John Lasseter disse esta terça-feira (21) que vai tirar seis meses de licença depois de admitir num comunicado interno que fez funcionários se sentirem "desrespeitados ou desconfortáveis" com abraços indesejados.

O chefe criativo tanto da Disney como da Pixar, de 60 anos, pediu desculpas a "qualquer um que já tenha recebido um abraço indesejado, ou qualquer outro gesto, que tenha sentido que ultrapassou o limite de alguma forma", refere o texto, encaminhado pela Disney para a agência AFP.

O anúncio da licença surge após uma reportagem do Hollywood Reporter que revelou acusações de má conduta sexual contra Lasseter.

O seu caso é o mais recente de uma série de denúncias de assédio sexual contra figuras poderosas da indústria do entretenimento, incluindo o produtor Harvey Weinstein e o ator Kevin Spacey.

Conhecido por transformar a Pixar de um pequeno departamento de efeitos informáticos da Lucasfilm no estúdio de animação mais bem-sucedido do mundo, Lasseter foi o realizador pioneiro de "Toy Story" e "Toy Story 2".

É um dos mais bem-sucedidos animadores da História e muitos vêem-no como o sucessor do próprio Walt Disney. A ele se deve o resgate da Walt Disney Animation, ao assumir em 2007 a posição de chefe criativo quando a empresa comprou a Pixar, onde trabalhava, supervisionando a produção de ambos os estúdios.

O cineasta, vencedor de dois Óscares e portanto uma das figuras mais poderosas do estúdio Disney, admitiu que estava a "falhar" na defesa de uma cultura de "confiança e respeito" nos seus estúdios de animação.

"Tive recentemente uma série de conversas difíceis que foram muito dolorosas para mim. Nunca é fácil enfrentar os seus erros, mas é a única maneira de aprender com eles", disse.

"Em consequência, tenho pensado muito no líder que sou hoje em comparação com o mentor e defensor que quero ser. Chamaram a minha atenção para o facto de que fiz alguns de vocês se sentirem desrespeitados ou desconfortáveis", afirmou.

John Lasseter reconheceu que os seus funcionários tinham o direito de estabelecer os seus próprios limites e fazê-los serem respeitados, "não importa o quão benigna seja minha intenção".

Acrescentou que concordou com os executivos da Disney em tirar um período sabático de seis meses para "refletir sobre como avançar" e "começar a tratar melhor de mim mesmo".

"Estamos empenhados em manter um ambiente em que todos os funcionários sejam respeitados e tenham as condições para fazer o seu melhor trabalho", disse um porta-voz da Disney num comunicado à AFP.

"Agradecemos a franqueza de John e as desculpas sinceras e apoiamos totalmente o seu período sabático", completou a nota da Disney.

"Padrão de má conduta"

Citando múltiplas fontes não identificadas, o The Hollywood Reporter (THR) descreveu um "padrão de suposta má conduta de John Lasseter detalhado por fontes internas da Disney/Pixar". Alguns dos casos teriam envolvido a atriz Rashida Jones.

O relato - não confirmado pela Disney ou por Lasseter - menciona um empregado de longa data da Pixar, alegando que Lasseter era conhecido por "agarrar, beijar e fazer comentários sobre atributos físicos".

O artigo sustenta que este fez "avanços indesejados" a Jones, levando-a a deixar a produção de "Toy Story 4", em que era argumentista, embora uma fonte do estúdio tenha dito ao THR que a saída se devia a "diferenças criativas".

Jones, entretanto, já veio desmentir o sucedido, sublinhando que a sua saída em nada se deveu a qualquer comportamento de Lasseter e sim ao facto de sentir que o estúdio tem "uma cultura onde as mulheres e as pessoas de cor não têm uma voz criativa em plano de igualdade", sublinhando que "dos 20 filmes na história da companhia, só um foi co-realizado por uma mulher e só um foi realizado por uma pessoa de cor".

Diferentes fontes foram citadas no artigo, afirmando que Lasseter bebia muito em eventos sociais da empresa e que algumas mulheres da Pixar tinham de virar o rosto rapidamente ao encontrá-lo para evitar os seus beijos.

A reportagem também cita uma fonte que fiz que as funcionárias procuravam evitar que este colocasse as mãos nas suas coxas.

Outra fonte contou ao jornal sobre "encontros estranhos" com Lasseter, que gostava de abraçar nas reuniões.

"Dávamos-lhe um abraço e ele sussurrava ao nosso ouvido durante muito tempo", disse a fonte.

"Ele abraçava e abraçava, e todos ficavam a olhar para nós. Apenas a invadir o espaço", concluiu.

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