Após dois anos de COVID-19, o Festival Cinelatino de Toulouse abre as suas portas ao público esta sexta-feira no sul da França com uma comemoração especial: o 20.º aniversário do 'Cine en Construcción', um programa que ajudou a produzir 226 filmes latino-americanos.

Criado em 1989, o festival de Toulouse é um dos mais importantes para o cinema latino-americano na Europa. Doze longas-metragens competem em oito categorias. A cerimónia de prémios acontecerá a 3 de abril.

O 'Cine en Construcción' é um programa particular: em vez de fornecer ajuda para a produção de um filme, concentra-se em subsidiar a etapa final do projeto, quando, por falta de dinheiro, não é possível terminar a montagem, ou conseguir a sua distribuição, etc.

"É um dispositivo que criámos em 2002 com José María Riba, na época jornalista da France-Presse, e que fazia parte da equipa de gestão do festival de San Sebastián", recorda Esther Saint-Dizier, presidente honorária do Cinelatino, em entrevista por telefone com a France-Presse (AFP).

"Foi uma fórmula pioneira que depois foi retomada por inúmeros festivais", explicou a sua organizadora.

O filme argentino "Bolivia" [Israel Adrián Caetano, 1999] chamou a atenção de Riba (falecido em maio de 2020), que o selecionou para o Festival de Cannes, onde também presidiu à Semana da Crítica.

Este foi o início do 'Cine en Construcción', que continua a fazer sucesso no cinema latino-americano: este ano as inscrições no programa aumentaram 30% em relação a 2021.

"Podemos supor que os autores, durante o confinamento, conseguiram fazer filmes", comemora Saint-Dizier.

"Bolivia" será exibido novamente em Toulouse por ocasião deste aniversário, numa cópia restaurada.

Entre os filmes em competição em Toulouse estão "Utama", de Alejandro Loayza Grisi (Grande Prémio do Júri em Sundance), e "Eami", de Paz Encima, Tigre de Ouro no último festival de Roterdão.

Homenagem a Patricio Guzmán

Patricio Guzmán

O Cinelatino também planeia uma retrospetiva e uma homenagem ao documentarista chileno Patricio Guzmán.

Guzmán, de 80 anos, passou meio século a documentar a vida do seu país a partir de uma posição política de esquerda.

Envolvido na montagem do seu próximo filme, ele não poderá estar presente em Toulouse devido a um problema de saúde.

"Uma forte dor lombar", explicou por telefone à AFP.

"Tenho mais ou menos 16 longas, vários curtas... O meu tema sempre foi a América Latina e estou satisfeito. Esta retrospetiva é, sem dúvida, um passo em frente", disse.

A sua última criação, "A Cordilheira dos Sonhos", foi premiada com um Goya de Melhor Filme Ibero-americano na gala do cinema espanhol a 13 de fevereiro. E já está a pensar num próximo projeto.

"Como documentarista, estou habituado a trabalhar constantemente. É preciso continuar, entregando o melhor", acrescentou.

Diretor de documentários como "A Batalha do Chile", sobre o golpe de Estado de 1973, Guzmán recebeu prémios de prestígio, incluindo o Urso de Prata no Festival de Berlim (2015) e o Grande Premio da Europa (2010).

Guzmán participará por videoconferência na abertura do festival e num debate sobre a sua obra.

Outro realizador latino-americano homenageado será o argentino Matías Piñeiro, autor de obras como "Todos mentem" (2009). Sete dos seus filmes serão exibidos durante o festival.