A poucos dias do início do Doclisboa, a diretora Cíntia Gil dá pormenores sobre alguns dos pontos altos de uma vasta programação daquele que é um dos mais importantes festivais de cinema documental da Europa mas que não abre com um documentário, mas sim com “Ramiro”, novo trabalho de Manuel Mozos.

A explicação é simples: “Essa separação de género não nos interessa muito. O que nos agrada sobretudo é o modo como os filmes nos aproximam do real e o partilham connosco através de olhares singulares. Há também outros trabalhos no Doclisboa dificilmente classificáveis como documentários”, observa.

Da Terra à Lua

Formatos à parte, um dos destaques é a programação enquadrada sob o rótulo “Da Terra à Lua”, que inclui alguns nomes mediáticos do panorama internacional.

Entre outros destaques, há Laura Poitras a falar de Julian Assange, João Moreira Salles, Wang Bing, Claude Lanzman, e até Barbet Schroder com uma abordagem do budismo em Myammar com “The Venerable W”.

Já a sequela de "Uma Verdade Inconveniente", intitulada "An Inconvenient Sequel: Truth to Power", contará com uma videoconferência com Al Gore.

“Da Terra à Lua é uma secção onde os grandes nomes do cinema de hoje são apresentados, ao lado de outras vozes que nos ajudam a ter uma imagem, uma perspetiva do mundo de hoje. Este ano, de facto a secção está cheia de filmes importantíssimos”, refere Cíntia Gil.

A diretora destaca títulos como o de Boris Yukhananov, vindo do de teatro russo, que trata da famosa final do Campeonato do Mundo de 2006, com Zidane e Materazzi como figuras centrais.

“Chamo a atenção também para os filmes portugueses presentes na secção: Edmundo Cordeiro com Filomena Molder em 'As Cartas de Rimbaud' e Anabela Moreira com uma belíssima curta, 'A Mim'”.

Jean-Luc Godard

Godard é sempre Godard e a secção Riscos apresenta um trabalho seu raríssimo e recentemente restaurado.

"'Grandeur et Décadence d'un petit Commerce de Cinéma' é um filme de Jean-Luc Godard feito para uma série de televisão intitulada 'Série Noire'. Seria eventualmente um 'thriller', mas Godard subverte os géneros, como sempre no seu cinema, e constrói uma parábola e uma crítica sobre o cinema: a história de um realizador que prepara um filme [Jean-Pierre Léaud] e o seu produtor falido. Nunca passou em cinema até este ano, embora nos pareça um filme que tem a sua importância na filmografia do autor”.

Convidadas especiais: Vera Chytilova

O cinema do Leste europeu é sempre mal conhecido em Portugal. Em 2015, o Doclisboa destacou o sérvio Zelimir Zilnik, este ano é a vez de Vera Chytilova, que começou ao lado de Jan Nemec durante a Nova Vaga Checa, na década de 60.

Segundo Cíntia Gil, “embora sejam cinematografias muito distintas, tanto Zilnik como Chytilova viveram a transição do comunismo para a democracia, ambos viram os seus países dividirem-se, foram proibidos de filmar nos períodos políticos mais duros e recusaram abandonar o país; mas tiveram interesses e modos de filmar muito diferentes”.

A diretora do Doclisboa destaca ainda que a cineasta construiu uma obra plena de ambiguidade, com enorme interesse por questões existenciais e pela alma humana: “É uma filmografia muito diversificada, profundamente inconformista. E muito desconhecida cá - à parte de "Daisies" [As Pequenas Margaridas], que teve estreia em Portugal.”

Outra convidada especial: Sharon Lockart

Já o trabalho da outra convidada, Sharon Lockhart, inaugura também uma parceria com o Museu Berardo, numa exposição concebida por Pedro Lapa com a artista.

“Sharon Lockart é das cineastas/artistas que mais tem trabalhado na relação entre o cinema, a fotografia e o espaço expositivo. E os trabalhos que apresentaremos - juntamente com dois filmes na exposição e o seu último projeto na Secção Riscos - centram-se sobretudo num belíssimo trabalho que desenvolveu na Polónia, com jovens, a partir dos seus gestos, vivências, e da sua construção afetiva e identitária”.

Cinema de urgência: Palestina e Venezuela

O cinema de urgência traz projetos sobre dois territórios ligados à tragédia e a complexidade política - a Palestina e a Venezuela. Serão apresentados materiais que darão suporte a debates posteriores à sessão.

No caso da Palestina, convidado será o coletivo israelita B'Tselem: estará em Portugal um membro para conversar sobre a produção de arquivos destas imagens.

“Eles têm desenvolvido um impressionante trabalho de formação de cidadãos para reportarem os eventos nos territórios ocupados, organizando simultaneamente um importante arquivo desses materiais filmados pelas pessoas, do qual apresentaremos alguns filmes”, assinala Cíntia Gil.

Quanto à Venezuela, é Andrés Duque, realizador venezuelano que abriu o Doclisboa em 2016 com "Oleg y las Raras Artes", que partirá dos seus próprios filmes, em particular da sua trilogia sobre a memória, para falar de algumas questões de fundo na sociedade do seu país.

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