"All The Beauty and the Bloodshed" recebeu o Leão de Ouro da 79,ª edição do Festival de Veneza, atribuído pelo júri presidido pela atriz Julianne Moore.

Este sábado ao fim da tarde, o festival de cinema mais antigo do mundo deu o seu prémio máximo a um documentário sobre a fotógrafa e ativista Nan Goldin e a sua luta contra a família Sackler, proprietária da empresa farmacêutica Purdue Pharma, considerada consensualmente a grande responsável pela epidemia de opioides nos EUA.

A longa-metragem, que apresenta a luta da fotógrafa que cumpre 69 anos na segunda-feira, para se livrar da dependência gerada pelos medicamentos que tomou na sequência de um tratamento, e o ativismo que lhe seguiu, ao lado de milhares de outras vítimas, obteve vantagem face aos outros 22 filmes em competição, como "Blonde", de Andrew Dominik, com Ana de Armas no papel de Marilyn Monroe.

O filme é de Laura Poitras, que ganhou com outros realizadores um Óscar de Melhor Documentário com "Citizenfour", sobre Edward Snowden (2014).

Laura Poitras créditos: La Biennale di Venezia

O Leão de Prata - Grande Prémio do Júri foi atribuído a "Saint Omer", de Alice Diop, também conhecida pelos seus documentários, a estrear-se com a dramatização da história verídica do julgamento de uma mãe fraco-senegalesa acusada de infanticídio.

O filme recebeu um segundo prémio, o do Leão do Futuro para primeiras obras na secção paralela Horizontes.

Alice Diop créditos: La Biennale di Venezia

Acompanhado por uma grande ovação, o Prémio Especial do Júri foi para "No Bears", de Jafar Panahi, o dissidente cineasta iraniano detido a 11 de julho para cumprir uma pena decretada em 2010 de seis anos de prisão e 20 anos de proibição de dirigir ou escrever filmes, viajar ou até mesmo falar com a comunicação social, após ser declarado culpado de "propaganda contra o governo" por apoiar o movimento de protesto de 2009 contra a reeleição do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad como presidente da República Islâmica.

Apesar disso, continuou a trabalhar e a viver no Irão: recebeu o Prémio de Melhor Argumento, em Cannes, em 2018, com "Três Faces", três anos depois de ter conquistado o Urso de Ouro, em Berlim, por "Táxi", também conhecido por "Taxi Teerão", dirigido e protagonizado clandestinamente pelo próprio. Em 2010, fora distinguido com o Leão de Ouro por "O Círculo".

Julianne Moore e outros cineastas já tinham mostrado o seu apoio do realizador antes da antestreia de "No Bears", que retrata "duas histórias de amor paralelas em que os parceiros são frustrados por obstáculos ocultos e inevitáveis, a força da superstição e a mecânica do poder".

O prémio foi aceite pelos atores Reza Heydari e Mina Kavani, com o primeiro a dizer durante o discurso "Estamos todos a lutar pelo poder do cinema e estamos aqui por Jafar Panahi". Seguiu-se uma ovação de pé do público na sala.

Na sala de imprensa, o ator revelou que tinha recebido uma mensagem do realizador da prisão a dizer 'Não arranjes problemas por minha causa'.

"Agora não sei como me comportar e o que dizer. No entanto, o que é verdade é que existe uma mensagem no filme, o filme fala por si e diz que um realizador, esteja dentro ou fora de uma prisão, irá sempre conseguir fazer a sua arte", salientou Reza Heydari.

Reza Heydari e Mina Kavani

Como se esperava, Cate Blanchett venceu Taça Volpi para Melhor Atriz pela interpretação em "Tar", história da ascensão e queda de fictícia Lydia Tar, uma das poucas mulheres a chegar à direção da prestigiada Filarmónica de Berlim, cuja carreira acaba ao ser envolvida em denúncias de abuso sexual contra mulheres.

Ao aceitar o prémio, a atriz, que já tinha vencido em 2007 por encarnar o espírito de Bob Dylan em "I'm Not There - Não Estou Aí", e agora sai de Veneza como a grande favorita ao Óscar, dedicou-o ao realizador Todd Field, dizendo que ele estava "ausente dos nos ecrãs há demasiado tempo e estou feliz que estejas de volta" ("Tar" é apenas o terceiro trabalho do cineasta depois dos aclamados "Vidas Privadas", de 2000, e "Pecados Íntimos", de 2006).

