um ano sem rendimentos".
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