O filme foi recentemente alvo de uma intervenção digital nos laboratórios da Cinemateca Portuguesa, e é agora selecionado para o festival Tout La Memoire Du Monde, um evento organizado pela Cinemateca Francesa destinado a "celebrar o património cinematográfico" de filmes restaurados.
Existem duas versões deste filme de Manoel de Oliveira, que acompanha o ciclo de produção do pão e que foi feito para a Federação Nacional de Industriais de Moagem: uma versão longa, de 1959 e com cerca de uma hora, e uma versão curta, de 1963 com uma nova montagem feita pelo autor.
Em Paris, será exibida a versão longa do documentário, a que foi restaurada digitalmente.
Segundo a Cinema Portuguesa, citando uma entrevista antiga do cineasta, Manoel de Oliveira preferia a versão remontada do filme, por considerar que o documentário inicial era exagerado.
"Quando fiz 'O Pão' eu estava sedento de cinema. Queria abordar todos os meios, todos os sítios. Essa sede de cinema levou-me a mostrar e a misturar muita coisa", quando a ideia central do filme é "a ideia do pão como uma corrente de um rio que passa por vários lugares, passa por diferentes mãos, por diferentes hábitos ou fardas", lê-se na entrevista citada pela Cinemateca.
Em 1959, Manoel de Oliveira tinha 50 anos, vários projetos por concretizar e acabara de fazer um estágio nos laboratórios da AGFA, na Alemanha, para estudar a cor no cinema.
Aplicaria essa formação no documentário "O pintor e a cidade", de 1955, e depois em "O Pão", em 1959.
Na altura, Manoel de Oliveira tinha apenas uma longa-metragem de ficção, "Aniki Bobó", de 1942, e vários filmes documentais. Só a partir da década de 1960 é que manteve uma produção mais regular na criação cinematográfica, que se intensificou nos anos 1980 e segintes, até morrer, em 2015.
O festival Tout La Memoire Du Monde decorrerá de 13 a 17 de março, em Paris, com uma centena de filmes.
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