Colin Farrell créditos: La Biennale di Venezia

Batendo o favoritismo de Brendan Fraser ("The Whale"), Hugh Jackman ("The Son") e outros, Colin Farrell mostrou-se "chocado" ao aceitar desde Los Angeles o prémio de Melhor Ator com "The Banshees of Inisherin".

A comédia negra sobre o fim trágico de uma amizade na Irlanda ainda com Brendan Gleeson tinha recebido aos maiores aplausos do público de Veneza (13 minutos) e junta o mesmo trio do filme de culto "Em Bruges" (2008): o realizador Martin McDonagh também ganhou o prémio do Argumento, repetindo uma distinção de 2017 com "Três Cartazes à Beira da Estrada".

Para “Bones and All”, a história do romance canibal com Timothée Chalamet, também muito aplaudido pelo público de Veneza, foi o prémio de Realização para Luca Guadagnino, que este dedicou a Jafar Panahi e ainda aos cineastas iranianos também presos Mohammad Rasoulof e Mostafa Aleahmad, e ainda o de Atriz Emergente para a jovem Taylor Russell.

Na secção paralela Horizontes, cujo júri era presidido pela cineasta Isabel Coixet, destaque para "World War III", de Houman Seyidi, também do Irão, distinguido com Melhor Filme e Ator para Mohsen Tanabandeh pela interpretação de um homem traumatizado escolhido para interpretar Hitler num filme sobre a Segunda Guerra Mundial, que dedicou metade do seu prémio à esposa e metade aos "trabalhadores no Irão", que diz estarem a sofrer como a sua personagem.

Na sexta-feira, a organização tinha anunciado que o filme “Lobo e Cão”, da realizadora portuguesa Cláudia Varejão, conquistou o prémio principal da competição paralela do festival “Dias dos Autores”.

O Festival de Cinema de Veneza contou ainda com o filme "A noiva", de Sérgio Tréfaut, na competição da secção "Horizontes", e "O sangue" (1989), primeira longa-metragem de Pedro Costa, em versão restaurada, integrou a Semana da Crítica.

A realizadora portuguesa Ana Rocha de Sousa fez parte do júri do prémio "Luigi de Laurentiis", destinado a primeiras obras.

Foram atribuídos este ano dois prémios de carreira - Leão de Ouro - ao realizador norte-americano Paul Schrader e à atriz francesa Catherine Deneuve.

Esta edição do festival, criado há 90 anos e visto pelos ‘media’ como uma rampa de lançamento para o cinema de Hollywood a caminho dos Óscares, começou a 31 de agosto sem restrições sanitárias por causa da COVID-19.

O certame abriu com "White Noise", de Noah Baumbach, protagonizado por Adam Driver e Greta Gerwig, também em competição, mas que ficou sem qualquer prémio.

Luca Guadagnino créditos: La Biennale di Venezia

LISTA DE PREMIADOS (secções principais)

SECÇÃO OFICIAL

Leão de Ouro: "All The Beauty And The Bloodshed", de Laura Poitras

Leão de Prata - Grande Prémio do Júri: "Saint Omer", de Alice Diop

Leão de Prata para Melhor Realização: Luca Guadagnino por "Bones And All"

Taça Volpi para Melhor Atriz: Cate Blanchett por "Tar"

Taça Volpi para Melhor Ator: Colin Farrell por "The Banshees of Inisherin"

Melhor Argumento: Martin McDonagh por "The Banshees of Inisherin"

Prémio Especial do Júri: "No Bears", de Jafar Panahi

Prémio Marcello Mastroianni para melhor ator ou atriz emergente : Taylor Russell por "Bones And All"

Secção Horizontes

Melhor Filme: "World War III", de Houman Seyidi

Melhor Realização: Tizza Covi e Rainer Frimmel por "Vera"

Prémio Especial do Júri: "Bread and Salt", de Damian Kocur

Melhor Ator: Mohsen Tanabandeh por "World War III"

Melhor Atriz: Vera Gemma por "Vera"

Melhor Argumento: Fernando Guzzoni por "Blanquita"

Melhor Curta-Metragem: "Snow In September", de Lkhagvadulam Purev-Ochir

Leão do Futuro – Prémio “Luigi De Laurentiis” para primeiras obras: "Saint Omer", de Alice Diop

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