A palavra “complemento” é a mais reforçada pelo diretor do Porto/Post/Doc, Dario Oliveira, para falar sobre a solução que, em 2020, não só colocou boa parte da programação do festival num passe online, como o prolongou por todo o mês.

Apesar de uma grande participação de pessoas a acompanhar o festival pela Internet, a partir de casa, a redução de público, em comparação com a anterior edição, foi de 28%, somando os acessos físicos e virtuais.

Ao mesmo tempo, ficaram “coisas por atingir”, nomeadamente na dimensão para profissionais e para a indústria.

“Não acho que [o digital] seja uma solução a abandonar, de todo, até porque não sabemos o que vai acontecer em novembro de 2021 ou novembro de 2022. É um complemento, e reforço bem que é um complemento, ao festival". E o festival "é um encontro de filmes e pessoas, que deve acontecer de forma física, nas salas de cinema e na cidade”, afirma.

Outra questão levantada por Dario Oliveira, neste contexto, prende-se com as pessoas que puderam aceder ao festival, à distância, “e antes não poderiam”.

“Imagino que pessoas de Braga, Bragança, Faro, Lisboa, Coimbra possam acompanhar sem ter de vir ao Porto. (...) Não queremos deixar de considerar que também podemos levar o festival a essas cidades”, seja pela Internet ou com extensões, refere à Lusa.

Como “nada substitui uma sala de cinema”, até pela partilha entre criadores e público que possibilita, o Porto/Post/Doc trabalha para voltar às salas mais para o final do ano, enquanto o IndieLisboa voltará, segundo planeado, em 29 de abril, 10 dias depois da data apontada para a reabertura das salas de cinema no país.

Em 2020, o certame da capital não colocou parte dos filmes numa versão virtual, mesmo tendo sido adiado para final de agosto, início de setembro, porque “a intenção foi sempre tentar realizar o festival em formato físico”, diz à Lusa Carlos Ramos, da direção do IndieLisboa.

“A experiência de festival só faz sentido fisicamente”, sentencia.

Com “muitas das sessões esgotadas e grande adesão do público”, no final do verão, mesmo sem atividades paralelas, de festas e concertos, e sem a habitual interação que marca o ambiente típico de um festival, o Indie faz um balanço positivo da última edição.

O online entrou, sim, mas nos eventos dedicados à indústria, com menos convidados presenciais e a mostra de trabalhos em primeira mão a programadores internacionais, por criadores portugueses, a decorrer por via telemática.

“Permitiu aumentar bastante o número de programadores internacionais com acesso aos filmes. Normalmente são cerca de 30 que convidamos, neste caso permitiu alargar a cerca de 100, 130 internacionais. (...) Isto para verem os filmes, porque os ‘screenings’ são mais do que isso, o estabelecer relações, beber um copo, conhecer cara a cara...”, analisa.

Nos planos para 2021, de resto, e com o trabalho de programação “praticamente completo”, está o regresso às salas, mesmo em novo ano de limitações de lotação e de outras restrições, até porque o 'plano B', a ter de existir, não será a Internet, mas um novo adiamento.

“A ideia é lutar novamente por fazer uma edição física, mesmo que possa acabar por haver um formato ‘online’ para os eventos de indústria. A parte central das sessões é para acontecer em sala. É lá que queremos as pessoas”, comenta em declarações à Lusa.

No ano passado, o Curtas de Vila do Conde foi forçado a um híbrido entre a sala e o online, uma “solução dupla”, vista como “complementar”, como explica o diretor, Mário Micaelo.

“Não pode deixar de haver festival, não podemos deixar de mostrar as coisas novas, de manter uma relação de quase 30 anos com o nosso público. (...) [O online] justifica-se com lotações reduzidas na sala, circulação de espectadores limitada, menos sessões por dia”, comenta.

Quando o ‘video on demand’ (VOD) não é “ainda parte integrante” da cultura em Portugal, considera, o online vai continuar no festival para 2021, marcado para julho, e está pensado para ter “o essencial” em sala, como as competições, e não no espaço virtual.

“Já há plano, sobre o tipo de conteúdos que colocaremos online, que serão mais além das sessões. Porque um festival não se faz só de sessões de cinema, é um espaço de troca de ideias e experiências”, garante à Lusa, lembrando que, com maiores restrições, poderão ter de repetir a colocação dos filmes.

Também o festival Beast, no Porto, dedicado ao cinema de Leste, teve de recorrer ao ‘online’, depois de ter sido adiado de 2020 para 2021.

Marcado para de 24 de março a 04 de abril, a programação será este ano apresentada online, através da plataforma Filmin, e depois terá “uma edição normal, em abril e junho”, projetando nas salas de cinema do Porto os filmes já mostrados, conta à Lusa o diretor.

“O online será mais forte nos festivais, será mais presente, também porque os distribuidores e produtores já perceberam como isto funciona. (...) A proximidade digital, virtual, ajuda muito. É muito sustentável, também, em vez de ter tantas pessoas a viajar”, conclui Radu Sticlea à Lusa.