João Canijo venceu o Urso de Prata Prémio do Júri no Festival de Berlim com "Mal Viver". O cineasta português estava pela primeira vez na competição deste festival, e logo com duas longas-metragens interligadas, que tiveram estreia em secções distintas: a premiada "Mal Viver"  na competição oficial e "Viver Mal" na secção Encontros, dedicada a "novas visões cinematográficas".

Canijo agradeceu aos produtores e à equipa, que sublinhou ser composta quase integralmente por mulheres, reservando um agradecimento especial à sua "alma gémea e companheira artística" Leonor Teles, que no filme assumiu a direcção de fotografia e que, enquanto realizadora, em 2016 já arrebatara o Urso de Ouro de Melhor Curta-Metragem com "Balada para Um Batráquio". Para terminar, agradeceu ainda "às mulheres que me deram a sua vida para este filme, as atrizes, que são maravilhosas e deram-me a sua vida"

O júri da competição internacional da Berlinale deste ano foi presidido pela atriz norte-americana Kristen Stewart e composto pela atriz iraniana Golshifteh Farahani, pela realizadora alemã Valeska Grisebach, pelo romeno Radu Jude, pela diretora de 'casting' norte-americana Francine Maisler, pela realizadora espanhola Carla Simón e pelo realizador de Hong Kong Johnnie To.

"Mal Viver" “é a história de uma família de várias mulheres de diferentes gerações, que arrastam uma vida dilacerada pelo ressentimento e o rancor, que a chegada inesperada de uma neta vem abalar, no tempo de um fim de semana", lê-se na sinopse. "Viver Mal" segue em paralelo àquela história, focando-se nos hóspedes que passam pelo hotel. O elenco conta com Rita Blanco, Anabela Moreira, Madalena Almeida, Cleia Almeida, Vera Barreto, Filipa Areosa, Leonor Silveira, Nuno Lopes, Rafael Morais, Lia Carvalho, Beatriz Batarda, Leonor Vasconcelos e Carolina Amaral.

A produtora Midas Filmes descreve os filmes como “um dos mais ambiciosos empreendimentos artísticos dos anos mais recentes” no percurso de João Canijo. Ambos se estreiam nos cinemas portugueses a 11 de maio.

João Canijo já tinha estado presente noutros festivais de cinema de relevo, como Cannes, com “Noite Escura” (2004), Veneza, com “Mal Nascida” (2007) e San Sebastian, onde venceu dois prémios com “Sangue do meu Sangue” (2011).

O restante palmarés

O Urso de Ouro do Festival de Berlim, prémio máximo do certame, foi para o único documentário na competição principal, o franco-japonês "Sur l'Adamant", sobre uma singular estrutura flutuante no Sena, em pleno coração de Paris, que é na verdade um centro de dia para pessoas com perturbações mentais. O realizador é o francês Nicolas Philibert, que em 2002 assinou o documentário de grande sucesso "Ser e Ter".

O aclamado realizador alemão Christian Petzold, que em 2012 ganhara o Urso de Prata para Melhor Realização por "Barbara", arrebatou agora o Urso de Prata Grande Prémio do Júri com "Afire", que se foca no que sucede quando quatro pessoas são apanhadas por um fogo florestal numa casa de férias no Báltico.

O veterano Philippe Garrel, de 74 anos, arrebatou o troféu de Melhor Realização para "Le Grand Chariot", sobre as tentativas de uma família em manter ativa uma companhia de teatro de marionetas. No sentido inverso, o júri premiou Sofía Otero, de apenas nove anos, com o Urso de Prata de Melhor Interpretação por "20.000 Especies de Abejas", de Estibaliz Urresola Solaguren, pelo papel de uma menina trans de oito anos que vai visitar a família materna ao País Basco.

Além de "Mal Viver" e "Viver Mal", a Berlinale exibiu "Cidade Rabat", de Susana Nobre, descrito como “uma comédia melancólica sobre o luto”. A protagonista é Helena (interpretada por Raquel Castro), uma jovem adulta que tenta manter o rumo da sua vida, a relação com a filha adolescente e as rotinas do trabalho, depois da morte da mãe.

Berlim contou ainda com duas coproduções portuguesas: Os filmes "Last Things", de Deborah Stratman (coprodução com EUA e França) e “AI: African Intelligence”, de Manthia Diawara, numa parceria entre Portugal, Senegal e Bélgica.

Lista de premiados

PRÉMIOS DO JÚRI INTERNACIONAL

Urso de Ouro
"Sur l’Adamant"- Nicolas Philibert (França, Japão)

Urso de Prata Grande Prémio do Júri
Christan Petzold - "Afire" (Alemanha)

Urso de Prata Prémio do Júri
João Canijo - "Mal Viver" (Portugal)

Urso de Prata Melhor Realização
Philippe Garrel - "Le Grand Chariot" (França)

Urso de Prata para Melhor Interpretação
Sofía Otero - "20.000 Especies de Abejas" (Espanha)

Urso de Prata para Melhor Interpretação Secundária
Thea Ehrlich - "Till the End of the Night" (Alemanha)

Urso de Prata Melhor Argumento
"Music" - Angela Schanelec (Alemanha, França, Sérvia)

Urso de Prata Contribuição Artística
"Disco Boy" - Direcção de Fotografia de Hélène Louvart (França, Itália, Polónia, Bélgica)

SECÇÃO ENCONTROS

MELHOR FILME
"Here" - Bas Devos (Bélgica)

MELHOR REALIZAÇÃO
Tatiana Huezo - "The Echo" (México/Alemanha)

PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI (ex-aequo)
"Orlando, My Political Biography" - Paul B Preciado (França)

"Samsara" - Luis Patiño (Espanha)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
"The Echo" - Tatiana Huezo (México/Alemanha)
Menção Especial
"Orlando, My Political Biography" - Paul B Preciado (França)

MELHOR PRIMEIRO FILME
"The Klezmer Project" - Leandro Koch, Paloma Schachmann (Argentina/Áustria)
Menção Especial
"The Bride" – Myriam U Birara (Ruanda)

JÚRI INTERNACIONAL CURTAS-METRAGENS

Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem
"Les Chenilles" - Michelle Keserwany, Noel Keserwany (França)

Urso de Prata
"Dipped in Black" - Matthew Thorne, Derik Lynch (Austrália)

Menção Honrosa
"It’s a Date" - Nadia Parfan (Ucrânia)

Curta-Metragem candidata aos Prémios do Cinema Europeu
"Les Chenilles" - Michelle Keserwany, Noel Keserwany (França)