O filme "Colo", de Teresa Villaverde, estreia-se esta quarta-feira no Festival de Berlim, tendo a realizadora contado à Lusa que escreveu, produziu e realizou esta obra, num contexto português de baixos orçamentos, mas com uma "total liberdade artística".

O filme, cuja estreia mundial no festival vai contar com a presença do ministro da Cultura, na assistência, é exibido no contexto da maior participação de sempre do cinema português naquele evento, com quatro curtas-metragens a competir pelo Urso de Ouro e outras produções e coproduções noutros programas.

"O facto de estarem tantos filmes em Berlim e ser uma coisa recorrente [com o cinema português] é uma coisa raríssima [noutras cinematografias]. (...) É inquietante que as pessoas não tenham essa ideia, mas é extraordinário que isso aconteça", elogiou a realizadora.

Por outro lado, a estreia em Berlim acontece numa altura de protesto no cinema português, com um grupo de produtores e realizadores, incluindo Teresa Villaverde, a contestar uma alteração legislativa sobre escolha de júris dos concursos de apoio e sobre a atuação do Instituto do Cinema e Audiovisual.

Sobre a qualidade e a visibilidade internacional do cinema português, Teresa Villaverde disse à Lusa que tem a ver com a liberdade artística dos realizadores: "Em Portugal, não é bom ter pouco dinheiro, mas é fantástico e fundamental ter a liberdade que continuamos a ter".

"Temos constrangimentos de orçamento, trabalhamos com muito menos dinheiro do que a maioria dos países europeus, mas, ao mesmo tempo, não temos essa pressão que existe por exemplo, noutros países, das televisões e privados, que investem muito dinheiro e querem o dinheiro de volta, [e] acaba por haver uma normalização dos filmes", opinou.

Mais de 20 anos depois de ter estado em Berlim com o primeiro filme, "A Idade Maior", Teresa Villaverde regressa ao festival com uma obra que espelha, ainda que indiretamente, a crise financeira e os efeitos que teve na vida das pessoas.

"Apesar de este filme não ser sobre a situação portuguesa, inclui também isso e tudo o que eu senti que se passou nestes últimos anos", contou a realizadora à Lusa.

No filme está representada uma geração - a da própria realizadora - "que não estava preparada para que lhe acontecesse uma coisa deste tamanho; é a geração em Portugal que era criança no 25 de Abril; foi sempre tudo melhorando e sentia que o seu futuro estava garantido".

Nesta ficção, que se centra numa família de classe média a desmoronar-se, com uma filha adolescente, um pai desempregado e uma mãe que se divide por vários empregos, participam os atores João Pedro Vaz e Beatriz Batarda, e os atores não profissionais Alice Albergaria Borges, Tomás Gomes e Clara Jost.

Em Berlim, "Colo" repete a exibição na quinta-feira, no sábado e no domingo, último dia do festival.