Disponível em Portugal desde 2016, a Filmin é uma plataforma de cinema que se distingue pelo cuidado e toque pessoal na apresentação em canais e coleções temáticas dos seus filmes, seja dos grandes estúdios de Hollywood ou do circuito independente e de autor, europeu, americano ou asiático.
Austin Butler como Elvis Presley, Ana de Armas como Marilyn Monroe e Michelle Williams como a mãe de Steven Spielberg estão na corrida aos Óscares de 12 de março, podendo ter o mesmo sucesso que tiveram no ano passado Will Smith depois de interpretar o pai das irmãs Williams em "King Richard" e Jessica Chastain como Tammy Faye: ganhar a estatueta dourada.
Não há nada melhor do que interpretar uma pessoa real, mas as lentes do cinema registaram outros filmes que seguiram caminhos com menos "brilho de Hollywood", quase todos nem sequer nomeados pela Academia. Escolhemos cinco disponíveis na Filmin que retrataram de forma pouco convencional e memorável cinco grandes nomes da cultura.
José e Pilar (2010)
Estreado nos cinemas portugueses em novembro de 2010, cinco meses após a morte de José Saramago, com assinalável sucesso para o género (mais de 20 mil espectadores), "José e Pilar" é um documentário não só celebrado por olhar para a vida de um dos grandes criadores do século XX, cujo centenário do nascimento se assinalou no ano passado, mas por revelar ao mundo um lado íntimo da relação de um casal que muitos não conheciam.
O realizador Miguel Gonçalves Mendes, já elogiado pelo seu documentário de 2004 sobre o poeta e pintor surrealista Mário Cesariny em "Autografia", teve, de forma intermitente entre 2006 e 2009, acesso privilegiado ao Nobel da Literatura de 1998, entre o dia-a-dia em Lanzarote e Lisboa, em casa e em constantes viagens de trabalho por todo o mundo, acompanhando o processo criativo da escrita e lançamento do romance "A Viagem do Elefante".
Em contraste com a personalidade arrogante incendiária que alguns lhe atribuíam, o escritor falava dos medos e dilemas sobre a velhice e a morte, das certezas sobre Deus e a religião, do cansaço das viagens, dos leitores e do mundo, em pouco mais de duas horas filtradas de 240 de filmagens. Mas o tema principal era a história de amor entre um sentimental e melancólico José Saramago e uma determinada e veemente Pilar del Rio, revelando uma relação de profunda cumplicidade e dedicação entre um casal empenhado em mudar o mundo – ou, pelo menos, em torná-lo melhor.
Candidato de Portugal em 2011 a uma nomeação ao então conhecido como o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e co-produzido pelas produtoras dos cineastas Fernando Meirelles e Pedro Almodóvar, o documentário também se distinguiu por uma invulgar banda sonora original com nomes como Camané, Adriana Calcanhoto, Noiserv, Luís Cilia, Pedro Gonçalves (Dead Combo) ou Pedro Granato.
A Paixão de Van Gogh (2017)
Primeira longa-metragem de animação do mundo totalmente pintada a óleo, "A Paixão de Van Gogh" foi uma das maiores e mais originais surpresas do cinema de 2017. Com um modesto orçamento de 5,5 milhões de dólares, esta co-produção entre o Reino Unido e Polónia meteu-se na corrida ao Óscar de uma categoria normalmente dominada pelas produções americanas de orçamento elevado da Disney e Pixar, que perdeu, sem surpresa, para o fenómeno popular que era "Coco"...
O filme baseia-se num argumento original do escritor polaco Jacek Dehen e coloca em cena o filho de Joseph Roulin, o carteiro de Arles (sul da França) que Van Gogh pintou várias vezes e com quem estreitou amizade, que duvidando da hipótese do suicídio, o envia para entregar a última carta que o artista havia dirigido ao irmão, Theo, e realizar a sua própria investigação. Ainda que resignado, Armand parte para cumprir a missão e depois de descobrir que o irmão morreu pouco depois de Vincent, começa uma série de entrevistas com várias personagens que privaram com o mestre holandês.
