O Festival Family Film Project decorre entre 15 e 20 de outubro na Sala Passos Manuel, no Porto, e tem como convidados teórico na área do cinema Bill Nichols, a socióloga e historiadora Paula Rabinowitz e o artista Daniel Blaufuks.

A diretora do festival, Né Barros, detalhou para o SAPO Mag o conceito e alguns destaques da programação.

O festival arranca para a sétima edição. O que pode dizer sobre o conceito do festival, a escolha do nome e a trajetória até aqui?

O festival nasceu pela necessidade de se criar um momento especial de reflexão sobre questões do arquivo, da memória e do etnográfico. Em 2012 não existia nenhum festival cujo foco fossem estas questões específicas. Não se tratava, por isso, do tema família enquanto instituição, modelo ou qualquer estereótipo, mas de um festival que pudesse concentrar abordagens múltiplas e alternativas de questionar o familiar, a intimidade ou o privado através da Imagem e de formas criativas. Tem sido nestas linhas de interesse que, para além do festival em si com exibições de filmes provenientes de todo o mundo, temos vindo a editar livros e a realizar encontros em parceria com o grupo de investigação Estética, Política e Conhecimento do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto.

O festival também abrange um leque variado de atividades – não se prendendo apenas ao cinema. Há instalações, música, “masterclasses”…

Desde o início do projeto que quisemos criar um evento com abordagens múltiplas ao arquivo, à memória, ao caseiro, ao “home-movie”, aos limites entre público e privado, ou àquilo que é domínio do comum. Neste sentido, foi-se percebendo que o formato do festival deveria estar entre a investigação, a ação performativa, a instalação e a imagem em movimento. Acreditamos que, através deste conjunto de eventos, o público possa aceder a uma maior diversidade de perspetivas e posições. Este ano, o ciclo de performances chama-se "Private Collection", que deverá prosseguir para as próximas edições uma vez que abre um espaço muito abrangente de exploração criativa.

Entre alguns destaques da programação estão o filme de abertura, “A Grande Nuvem Cinza”, vencedor da competição do ano passado, e o projeto português "Marias da Sé"…

O filme “A Grande Nuvem Cinza”, premiado com o Grande Prémio do Júri em 2017, é uma longa-metragem documental do realizador brasileiro Marcelo Munhoz e acompanha os ritmos do trabalho rural numa pequena cidade no sul do Brasil, focando-se em algumas famílias ligadas ao cultivo do tabaco. Com um estilo observacional, o filme é de uma enorme sensibilidade, cruzando a dimensão humana e os testemunhos das personagens com uma dimensão quase transcendente da paisagem e da contemplação.

A longa-metragem “Marias da Sé”, de Filipe Martins, é essencialmente um filme de não-atores, protagonizado pela Comunidade da Sé e do Centro Histórico do Porto. São dezenas as personagens reais que dão vida à narrativa do filme, desde as comerciantes do Mercado de S. Sebastião, passando pelas clientes do Café da Dona Odete, até ao grupo do Teatro Amador de S. Nicolau. O eixo principal acabou por focar-se num grupo muito especial de mulheres que se juntam quase diariamente para jogar cartas numa das lojas tradicionais no coração da Sé. É esta irmandade de mulheres que mais intimamente nos coloca em contacto com a riqueza humana deste lugar. O filme conta ainda com a participação especial de alguns atores profissionais: Carla Bolito, João Reis e Lígia Roque aparecem em situações pontuais de interação com a comunidade local, alimentando uma componente mais ficcional.

O festival conta a participação de alguns convidados internacionais, como Bill Nichols e Paula Rabinowitz…

O norte-americano Bill Nichols é um dos mais importantes teóricos contemporâneos do cinema, sendo a sua obra também muito conhecida e divulgada no circuito académico português, sobretudo na área do cinema documental. Na sua “masterclass”, inserida na programação do Family Film Project, Bill Nichols propõe uma análise das partes iniciais dos filmes documentais e o modo como condicionam a orientação e o desfecho das respetivas obras cinematográficas.

Paula Rabinowitz, também norte-americana, é socióloga e historiadora, teorizando igualmente sobre o cinema e a fotografia. Na sua “masterclass” “Cold War Dads” ela irá servir-se de dois casos biográficos do seu próprio seio familiar para uma análise da construção identitária no pós-guerra. Num outro momento do festival, Rabinowitz fará também uma introdução à obra do artista convidado desta edição, Daniel Blaufuks, seguindo-se uma conversa com o autor e com o público.

A programação completa pode ser consultada aqui.

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