O cinema do realizadora francesa Sarah Maldoror será exibido numa retrospetiva no IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema, que decorrerá de 29 de abril a 9 de maio.

De acordo com o festival, a retrospetiva será feita em parceria com a Cinemateca Portuguesa e num contexto quase integral, sendo que alguns dos seus filmes permanecem ainda por localizar.

A sua filha Annouchka de Andrade estará em Lisboa durante o festival para acompanhar a retrospectiva, que incluirá filmes totalmente inéditos, cujo paradeiro foi recentemente descoberto.

Será ainda feita uma contextualização da sua obra em colaboração com outros autores, como Gillo Pontecorvo, Chris Marker ou William Klein.

"Uma retrospetiva plena de revolução e de esperança, um olhar sobre uma cineasta que precisa de se encontrar com o público português", destaca o comunicado do IndieLisboa.

créditos: https://jornalcultura.sapo.ao

Falecida em abril de 2020, aos 90 anos, Sarah Maldoror deixou um legado de filmes que refletem as questões que atravessaram toda a sua vida e pensamento: das guerras coloniais (Monangambé, Sambizanga) ao movimento da negritude (Aimé Césaire, Léon-Gontran Damas, Toto Bissainthe), passando pelos retratos de artistas que influenciaram a sua criação (Ana Mercedes Hoyos, Vlady, Miró).

Filha de pai antilhano e mãe francesa, Sarah Ducados nasceu em 1929 em França. Maldoror foi o apelido que escolheu enquanto artista, em homenagem ao poeta surrealista Lautréamont, autor dos “Cantos de Maldoror”.

A carreira de Sarah Maldoror começou pelo teatro, tendo fundado, em 1956, a Les Griots, “primeira companhia composta por atores africanos e afro-caribenhos, para pôr fim aos papéis de serva e tornar conhecidos artistas e escritores negros”, recordaram as filhas aquando do seu falecimento.

O primeiro filme de Sarah Maldoror, a curta-metragem “Monangambé”, data de 1959, e era uma adaptação do conto “O Fato Completo de Lucas Matesso”, de José Luandino Vieira.

Mais tarde, em 1972, seria “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”, de Luandino Vieira, a inspirar a longa-metragem “Sambizanga”, “uma das maiores obras do cinema africano, que reconfirma a reputação [da cineasta] de artista engajada”.

Filmada no Congo, "Sambizanga" abordava a guerra colonial portuguesa, desde o início, em Angola, e teve como coargumentista o sociólogo e poeta Mário Pinto de Andrade, fundador e primeiro presidente do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), e companheiro da cineasta.

O filme falava de uma mulher que procura o marido, preso pela polícia política, e toma o nome do bairro operário Sambizanga, de Luanda, no qual se localizava a prisão do regime colonial, cujo assalto, em 1961, desencadeia a luta armada pela independência, contra a ditadura.

Com esta obra, Sarah Maldoror "abriu caminho para que fosse mostrada a guerra de libertação de Angola pela perspetiva da mulher", escreveu a investigadora norte-americana Beti Ellerson, fundadora do Centre for the Study and Research of African Women in Cinema.

A formação de Sarah Maldoror em cinema foi feita em Moscovo, para onde se tinha mudado em 1961, para frequentar a Academia de Cinema de Moscovo, com bolsas concedidas na Guiné Conacri, tendo trabalhado com o cineasta senegalês Ousmane Sembène, precursor do cinema africano.

O cinema de Sarah Maldoror teve por palco a Guiné-Bissau e o Sahel, a Ilha do Fogo, em Cabo Verde, a Tunísia, o Senegal, abordando o racismo, questões de género, o papel da mulher na luta pela libertação e o património cultural africano.

A sua cinematografia inclui documentários como "Máscara das Palavras", dedicado ao poeta Aimé Césaire, e ao líder senegalês Leopold Senghor, poeta da negritude e membro da Academia Francesa.

O festival irá atualizando informações em www.indielisboa.com