Esta história da vida, investigação e reconstruções dramáticas dos eventos que conduziram à controversa morte é contada através de pinturas que misturam as famosas obras de Van Gogh (120, incluindo "Pontes através do Sena em Asnières" ou "Noite estrelada"), com as que foram criadas a partir das cenas que os realizadores (e casal) Dorota Kobiela e Hugh Welchman filmaram com atores: Robert Gulaczyk como Vincent van Gogh, Douglas Booth como Armand Roulin, Jerome Flynn como Paul Gachet, e Saoirse Ronan como Marguerite Gachet.
Foi um enorme desafio que juntou a contribuição de 125 pintores de todo o mundo, que produziram cerca de 65 mil planos... que foram 65 mil quadros em pintura a óleo, com cada segundo a precisar em média de 12 quadros. Um gigantesco trabalho à média de um quarto de segundo por dia de um filme onde os realizadores trabalharam durante sete anos. Correspondendo todos ao que o próprio Gogh escreveu numa das suas últimas cartas: "Bem, a verdade é que não conseguimos expressar-nos senão através dos nossos quadros"...
Control (2007)
Depois de uma carreira como fotógrafo e a seguir como realizador durante anos de alguns dos videoclips mais icónicos dos Depeche Mode, U2, Echo & the Bunnymen, Anton Corbijn fez uma estreia auspiciosa nas longas metragens com um 'biopic' rodado a preto e branco que manteve a ligação à música e acompanha de forma pouco convencional a vida do vocalista dos Joy Division (outro dos grupos com quem o holandês colaborou).
Apesar do talento do realizador (continua a ser o seu trabalho mais elogiado), dos desempenhos de Samantha Morton e Alexandra Maria Lara, da banda sonora dos New Order e das músicas originais dos anos 70 dos Joy Division, o sucesso de "Control" deve muito ao desempenho notável de Sam Riley ("24 Hour Party People") como o carismático Ian Curtis, mergulhando-nos numa vida caótica em que descobrimos a mulher, a amante, a batalha contra a epilepsia e o caminho para a fama, antes dos demónios pessoais, profissionais e sentimentais o levarem ao suicídio aos 23 anos.
Pasolini (2014)
Autor de filmes como "O Rei de Nova Iorque", "O Polícia sem Lei", "Os Viciosos", "O Funeral" ou "Maria Madalena", Abel Ferrara retrata com o seu ator de eleição Willem Dafoe o último dia do grande poeta e cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, assassinado na noite de 2 de novembro de 1975, três semanas antes da estreia de "Salò ou Os 120 Dias de Sodoma", que chocaria e o tornaria uma figura ainda mais polarizadora na sociedade italiana (se isso ainda era possível para um cineasta rodeado por escritos escandalosos e filmes perseguidos pela censura).
Ferrara reimagina as últimas horas da vida de 53 anos, com a sua amada mãe e com os amigos mais próximos, antes de sair para a noite no seu Alfa Romeo em busca de aventura na cidade eterna, antes de ser encontrado morto numa praia em Ostia nos arredores de Roma pela madrugada.
Além de Riccardo Scamarcio, Ninetto Davoli ou Maria de Medeiros, vale a pena destacar a presença no elenco de Adriana Asti, que entrou em "Accattone", a fulgurante estreia de Pasolini como realizador e argumentista em 1961. Da prostituta Amore à mãe de Pasolini, uma "provocação" de Ferrara que o cineasta italiano certamente apreciaria.
Maria By Callas (2017)
Maria Callas, que mudou a forma como se interpreta ópera e é consensualmente considerada a maior cantora de ópera do mundo, também adotou um papel de tragédia na sua vida, que teve tanto de bela como de tumultuosa até à morte em Paris a 16 de setembro de 1977, aos 53 anos.
Mais de 40 anos mais tarde, este documentário musical de Tom Volf, a própria "regressa" para contar a sua história através das suas próprias palavras, a partir de filmagens inéditas, fotografias nunca vistas, filmes pessoais em super 8, gravações ao vivo privadas, cartas íntimas e raras imagens de arquivo a cores.
Um filme de visionamento obrigatório para Angelina Jolie, que se prepara para ser a protagonista de um filme sobre a vida da "la divina" do realizador chileno Pablo Larraín, que assinou "biopics" pouco convencionais sobre a antiga Primeira-Dama dos EUA Jacqueline Kennedy e a Princesa Diana, respetivamente em "Jackie", com Natalie Portman, e "Spencer", com Kristen Stewart.
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