O filme "Donzela Guerreira", da realizadora Marta Pessoa, na fronteira entre o documentário e a ficção, sobre literatura, Lisboa e a invisibilidade das mulheres no Estado Novo, estreia-se na quinta-feira nos cinemas.

"Donzela Guerreira" é um filme de época, que convoca fotografias de arquivos e excertos de filmes antigos para contar a história ficcionada de Emília Monforte, escritora, nos anos 1950 em Lisboa.

O filme, com argumento de Rita Palma, conta com um pequeno elenco feminino, encabeçado por Anabela Brígida, no papel dessa escritora, de 36 anos, solteira, que vai relatando a vida em Lisboa, o trabalho para um jornal e a relação com a família.

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À agência Lusa, Marta Pessoa conta que este filme resultou de soma de vários interesses pessoais e de trabalho, de pesquisa sobre o Estado Novo e sobre Lisboa, de leituras da literatura portuguesa no feminino, em particular de Maria Judite de Carvalho e de Irene Lisboa.

Através da história daquela escritora ficcional, Emília Monforte, o filme aborda uma ideia de invisibilidade das mulheres na sociedade portuguesa durante o Estado Novo, e em particular das duas autoras, cuja obra inspirou o argumento.

"No caso das mulheres, elas tinham tido uma possibilidade, uma abertura na Primeira República, e depois houve um trabalho de esmagamento de tirar as mulheres… de as chutar para canto. [Na literatura] há muitos exemplos de mulheres que agora se vai descobrindo, mas que elas já escreviam. E de algumas conhece-se pouca obra, porque também escreviam pouco", contou Marta Pessoa.

Há ainda referência a um poema de "Romanceiro", de Almeida Garrett, do qual é retirado o título do filme, e Marta Pessoa inclui memórias da sua própria família, através de fotografias.

"Eu também sei pouco da história da minha família e também tive que a ficcionar para a pôr no filme", contou.

A realizadora, que conta com várias curtas-metragens e longas documentais, considera que "Donzela Guerreira" é a sua primeira longa-metragem de ficção, embora não estabeleça grandes limites entre géneros.

"Quando se trabalha sobre um arquivo, é impossível pensar apenas em documentário, em História", afirma Marta Pessoa; há também a questão da memória e de toda a ficção que se pode construir a partir do que uma fotografia sugere.

Marta Pessoa, 46 anos, realizadora e produtora cofundadora da Três Vinténs, é autora de, entre outros, "Manual do sentimento doméstico" (2007), "Lisboa domiciliária" (2009) e "Quem vai à guerra" (2011).

"Lisboa Domiciliária" estreia-se na quinta-feira nos cinemas e poderá circular, depois, pelo circuito alternativo, nomeadamente cineclubes.